Salazar antes de votar no plebiscito da Nova Constituição de 1933 (foto retirada deste link)
"Contra todas as claras lições da experiência, entendem muitos que há-de o Estado alargar as suas funções económicas, organizando ele próprio a produção e com esta a repartição da riqueza. Por este caminho se tem chamado à actividade do Estado, a organização e distribuição da produção do crédito, os meios de transporte, a construção, a exploração das riquezas do subsolo, os povoamentos florestais, vários ramos da produção agrícola e industrial, o comércio de certos géneros, quando não todo o comércio externo. Mas, exceptuados os momentos em que se hajam de salvar do melhor modo possível os maiores valores da economia nacional, arrastados pelo encadeamento dos desequilíbrios que as crises provocam, as funções do Estado devem ser muito mais limitadas e essencialmente diferentes.
Não há nesta socialização crescente nem interesse económico - maior produção de riqueza em melhores condições de custo -, nem interesse social - mais justa distribuição de rendimentos, melhor atmosfera para valorização dos indivíduos -. nem interesse político - maior independência o Estado, mais asseguradas liberdades públicas, mais eficaz defesa os interesses colectivos.
O Estado deve manter-se superior ao mundo da produção, igualmente longe da absorção monopolista e da intervenção da concorrência. Quando pelos seus orgãos a sua acção tem decisiva influência económica, o Estado ameaça corromper-se. Há perigo para a independência do Poder, para a justiça, para a liberdade e igualmente dos cidadãos, para o interesse geral em que da vontade do Estado dependa a organização da produção e a repartição das riquezas, como o há em que ele se tenha constituído presa da plutocracia dum país. O Estado não deve ser o senhor da riqueza nacional nem colocar-se em condições de ser corrompido por ela. Para ser árbitro superior entre todos os interesses, é preciso não estar manietado por alguns."
(António de Oliveira Salazar, Conceitos Económicos da Nova Constituição, 16/3/1933, Discursos 1928-1934, Coimbra Editora, Lds, pag.206/207)
Já cansa todo este peso da História que se repete sempre da mesma maneira, como se bastasse, a quem o repete - para passar despercebido, claro - ser mais jovem, mais viçoso ou simplesmente mais bem vestido...
É assim tão difícil ver a repetição e ainda por cima a perder densidade a cada década que passa? É que já lá vão quase cem anos...
O que cansa,meu caro,é a débil esrutura mental de quem, por interesse de classe, grupo social,ou revanchismo puro e duro,possa rever-se num discurso,datado, de um mundo extinto e de um país que foi sendo adiado por décadas, por condicionamentos vários,impostos por dentro, em favor dos grupos económicos e de um capitalismo monopolista de Estado,que atrasou todo o desenvolvimento sustentado do país e dos portugueses.
ResponderEliminarNão será mero acaso que se retomem as tentativas de acertar a Constituição de 1976 pela doutrina da de 1933.A bem da Nação, pois claro.
Uma tradição quase secular. A diferença do que se defende e publíca enquanto se delíra com aspirações ao poder político e o que se consuma quando se está, por fim, acocorado no poder.
ResponderEliminarCom papas e bolos...
Pode dizer-se a mesma coisa sobre quem repete o mantra estatista. A estatização dos meios de produção não deu muito bons resultados e estamos agora a celebrar o trigésimo aniversário da prova suprema disso, por muito que haja ainda quem sobre isso chore baba e ranho...
ResponderEliminarDepois, cabe lembrar que o Estado Novo, com a sua política de condicionamento industrial, era profundamente anti-liberal. Se Salazar escrevia isto, não o praticava exatamente. Esta Direita era dirigista...
João Ramos de Almeida, sejamos honestos, os argumentos políticos não mudam muito seja à Esquerda ou à Direita, não obstante o facto de que a História não tem sido exatamente meiga com nenhum deles...
