sábado, 11 de março de 2023

O 11 de Março e a insistente calúnia contra a democracia de Abril


Não constituindo um exercício novo, a direita que se move no espaço público tem intensificado a sua tentativa de reescrita da história dos primeiros anos da democracia portuguesa. Essa intensificação deve ser interpretada como uma conjugação de efeitos conjunturais e estruturais. Conjunturais, porque pressente que o desvio que operou no espectro da opinião publicada através de projetos como o Observador e a afirmação da extrema-direita política permite uma nova amplificação das suas teses. Estruturais, porque, volvidos quase 50 anos dos acontecimentos, chega-se à fase determinante na definição das narrativas hegemónicas, em que, envelhecidas ou desaparecidas fisicamente a pluralidade de visões que testemunharam os acontecimentos, se prepara o ataque à reescrita da história pelos vencedores sem contraditório.

Por tudo isto, é oportuno recordar que, em 11 de Março de 1975, uma parte significativa da direita do MFA ensaiou um golpe de Estado, coordenado por Spínola e pela ala que lhe era afeta, onde se procurou proceder à ocupação de várias unidades militares e à tomada do poder. O motivo alegado sustentava-se no velho método da calúnia, sugerindo que haveria uma  "matança da Páscoa" iminente, em que a esquerda pretenderia liquidar a direita militar. A lista, é claro hoje, nunca existiu. E a calúnia serviu apenas para empurrar os mais reticentes para o golpe.

Para a história fica a célebre tentativa de invasão do RAL 1, que se saldaria na morte de um dos soldados dessa unidade. Invasão que seria terminada após alguns minutos de tenso diálogo, onde ficava claro para a unidade invasora a armadilha conspirativa em que a direita militar os havia mergulhado.

Nesse dia, uma guerra civil foi quase iniciada pela direita militar com um plano incipiente e irresponsável. A história nunca se deve a homens isolados. Mas se houve um nome a destacar nesse dia, foi o de Dinis de Almeida, que consegue dissuadir os revoltosos no RAL 1.

O mesmo Dinis de Almeida (segundo, a contar da esquerda, na foto) considerado parte da esquerda do MFA, que as teses revisionistas gostam de apresentar como ameaça à democracia, só verdadeiramente alcançada no redentor Novembro.

Hoje, como ontem, a direita faz da mentira a arma preferencial para justificar as suas ações e manipular o povo a que se dirige. Em tempos conturbados, onde os herdeiros políticos de Março de 1975 se arvoram como grandes defensores da democracia, importa relembrar só deles provieram e provêm as ameaças à ordem democrática. E que, por conseguinte, hoje como há 47 anos, só o seu derrube incondicional deve estar no nosso horizonte.

(Ver aqui uma referência recomendada sobre o tema, pela pena de Ricardo Noronha).

1 comentário:

  1. O derrube incondicional dos ultras tem que passar inevitavelmente pela denúncia daqueles que inventaram a aldrabice "bancarrota".
    A ascensão da extrema direita assenta na mentira "bancarrota", assim que o povo perceber o que verdadeiramente aconteceu este vai perceber quem e o quê está na bancarrota, e o que está (sempre esteve) na bancarrota é a ideologia proto-fascista neoliberal.

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