O problema desta análise é aquele a que tanto o instituto como o partido nos têm habituado: a omissão de variáveis que são decisivas para explicar o fenómeno em causa, de forma a enviesar as conclusões. Uma análise séria da evolução dos preços dos combustíveis tem de ter em conta todos os fatores que os influenciam, o que inclui, além dos que já foram referidos, as margens de lucro das empresas da energia. Vamos então aos factos:
Facto nº 1: as taxas de imposto sobre a gasolina e o gasóleo não aumentaram. Na verdade, o governo até reduziu o ISP (imposto sobre produtos petrolíferos, que corresponde a um valor fixo por litro) no ano passado, e voltou a fazê-lo este mês de forma a compensar o aumento da receita de IVA (que é proporcional aos preços).
Facto nº 2: o peso destes impostos em Portugal não se afasta substancialmente da média europeia. De acordo com os dados publicados pela Comissão Europeia no início deste mês, representam cerca de 52,5% do preço da gasolina e 46,5% do gasóleo, face às médias de 50,5% e 44,6% na Zona Euro, respetivamente. Pode-se questionar se este é excessivo ou não, mas a situação é semelhante nos vários países.
Facto nº 3: se há coisa que aumentou consideravelmente no último ano, foram os lucros das grandes petrolíferas. As sete maiores empresas mundiais do setor da energia registaram lucros extraordinários e anunciaram que vão distribuir cerca de 50 mil milhões de euros aos acionistas. Em Portugal, a Galp também registou lucros avultados – 457 milhões – e propôs um aumento dos dividendos e das operações de recompra das próprias ações.
Facto nº 4: desde o início da guerra na Ucrânia, as margens de refinação dispararam. Estas margens refletem a diferença entre os custos de aquisição do petróleo e o preço de venda dos produtos refinados. A margem de refinação do grupo Neste, da Finlândia, que era de 5 dólares por barril em setembro de 2021 e rondava os 7 dólares por barril no início deste ano, passou para 42 dólares com o começo da guerra. O mesmo se passou nas restantes grandes empresas, o que levou a agência de notação S&P Global a constatar que “as margens europeias de refinação atingiram um pico no quadro de extrema volatilidade na cadeia petrolífera, após a invasão da Ucrânia pela Rússia”. A Galp ainda não revelou os dados deste trimestre, mas é expectável que a tendência não seja muito diferente.
Há um depósito que está a ficar cheio na sequência do aumento dos preços: o das grandes empresas da energia. A resposta ao problema também passa por medidas que contrariem essa tendência.
Muito bem!
ResponderEliminarPara que não subsistam meias verdades (Facto 1) é necessário saber se a receita arrecadada com os diversos impostos sobre os combustíveis aumentou ou não (e quanto).
ResponderEliminarÉ. Veremos o que sai hoje das discussões na UE sobre isto. A possível estabilização da inflação (geral) passa por dar um sinal claro aos mercados (e não falo das manobras monetárias do BCE com as taxas de juro), num sector em particular - e o da energia parece bem simbólico nos tempos que correm.
ResponderEliminarANDARAM À BATATADA: Acordo ibérico para baixar preço da energia gera "tensão" no Conselho Europeu. Sánchez abandona a sala Obstáculos levantados, por países como a Alemanha, contra a proposta conjunta de Portugal e Espanha para baixar os preços da eletricidade / / // Portugal e Espanha poderão ter uma poupança líquida mensal de 3.500 milhões de euros. https://www.jornaldenegocios.pt/economia/europa/uniao-europeia/detalhe/acordo-iberico-para-baixar-preco-da-energia-gera-tensao-no-conselho-europeu-sanchez-abandona-a-sala?fbclid=IwAR2KeYRY8m8uYnAbUmsWDggu_pK7FNcXw3kpWf40G6i2asFSxwwRXg2S1_M
ResponderEliminarA subida das margens de refinação deve ser analisada com mais cuidado. Mede, principalmente, a diferença entre o custo corrente dos produtos petrolíferos refinados e o custo do crude (bem como de outras matérias-primas, transporte e energia). Julgo que os custos dos inventários de matérias primas, especialmente do petróleo em bruto, é uma média do preço a que foram sendo adquiridos. Assim sendo, a margem de refinação subiu muito principalmente porque o crude utilizado ainda está a ser provisoriamente contabilizado, no essencial, aos preços antigos. Só que os stocks terão que ser repostos e, desta vez, aos preços atuais, muito mais elevados. Fazendo a conta com estes custos de reposição, imagino que as margens fossem muito inferiores. A subida das margens de refinação não é, por conseguinte, neste momento, um bom indicador dos eventuais lucros das companhias refinadoras. Já por outro lado, a atividade de exploração petrolífera, que eventualmente pode ser levada a cabo pela mesma companhia, essa tornou-se sem dúvida altamente lucrativa.
ResponderEliminarÉ a chamada "democracia liberal", qual é a surpresa?
ResponderEliminarFacto 5. As petrolíferas que operam em Portugal também operam em Espanha. Como é possível haver 20 cêntimos de diferença por litro do lado de lá da fronteira? E o gás de botija que tem uma diferença de quase 50%?
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