domingo, 9 de janeiro de 2022

Querido diário - Desemprego entre os jovens... mesmo hoje

Jornal Público, 9/1/2012

Jornal Público, 9/1/2012
Há dez anos, discutia-se algo... que não é muito diferente do que discutimos hoje.

Há dez anos, a taxa de desemprego entre os jovens de 15 a 24 anos era 30% em plena recessão e num quadro de aplicação de medidas de austeridade. Ou seja, medidas que, apesar do quadro recessivo, acrescentavam recessão à recessão. Isto porque, primeiro, reduziam a procura e, segundo, porque ao ser anunciadas dia após dia, num rolo compressor, criavam um ambiente económico de terror e pânico, que levava ao retenção do consumo.

Actualmente, qual é a taxa de desemprego entre o mesmo grupo de jovens?

Em 2020, a taxa de desemprego situava-se nos 22,6%. Mas em 2019, ano ainda sem pandemia e com a economia a crescer, mesmo assim a taxa foi de 18,3%. Ou seja, se bem inferior à taxa de 2011 - em período de recessão - os jovens continuam a ser sacrificados.

Mais: Se em vez da taxa de desemprego, se estimar a taxa de subutilização do trabalho - que junta os desempregados, os inactivos disponíveis para trabalhar mas que não procuraram trabalho (desencorajados), os inactivos que procuraram trabalho, mas que não estavam disponíveis na semana de referência do inquérito ou ainda aqueles que, tendo trabalho, declararam que gostariam de trabalhar mais horas (subemprego visível) - então a taxa dos jovens entre 15 e 24 anos foi de 33% em 2019 e de 38% em 2020. Mas em 2011, em recessão, fora de ... 41,8%!

Agora, pense um pouco.

Conviria pensar na razão que faz com que - esteja a economia em recessão ou não - os jovens sejam o grupo etário que tende a ficar de fora do Trabalho. Ou seja, fora do que os torna independentes, capazes de ter um futuro ou simplesmente se sintam integrados na sociedade.

Uma razão que - porque nunca é abordada nos meios de comunicação social - permite aos directores de jornais escrever, sem fim, os mesmos repetidos argumentos e alertas, sem que nunca se chegue ao fundo da questão.


E essa razão é que importava discutir num quadro eleitoral.

Não é a reforma política. Não é a descida dos impostos ou as privatizações que vão alterar isso (já se tentou no passado - lembram-se do choque fiscal? - e aqui estamos). Não é a reforma da justiça ou a digitalização. Há algo de muito pesado que nos arrasta para o fundo. Pior: é algo que faz com que os socialistas sejam bastante ácidos na oposição, mas que, no Governo, os torna complacentes com que criticavam, descoordenados, desarticulados, incapazes de pensar no futuro ou em mudanças na estrutura da economia.


E já nem se fala da direita que - apesar de dizer o contrário e de bramar de forma ilusionista contra a estagnação - se banha, feliz, nesse pântano, defendendo medidas que apenas aprofundam o fosso da desigualdade e nos fazem afundar ainda mais.

O que pode estar a provocar tudo isto? O que faz com que os sucessivos governos acabem - anos após anos - por nada fazer para alterar o que se passa?

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