Já perdi a conta ao número de ideólogos voluntários ou involuntários do reforçado patronato da construção, agronegócio e turismo, garantindo que estamos quase, ou mesmo já, em pleno emprego. Estes são sectores, relembremos, que gostam especialmente de uma força de trabalho abundante e barata. Vale tudo menos aumentar salários e melhorar condições de trabalho, perante a suposta escassez. Temos a fraude ideológica nada inocente e depois temos os factos brutos: “Há 374,8 mil pessoas desempregadas em Portugal, mais 68,3 mil do que no início do ano passado.”
No ano em que ocorreu uma transferência de rendimentos do trabalho para o capital superior à registada no período da troika, ficámos esta semana a saber que “as famílias residentes em Portugal reduziram de forma significativa (maior corte de que há registo) o volume de alimentos comprados em 2022, mas, no entanto, o valor da fatura dos lares com comida subiu a um ritmo recorde”. Talvez se deva dizer, desculpem o realismo, as famílias das classes trabalhadoras.
É por estas e por outras que o crescimento nominal do PIB em 2022 foi tão intenso quanto provavelmente irrepetível. Mas, alegremo-nos, porque, graças sobretudo ao chamado efeito dinâmico da dívida, ao facto de o crescimento nominal do PIB ter sido várias vezes superior à taxa de juro, o peso da dívida pública no PIB diminuiu “automaticamente” cerca de 12 pontos percentuais. A dívida é uma variável endógena, já dizia Cavaco Silva, quando se lembrava de um bom manual de política orçamental.
Essa do "pleno emprego" é uma autentica anedota, estamos numa altura em que na comunicação social se diz tudo e qualquer coisa para fazer prevalecer a indignidade.
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