sábado, 23 de abril de 2022

Como se diz «encanar a perna à rã», em francês?

O debate em torno da opção pela abstenção ou pela escolha do mal menor, na 2ª Volta das presidenciais francesas, não é novo e, sobretudo, não é o mais relevante. Não é isso que resolve a questão de fundo: o gradual ganhar de terreno da extrema-direita Le Pen (Jean Marie primeiro e Marine depois), eleição após eleição, que leva o partido de 10% (registados em 2007, depois da queda face a 2002) para 23% na 1ª Volta, em 2022 (com os dois candidatos mais votados a obterem pela primeira vez, desde 1988, uma soma de votos acima de 50%).


Porque a questão de fundo é de economia política e não de política partidária. Como assinala o João Rodrigues, «confirma-se que o caminho para o inferno fascista é pavimentado pelas intenções sempre socialmente regressivas do extremo-centro euro-liberal», de que Macron é o mais recente rosto, em França. Dito de outro modo, como refere Daniel Oliveira, «não foi só a França que se extremou, foi Macron que expulsou a França do centro». Por isso, enquanto a política não responder ao mal-estar das franças periféricas, a opção dos democratas em votar no mal menor é apenas um paliativo de curto-prazo, um «encanar da perna à rã» que passa ao lado do que realmente conta.

2 comentários:

  1. Essa contabilidade só não é pior pois Zemmour tirou votos à Le Pen. Com esses votos num só candidato, a Extrema-Direita teria ganho a 1° volta com mais de 30%.
    Se "Macron 2017 = Le Pen 2022" não se concretizar, vai ser por um triz, e como diz, será só um adiamento.

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  2. Le Pen só passou à segunda volta porque os outros candidatos de esquerda que há meses já sabiam não ter qualquer hipótese de se qualificar não cederam o lugar e o voto a Mélenchon. Se o tivessem feito, tínhamos uma segunda volta entre um candidato de direita e outro de esquerda. Irresponsáveis!

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