Saíram os resultados do ranking do Financial Times para a formação executiva em 2022. Nas próximas horas, vamos presenciar o desfilar do orgulho insuflado das insitituições nacionais que integram o ranking e a sua amplificação pela comunicação social, cada vez mais incapaz de ter uma linha editorial com o mínimo de espírito crítico.
A primeira coisa que importa relembrar é que este ranking não avalia as instituições de ensino na sua globalidade. Ou seja, o ranking não está a avaliar a NOVA, a Católica, a FEP ou o ISEG, está apenas a avaliar a formação executiva ministrada nessas faculdades. A formação executiva é uma formação que não confere grau académico. Amiúde, é desenhada em parceria entre empresas e faculdade, sendo o ensino ministrado por um misto de académicos e atores relevantes dos setores. É, na verdade, um produto criado para o mercado.
Depois, é preciso recordar que o mais importante de um ranking é sabermos os seus critérios. Sem isso, estamos completamente cegos quanto ao que está a ser verdadeiramente avaliado.
E que critérios tem o Financial Times? Deixo-vos apenas com quatro deles, para aferirem da escassa utilidade do exercício.
Alguns exemplos:
"Preparação (9.1): nível de interação entre cliente e escola, até que ponto as ideias dos clientes foram integradas no programa e a eficácia da escola em incorporar suas pesquisas mais recentes ao ensino.
Value for money (8,8): avaliação dos clientes do design do programa, ensino e materiais para relação custo-benefício.
Crescimento (5,0): com base no crescimento geral das receitas de programas.
Acompanhamento (9.1): nível de acompanhamento oferecido após o retorno dos participantes aos seus locais de trabalho e oportunidades de networking com colegas participantes."
Traduzindo: parte essencial da avaliação depende de uma relação clientelar e mercantil entre o mundo empresarial e o meio académico (a integração das ideias dos "clientes" melhora a pontuação), a capacidade de gerar receita a partir dos programas é valorizada, bem como a capacidade dos alunos (desculpem, clientes) atribuírem uma boa relação custo-benefício e expandirem a sua network.
O ranking do Financial Times não avalia a qualidade académica. Avalia a capacidade das faculdades de negócios se transformarem no ideal-tipo da universidade neoliberal.
As formações executivas das faculdades estão transformadas em pouco mais do que programas com propinas milionárias, em que a busca de conhecimento substantivo não é o objetivo principal. O que todos desejam é frequentar o mesmo coffee-break que o diretor da empresa que os pode vir a contratar. Pelo preço cobrado, não é bem um programa académico: é uma tentativa de comprar um bilhete dourado para o topo através da partilha de uns croquetes e de umas miniaturas.
A universidade a que aspiramos é outra. A que tem o conhecimento no seu centro, se coloca ao serviço da sociedade e rejeita ser mais um elo das cadeias de reprodução das desigualdades de poder que caracterizam as nossas sociedades.
Essa universidade será construída contra o ranking do Financial Times, ao invés de a ele se submeter.
Neoliberalismo é uma ideologia que valoriza vigaristas, prejudica aqueles que querem aprender e adquirir competências, as consequências para a sociedade estão à vista, uma economia degradada e cada vez mais injustiça… Os neoliberais chamam a isto “mérito”!
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