segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Oligarcas lusitanos: os domadores de espíritos


Na mesma semana em que Mário Ferreira se viu envolvido num escândalo associado à captação de dinheiros públicos e à manifestação porno-riquista da sua ida ao espaço, serviu-se da TVI, canal que detém, para falar numa entrevista conduzida pelo seu funcionário, Manuel Luís Goucha, que lhe deu palco para limpar a sua imagem. 

Também nesta semana, o Tal & Qual, jornal revitalizado por Marco Galinha, dono da Global Media, fez capa com Luís Marques Mendes, com o título "A família é a minha única equipa". Assinale-se a ironia de um jornal conhecido pelas suas palavras violentas dirigidas a alguns políticos escolher fazer uma entrevista suave e emocional, de manifesta promoção de imagem, ao pregador de domingo da direita e provável futuro candidato a Presidente da República dessa área política.


Face a estes dois exemplos, e a tantos outros, só os ingénuos podem fingir que a concentração de capital privado na comunicação social não ameaça de forma crescente a democracia portuguesa. Pensar em novos meios de financiamento para uma comunicação social mais plural é uma urgência democrática.

E, sim, é normal que isso possa envolver a distribuição de fundos públicos, sob concurso, a projetos  que demostrem cumprir princípios deontológicos elementares. Não será o Estado a tentar controlar a comunicação social, como alguns dirão. Será o Estado a garantir o direito à pluralidade democrática no debate.

Este é um dos temas em que o Partido Socialista e os partidos à sua esquerda poderiam convergir, promovendo uma importante reforma estrutural para a garantia da diversidade do debate democrático. Afinal, o partido do Governo tem também sido um dos alvos de uma comunicação social cada vez mais enviesada à direita, mais centrada em insinuar do que em escrutinar. 

Por motivos que permanecem insondáveis, mas para os quais se podem aventar razões, nem o Governo nem o Partido Socialista alguma vez demonstraram ter neste tema uma prioridade. O motivo mais plausível vem do reconhecimento que, na atmosfera rarefeita que compõe a elite económica portuguesa, as capilaridades da oligarquia estão bem estabelecidas nos dois partidos do centro. Mas, mesmo para um partido  que tenha apenas como objetivo a sua reprodução no poder, fica pouco clara a racionalidade que guia a passividade com que assiste a algo que o obrigará a agir e a comunicar num meio mediático cada vez mais envenenado. 


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