Só que o centro político costuma ser mais pragmático e ligar mais aos resultados da aplicação prática das políticas, ao passo que os extremos são mais puristas em relação à sua Ideologia, no matter what...
Caros,
ResponderEliminarHá, de facto, interesses que se mantêm vivos - e constantes - e que, portanto, tendem a ser reformatados à luz dos "novos" quotidianos, das novas "espumas do dia". E igualmente das novas modas internacionais que seguem - diga-se também - os novos interesses que vão surgindo no tabuleiro internacional.
Mas aqui, caro Jaime, haverá que apelar igualmente à sua honestidade.
Primeiro, não foi a estatização que correu mal na experiência soviética. Bem pelo contrário. Quer comparar o mundo russo pré-revolução e mundo pós-revolução? Correu tão bem que o mundo capitalista sofreu uma alteração de fundo para impedir o contágio popular nas suas sociedades. O que correu mal foi outra coisa. E não foi bonita de se ver. E teve efeitos nefastos no movimento revolucionário internacional. Mas nesse campo muito teria o Jaime de olhar à sua volta, no que se passa nas ditas burguesias liberais. Para já, o mundo capitalista não é um jogo equilibrado de pesos e poderes. Há quem manda efectivamente. Depois, quer listar o que aconteceu a todos quantos, pelo mundo fora, levantaram um dedo contra o "status-quo”, em cada momento histórico? Quer contabilizar as diversas violações de direitos – até o direito à vida em massa – de quantos se rebelaram? Quer listar a violação quotidiana e maciça dos direitos básicos numa sociedade moderna, a manipulação diária, quando antes se fazia por via administrativa e caso a caso? E quanto a prisões arbitrárias, está o Jaime apenas centrado no pequeno concentrado e desigual primeiro mundo e esquece todo o outro mundo em que assenta a vida desse primeiro mundo?
Há muito a debater e a criar nos ideários à esquerda. Mas não se branqueie o que motivou - e motiva - a rebelião que se sentiu – e sente - nos últimos séculos.
Segundo, é bem verdade que Salazar dizia muita coisa que não aplicava. Mas isso é o que acontece igualmente a quem defende um ideário liberal. Ou acha que os liberais defendem mesmo o primado da concorrência atomizada e o reino dominante das micro e pequenas empresas? Acha mesmo que os liberais defendem a flexibilidade das leis porque gostam de ideias elegantes? Acha mesmo que defendem a liberdade porque são pessoas com ideias igualitárias?
Julgava-o muita coisa, mas nunca ingénuo.
Sejamos honestos, os tais pragmáticos "centristas" que o Jaime Santos vem para aqui defender regularmente estão a destruir o maior jornalista da actualidade, refiro-me a Julian Assange.
ResponderEliminarSejamos honestos Jaime Santos, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu não têm legitimidade democrática.
Sejamos honestos Jaime Santos, não houve qualquer bancarrota, e a pseudo bancarrota foi usada pelos "centristas" para impingir muito mal a muita gente.
Sejamos honestos Jaime Santos, a União Europeia foi sempre um projecto conscientemente austeritário e anti-trabalhador.
Sejamos honestos Jaime Santos, o Jaime Santos não é anti-Estado, é contra que o Estado seja usado para criar bem generalizado.
Sejamos honestos Jaime Santos, um Estado que não serve para produzir bem generalizado, um Estado que existe para servir uma minoria privilegiada que concentra a riqueza tem um nome, chegou-se a chamar a este tipo de Estado "Estado Fascista", parece que este tipo de Estado é o Estado que os liberais ambicionam, e como já conseguiram alcançar tanto...
No novo Matrix Resurrections o administrador da simulação agora emprega "bots" para defender o sistema, aos "bots" a verdade não interessa, tudo farão para defender o sistema/ status quo.
ResponderEliminarIsto lembra alguém que frequentemente vem aqui deixar comentários e regularmente ignora a realidade para ver se desmoraliza os autores deste blog e quem o frequenta?