sexta-feira, 4 de novembro de 2022

O anti-Alexandre III


A nossa tarefa principal, portanto, será confirmar o instinto do leitor de que o que parece sensato é sensato, e o que parece absurdo é absurdo. Tentaremos mostrar-lhe que a conclusão, de que se forem oferecidas novas formas de emprego mais homens serão empregados, é tão óbvia quanto parece e não contém quaisquer problemas escondidos; que colocar homens desempregados a trabalhar em tarefas úteis faz o que parece fazer, nomeadamente, aumentar a riqueza nacional; e que a noção, de que, por razões intrincadas, nos arruinaremos financeiramente se usarmos este meio para aumentar o nosso bem-estar, é o que parece - um truque.
Keynes, 1929

Já reparam que Fernando Alexandre reencarnou como vice-presidente do Conselho Económico e Social, fazendo pendant com Francisco Assis e patrocinando a maior transferência de rendimentos do trabalho para o capital, superior à da sua troika, e um acordo de rendimentos que é uma fraude neste contexto? É um economista da situação: da desvalorização interna à austeridade real.

Já reparam que a referência de Keynes não se baseia em nada que Lénine tenha escrito, como se sabe da história da economia política, sendo uma atribuição possivelmente indevida, baseada em relatos de jornalistas? Em 1919, em As Consequências Económicas da Paz, de onde a citação de Alexandre é retirada, Keynes ainda era um liberal demasiado clássico, mas mesmo aí saiu corajosamente em defesa dos devedores.

Lénine de resto elogiou o “economista burguês” nesse momento. Foi essa a defesa da vida de Keynes: o que não pode ser pago, não o será. Pelo contrário, Fernando Alexandre está do lado dos credores, sempre esteve. A história da economia política conta.

Já repararam que Keynes e a tradição keynesiana à la Galbraith sempre advogaram medidas fiscais de taxação e controlo de preços para fazer face à inflação? Keynes nunca advogou o uso do desemprego como mecanismo disciplinar. Pelo contrário. Mais uma vez o contraste não podia ser maior.

1 comentário:

  1. Lixo intelectual embrulhado em sonsice, os Alexandres Reis Ricardos Fernandos desta vidinha. Previsiveis e previstos.

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