... é uma versão intelectualmente aprimorada do programa do Chega. Afinal de contas, estes dois partidos são herdeiros da radicalização neoliberal que ocorreu com o governo da Troika, liderado por Pedro Passos Coelho: das privatizações ao aumento dos poderes patronais, correlativo da diminuição dos direitos laborais, passando pela erosão de serviços públicos estruturalmente subfinanciados.
Ambos insistem na subsidiação do capitalismo no campo da educação ou da saúde, à boleia da retórica da «liberdade de escolha», desestruturando os serviços públicos e corroendo a autonomia e o carácter dos seus profissionais, ainda não submetidos à lógica do lucro. E ambos insistem na redução acentuada da progressividade de um sistema fiscal, por sua vez já corroído pela fuga das grandes empresas e dos mais ricos aos impostos, indissociável da liberdade internacional de circulação dos capitais. Esta tem sido promovida por uma integração europeia que ambos os partidos defendem nos seus dois principais pilares, o do mercado único e o da moeda única, ou seja, da política demasiado única e estruturalmente enviesada para as direitas.
O cosmopolitismo de pendor federalista da IL, culturalmente partilhado por demasiados intelectuais de esquerda, por oposição ao nacionalismo etno-racial do Chega, esconde mal um alinhamento profundo das direitas, das novas e das velhas, com a continuação da política da Troika. A soberania popular e democrática, de base nacional, materialmente assente num maior controlo democrático da economia, é o grande inimigo comum.
A divisão de trabalho entre estes dois novos partidos é certamente espontânea, o resultado da acção, mas não da intenção, política de diferentes fracções da burguesia, sem deixar de ser menos impressionante por isso: enquanto no Chega o aprofundamento do programa de neoliberalização é embrulhado num discurso racista, explicitamente autoritário e musculado, na Iniciativa Liberal é embrulhado num discurso leve e progressista, de onde referências pretensamente feministas e anti-racistas não estão ausentes, na esteira da enésima reinvenção do ideal liberal clássico das carreiras abertas aos talentos de todo o lado, sem discriminações, nem favorecimentos, até porque a fronteira política não deve ter significado socioeconómico.
Esta tendência «liberal» progride num debate público onde as questões de fronteira, género ou minorias são sistematicamente desligadas das questões de classe, de matriz socioeconómica, e das políticas económicas e sociais universais na comunidade política, do pleno emprego aos direitos sócio-laborais, que atenuam ou eliminam em simultâneo várias formas de exploração e de opressão, libertando colectivamente.
O resto do artigo A liberdade a sério está para lá do liberalismo, publicado em Abril de 2021, encontra-se agora disponível na íntegra no novo site do Le Monde diplomatique - edição portuguesa.
Procurando resgatar a palavra liberdade das mãos de uma das iniciativas reacionárias das fracções mais reacionárias do capital que é grande, finaliza-se com Sérgio Godinho, que sabe bem o que é a liberdade a sério:
As sondagens mais recentes dão o PSD a frente ,os dias que faltam para o acto eleitoral os media vão apostar tudo na bipolarização,a aposta no voto "útil" para que as esquerdas saiam enfraquecidas e não tenham Força(no caso de vitória do PS) para serem implementadas politicas que defendam os que menos têm.
ResponderEliminarPS muda de estratégia(já não pede Maioria Absoluta),será que Costa quer ir para Bruxelas?
ResponderEliminarConcordo com o anónimo das 10:49, uma muito conveniente virada à direita a uma semana das votações...a vida pública está transformada numa mentira, os cidadãos são tratados como ignorantes e em muitos casos até o são, este retrato deprimente deste país tem de mudar e mudar radicalmente, a esquerda tem de resgatar as pessoas que estão fora do sistema e que ninguém acredita, não há decência enquanto a dignidade não for para todos, o pleno emprego não deve ser uma exigência, deve ser um imperativo inegociável.
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