segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

De um amigo


Os comunistas portugueses não necessitam que lhes venha lembrar Lénine neste momento tão, mas tão, difícil, até porque o conhecem muito melhor. Os amigos fazem o que podem nas ocasiões. 

É realmente preciso: “Investigar, estudar, descobrir, adivinhar, captar o que há de particular e específico, do ponto de vista nacional, na maneira pela qual cada país aborda concretamente a solução do problema internacional comum.” 

Sem esquecer o seguinte: “Não é difícil ser revolucionário quando a revolução já estourou e está em seu apogeu, quando todos aderem à revolução simplesmente por entusiasmo, modismo e inclusive, às vezes, por interesse pessoal de fazer carreira (...) É muitíssimo mais difícil - e muitíssimo mais meritório - saber ser revolucionário quando ainda não existem as condições para a luta direta, aberta, autenticamente de massas, autenticamente revolucionária, saber defender os interesses da revolução (através da propaganda, da agitação e da organização) em instituições não revolucionárias e, muitas vezes, simplesmente reacionárias, numa situação não revolucionária, entre massas incapazes de compreender imediatamente a necessidade de um método revolucionário de ação.” 

Revolução nas nossas particulares circunstâncias nacionais continua a querer dizer as concretizações e potencialidades contidas no melhor da nossa Constituição, a que conserva os traços da revolução democrática e nacional. O problema internacional comum continua a ser o de organizar as lutas dos povos contra as várias formas institucionais de que o imperialismo se reveste, incluindo na, e através da, União Europeia.

A dificuldade, claro, é esta: “Temos de concordar que seria insensata e até mesmo criminosa a conduta de um exército que não se dispusesse a conhecer e utilizar todos os tipos de armas, todos os meios e processos de luta que o inimigo possui ou pode possuir. Mas essa verdade é ainda mais aplicável à política que à arte militar. Em política é ainda menos fácil saber de antemão que método de luta será aplicável e vantajoso para nós, nessas ou naquelas circunstâncias futuras. Sem dominar todos os meios de luta podemos correr o risco de sofrer uma derrota fragorosa - às vezes decisiva - se modificações, independentes da nossa vontade na situação das outras classes puserem na ordem do dia uma forma de ação na qual somos particularmente débeis.” 

8 comentários:

  1. Esta pequena citação do seu texto diz tudo sobre o que está e estará errado com esta Esquerda que temos, e para quem a culpa é sempre dos outros, a começar pelos jornalistas:

    'entre massas incapazes de compreender imediatamente a necessidade de um método revolucionário de ação'

    As 'massas' não querem saber do 'método revolucionário de ação' para coisa nenhuma, João Rodrigues. Querem quem lhes garanta melhorias seguras na sua condição de vida, e que não sejam apagadas numa futura crise. Essa é aliás a essência do reformismo de Esquerda que nos deu a Social-Democracia, por oposição ao Socialismo Real que jaz morto e apodrece, como cantava o poeta...

    Essas 'massas' confiam em quem lhes garante o dia-a-dia, ano após ano. O PS é o criador do SNS, do RSI, do complemento solidário para idosos, e de todas as pequenas coisas que asseguram aos mais pobres e aos mais fracos que o seu amanhã será melhor do que o hoje.

    E foi esse povo que perante a possibilidade de um retorno da Direita ao poder, ontem saiu para rua e deu ao PS a sua segunda maioria absoluta, que deve ter sido especialmente saborosa para António Costa.

    E você pode continuar a refugiar-se nos escritos de mortos que defendem sistemas políticos igualmente cadavéricos. Deixemos os mortos enterrar os seus mortos, como dizia alguém...

    Perderam e continuarão a perder e nunca se aperceberão do porquê para tal coisa...

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  2. É preciso continuar a acreditar no partido que defende o coletivo e que, na verdade, esclarece e informa todos aqueles que andam divididos. O esclarecimento e a informação é a mais valia num processo democrático.
    Quem se entrega ao eleitoralismo e ao oportunismo das palavras estará condenado.

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  3. O partido "Socialista" deixou de o ser desde os anos de setenta, hoje não passa de um bom aluno das politicas Neo-liberais de Bruxelas,os pobres e os mais fracos não vivem,sobrevivem com as reformas de miséria,os jovens continuam a viver na casa dos pais,com contratos precários e salários que não dão para pagar a renda da casa;este é o país real.

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  4. Caro Jaime Santos

    Os eleitores que cimentaram o governo do PS, só o fizeram para evitar a uniao das direitas: nao significa nada mais - votaram com no PS, mas é um voto pessoal, para se protegerem. Soltar atoardas como o Chicao é de mau gosto, veja como o CDS terminou, após repetidos meses de discurso anti-comunista/socialista. Um conselho, se quer criticar o Socialismo Real, migre para a Rússia, o President Putin saberá recebe-lo.

