sábado, 12 de agosto de 2023

Livros de ladrões - do endividamento à habitação

Depois do trio de livros de Ricardo Paes Mamede, a série continua, agora com um quarteto de livros de Ana Cordeiro Santos.


Em 2015, este livro deu conta das razões para o brutal aumento do endividamento das famílias portuguesas nas últimas décadas, na esmagadora maioria dos casos para aquisição de habitação própria, inscrevendo este processo institucional num fenómeno mais geral: no sentido de internacional, comum aos países capitalistas desenvolvidos, e no sentido da crescente imbricação de vários actores da economia com a finança, sendo que esta tem peculiaridades nacionais. Está tudo nos balanços insuflados. 


Em 2016, este livro identificou algumas das especificidades nacionais do fenómeno da financeirização do capitalismo em Portugal, considerando que este é indissociável da europeização da economia política, culminando no euro. Daí à desfinanceirização, implicando uma ruptura de fundo, é só um passo que demos na proposta.


Em 2019, este livro, com um título inspirado no clássico de Friedrich Engels, fixou coletivamente os principais contornos de um sistema de provisão crucial e que muitos julgavam politicamente resolvido por via de políticas neoliberais. Estavam errados.


Finalmente, em 2021, Ana Cordeiro Santos e Nuno Teles coordenam esta obra em inglês, que conta com a participação de outros bicycle thieves, assinalando a capacidade de dar a ver criticamente esta periferia, contribuindo para uma literatura de economia política internacional em franco crescimento. 

Para quem queira ler artigos, e para lá dos publicados em revistas académicas internacionais ou no Le Monde diplomatique - edição portuguesa, assinalo dois em português, publicados na Análise Social, sobre a lógica neoliberal subjacente à promoção da literacia financeira e sobre as dinâmicas financeirizadas da habitação em Lisboa e no Porto. 

Ana Cordeiro Santos, independentemente das audiências, tem sempre a mesma escrita clara e depurada, traço que, de resto, os escritos de Paes Mamede também têm.

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