Ouço e leio as pessoas referirem-se umas às outras como ativistas em alguns círculos. E nem as militantes mortas estão a salvo: a militante Maria Lamas, por exemplo, também foi “ativista”, isto a fazer fé na desmemoriada introdução da importante reedição de As mulheres do meu do país pelo Público.
De onde veio esta moda? Veio do mundo anglo-saxónico, creio, o que raramente augura algo de bom nas áreas da ação coletiva.
As palavras são importantes. Não simpatizo com esta moda, incapaz, e não creio que seja apenas por disposição conservadora, de afastar associações: dispersão, fragmentação, desorganização ou aversão ao poder.
Prefiro uma palavra antiga – militante – e que nem tem de estar associada apenas à necessária forma partido, sendo indissociável da palavra camarada, palavras escalpelizadas e defendidas, olhem, pela norte-americana Jodi Dean, por exemplo. Onde falta organização, sente-se mais.
“E se há um camarada à tua espera, não faltes ao encontro e sê constante”, cantava Zeca Afonso: um militante persevera, procura estar preparado, sabe que as suas prioridades têm de ser disciplinadamente articuladas com as de muitos outros, num todo que é maior do que a soma das partes. A política militante organiza, procura alcançar multidões, procura homogeneizar e criar clivagem, alcançar a hegemonia.
Gosto de pensar que este blogue é, à sua maneira, militante, mas sei que tal é praticamente impossível nas redes sociais, desenhadas para alimentar ativismos cada vez mais microscópicos, até se chegar ao eu politicamente impotente. Talvez isto também ajude a explicar a vulgarização da palavra ativista?
Não estou certo nem seguro que as redes sociais não possam servir para o encontro entre pessoas que perspectivam e desenham o progresso, a maior fragilidade das rede sociais é nelas o espaço publico ser privado, é exigível uma rede social realmente publica para ampliar a ação e a própria democracia. O ativismo da atualidade tende a ser superficial e superlativo, é a construção do mundo em função do eu e do agora, parece haver um relação entre o ativismo contemporâneo e o declínio dos partidos políticos. Os partidos deixaram de ser progressistas, deixaram de conceber o que não existe, e aqui também a militância perde significado, a falta de horizontalidade mina a confiança, só existe companheirismo quando não se compete e nem se compara.
ResponderEliminarO falta de verticalidade mina a confiança. O militante tem nome, o activista de rede social não tem. Os partidos progressistas têm camaradas, os situacionistas têm "companheiros"
Eliminar