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  5. O país real é o jogo liberal com que os governos despacham milhões como quem come tremoços.

    Sobre o enorme volume da despesa pública não paira uma sombra que questione a produtividade dos serviços, não há um eco de acção fiscalizadora de vulto, ninguém é responsabilizado pelos sistemáticos orçamentos que se excedem e o mesmo se diga para os que não se cumprem e imperialmente não se retificam.

    Um re-béu-béu de princípios e intenções e nada de avaliação na acção.
    Uma apropriação do ambiente revolucionário numa cómoda ausência de revolução; o quotidiano na versão irresponsável.

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  6. Parabéns João Rodrigues. Bem desgraçadas estão as massas que querem quem lhe dê/garanta isto ou aquilo. Se eu/massas quero/querem isto ou aquilo, tenho/têm de o ir buscar! Um partido ou movimento apenas podem ser como um maestro; e nesta analogia as massas é que tocam a música.

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  7. Tenho vivido, com angústia, apreensão e profunda tristeza, as primeiras horas pós-eleitorais, que, confirmando o PS em maioria na A. da República, confirmam também e desde logo por essa mesma razão, que o Povo ali estará em minoria.
    A esquerda à esquerda do PS, que apenas há dois anos reuniu quase 900.000 votos e 31 deputados, viu-se agora reduzida a uma representação parlamentar cuja expressão se cifra em pouco mais de 1/3.
    Naturalmente que as causas serão muitas, complexas e algumas de natureza estrutural enquanto outras meramente conjunturais. Não caberá pois aqui escalpelizá-las, mas apenas adiantar um ou dois contributos, para um debate que agora se vai iniciar.
    A primeira observação é a de que a manipulação ideológica, nomeadamente sob a forma de "sondagens" e do apelo à bipolarização, ostracizando o campo político à esquerda do PS (paradoxalmente, aquele que o havia arrancado das cinzas em 2015) e denegrindo ostensivamente a sua imagem e propostas, contribuiu em larga medida, para sentimentos de medo irracional, que conduziram ao chamado voto útil. A segunda observação, que se prende directamente com esta, é a de que os eleitores que votaram PS o fizeram (para além daquele que é o seu eleitorado tradicional) na convicção de que essa seria uma opção de esquerda e de políticas de esquerda, o que, adiante-se desde já, não aconteceu nem pode acontecer com o PS em maioria e de mãos livres. Note-se, que de um ponto de vista das questões que são efectivamente estruturais para o país e para os portugueses, PS e PSD são absolutamente siameses. Acontece porém, que há entre si uma nuance fundamental: é que uns se auto-intitulam do centro-esquerda e os outros do centro-direita. Correspondem assim e na sua matriz ideológica e fundacional a soluções absolutamente adequadas e necessárias para a perpetuação da dominação das classes possidentes e da consequente dominação das classes exploradas. Os exemplos abundam, mas encontram ressonância muito objectiva na comunhão de sentido de voto do PS com o PSD (e restante direita) em temas como os relativos à legislação laboral, ao regime de pensões ou de exclusividade no SNS. O PS que conviveu com o PCP e o bloco de esquerda, foi por isso um PS que arrefeceu como pôde as suas contradições de classe com as exigências dessa mesma solução política, o que representou para si, cabe recordá-lo, um antídoto contra a Pasokização que tem varrido os seus congéneres por essa Europa fora. No momento actual, o PS goza de um poder parlamentar inquestionável o que o deixa ainda mais nas mãos daqueles que efectivamente comandam e subordinam o poder político e que não, naturalmente, os que ingenuamente lhe confiaram o voto. Assente numa lógica que é crescentemente assistencialista e miserabilista, o PS contará de novo com o poder da comunicação social do regime, como meio determinante da sua propaganda, constituída em veículo de aceitação e resignação popular, tão mais facilitada quanto é amparada num esforço de absoluta alienação dos indivíduos. Contudo, o próximo grande agravamento da crise sistémtica do sistema capitalista estará aí já ao virar da esquina, dado que esse agravamento é uma consequência inevitável da própria estrutura do sistema e das cada vez mais intensas contradições por ele geradas. A mobilização dos indivíduos para uma sociedade que tendo o Homem no seu centro, lhes rasgue efectivos horizontes de esperança, continuará por isso a ser uma tarefa determinante para todos aqueles que vendo aí uma aspiração legítima, sabem também que ela é necessária como única alternativa plausível a uma barbárie que paira sobre todos nós. A convergência das forças de esquerda em torno desse desígnio, com toda a sua capacidade mobilizadora e agregadora de esforços e vontades, ainda que para tanto haja necessidade de conciliar pontuais diferenças, será pois e neste momento tão delicado uma tarefa a que ninguém se pode eximir.

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