terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Querido diário - São só rosas, meus senhores

Jornal Publico, 15/2/2012

Não era só um programa de austeridade. Não era apenas um programa para ensinar os portugueses a poupar, já que, no seu pensamento, apenas se pode investir quando há poupança prévia.

Há dez anos, esta era a revisão de um programa que, hoje, os liberais - se não usassem na altura bibe e chapéu, à excepção de João Cotrim de Figueiredo que já era dirigente do Turismo na dependência do então secretário de Estado e centrista Adolfo Mesquita Nunes (hoje da IL) - achariam necessário voltar a aplicar, se tivessem a honestidade de confirmar o falhanço em que redundou face aos objectivos anunciados. A tal ponto foi falhanço que os seus resultados ainda hoje perduram e são usados pelos liberais para acusar o Governo do PS, que lhes sucedeu, de ter falhado.



Os liberais quando confrontados com estas medidas, farão como a rainha D.Isabel que - reza a lenda - foi confrontada pelo rei D.Dinis que estava contra a política de banco alimentar da rainha. E quando questionada sobre o que levava no regaço (e deviam ser pães, pelo menos foi o que ela lá pusera), respondeu candidamente, deixando cair no chão o que levava:

- São só rosas, meu senhor.

E não é que o chão se encheu de rosas? Se alguma coisa esta lenda prova, é que é sempre possível no futuro mentirmos sobre o essencial do passado, porque alguém transformará essas mentira em algo aventuroso e abençoado. Neste caso, a bênção dos liberais é que já ninguém queira lembrar-se do que fizeram então ao país... e até achem que eles nunca estiveram na política, que são jovens virgens (de pecado), acabados de aterrar... como então a troika.

E o que os liberais de então não elogiaram a troika! Sobretudo quando, poucos dias depois de aterrar em Lisboa, apresentou o seu completo programa calendarizado para o empobrecimento de Portugal e que levaria um quarto dos portugueses activos ao desemprego e à emigração!

- São só rosas, meus senhores.

1 comentário:

  1. Pois, e depois de 6 anos em que ainda assim foram mais do que rosas, o BE e o PCP-PEV decidiram chumbar um OE que poderia não dar tudo aquilo que era justo, mas que, apesar de tudo, representava um progresso nas condições de vida da população.

    E o PR de Direita convocou eleições e em vez de laranjas só lhe saíram rosas... À custa, claro, do voto nas Esquerdas...

    Parece que a rigidez estratégica tramou a flexibilidade tática, João Ramos de Almeida...

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