Bento de Jesus Caraça disse o essencial: «Se não receio o erro, é só porque estou sempre pronto a corrigi-lo». Nós cometemos um erro no artigo publicado em Novembro de 2022 e intitulado «A austeridade realmente existente». Em 2022, ao invés de a transferência de rendimentos do trabalho para o capital ser de 7,1%, com os dados recentemente actualizados, disponíveis na base de dados da União Europeia (AMECO), esta transferência será de 4,7%, correspondendo a uma queda do peso da retribuição do trabalho no produto interno bruto (PIB) de 2,4 pontos percentuais (de 55,7%, em 2021, para 53,3%, em 2022). Para manter o peso da retribuição do trabalho no PIB constante, os salários nominais por trabalhador deveriam crescer 9,3% (tanto como o crescimento do PIB nominal por trabalhador), ao invés de 4,6%. A diferença corresponde à tal transferência.
Todas as conclusões do artigo permanecem válidas, incluindo a de que se trata, de longe, da maior transferência de rendimentos do trabalho para o capital do milénio, uma queda que, face ao ano anterior do peso da retribuição do trabalho no PIB, é muito superior à do desastre socioeconómico da Troika (2,4 pontos percentuais em 2022, contra 1,5 pontos percentuais há dez anos).
O erro deveu-se ao uso indevido do Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) para calcular os impactos distributivos da evolução salarial, ao invés do uso do deflator do PIB, sendo que é este último que permite a comparação directa com a evolução da produtividade também por este deflacionada. O uso do IHPC é adequado para efeitos de cálculo do poder de compra dos salários.
Le Monde diplomatique - edição portuguesa
Análise muito a propósito e contundente. A realidade não pode ser disfarçada, apesar da habilidade do nosso Primeiro Ministro no jogo de palavras. Nem a IL se manifesta, perante um discreto silêncio.
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