Tal como sucede em eleições legislativas, e ao contrário da tendência à esquerda, os partidos à direita chegam facilmente a entendimentos e coligações para disputar autárquicas. Tem sido assim pelo menos desde 2001, numa tendência que se foi reforçando até ao domingo passado. De facto, se naquele ano cerca de 70% dos votos à direita provinham de candidaturas isoladas dos principais partidos (94% no caso da esquerda), em 2021 esse valor recua para 43%, resultando já a maior parte dos votos (57%) de coligações. À esquerda, a opção dos partidos por candidaturas isoladas foi sempre amplamente maioritária, com percentagens no total nunca inferiores a 90%. Em ambos os casos, a votação em partidos sem representação parlamentar foi sempre residual.
Quanto às eleições do passado domingo, e face às tendências eleitorais aqui assinaladas, registe-se que a esquerda no seu conjunto - e apesar de uma ligeira descida do seu peso relativo (-3,3%) - mantém a maioria dos votos para a eleição dos executivos municipais (52,0% do total), com a direita a fixar-se nos 40%. Relativamente às autárquicas de 2017, regista-se curiosamente uma quebra do peso eleitoral de partidos ideologicamente menos definidos (de 8,4% para 6,6%), em linha com a perda de expressão de candidaturas independentes (Grupos de Cidadãos), cuja votação passa de 7,1% para 5,8%.
Em termos globais, e sobretudo pelas dinâmicas nesse sentido à direita, bem como pelo aumento de candidaturas independentes (Grupos de Cidadãos), a votação em candidaturas isoladas dos partidos representados na AR continuou em declínio, tendo-se passado gradualmente de um valor em torno dos 80%, registado em 2001, para cerca de 70%, em 2021. A opção por coligações, a que a esquerda quase não adere, é de facto a forma de candidatura que mais cresce ao longo deste período, recolhendo em 2021 cerca de 24% dos votos expressos. Ou seja, 8 pontos percentuais acima do valor registado em 2001.
É imperioso entendimentos entre as esquerdas e movimentos sociais para mobilizar um eleitorado que há muito desistiu de votar.
ResponderEliminarInteressante. Talvez haja mais facilmente coligações à direita, porque se trata mesmo disso, direita. Talvez seja mais difícil fazer coligações à "esquerda" porque nem todos sejam ou se comportem como isso, esquerda.
ResponderEliminarOutro reparo. É um pouco redutor - para dizer com alguma elegância - chamar às candidaturas às câmaras municipais, orgãos autárquicos colegiais representativos, eleitos proporcionalmente (pelo método de Hondt), «candidaturas à presidência dos municípios».
Tal traduziria uma visão centralista, desvalorizadora da pluralidade e colegialidade dos executivos municipais, tanto mais estranha quanto se fala em coligações e alianças. Uma visão incorreta até do ponto de vista institucional e legal e, sobretudo, muito empobrecedora. Que, pelo que conheço do que leio do autor, me atrevo a considerar que não traduz apropriadamente a sua visão, entendimento e preocupações.
Adenda. Percebo a intenção do raciocínio no post, visto que a lista mais votada fica com a presidência, mas tal não deve levar a que, nas formulações e argumentações, se adultere a natureza democrática do poder local.
ResponderEliminarCaro Anónimo das 14h25 e 16h56,
ResponderEliminarAgradeço-lhe a chamada de atenção para a formulação relativa às «candidaturas à presidência dos municípios» que, concordo consigo, é incorreta e empobrecedora. Já corrigi no texto por uma solução que, podendo continuar a ter problemas, já me parece um avanço: «votos para a eleição dos executivos municipais».
Estou certo que compreende que o objetivo era o de evitar a confusão com as votações para a Assembleia Municipal e de Freguesia. Mas a primeira formulação era, de facto, um «inconseguimento». Muito obrigado portanto.
Sampaio fez num esforço para demonstrar que a esquerda só tem a ganhar concorrendo em coligação, particularmente em Lisboa.
ResponderEliminarNo entanto o "umbigo e a estupidez" fizeram o seu caminho.. para,isolados, ganharem mais uns votinhos.
Para onde foram os 25000 votos perdidos por "Medina"?
.....não queremos saber, não nos interessa , não ... qualquer coisa?
O programa de Moedas é assim tão excitante? As ideias mais badaladas: mais carros em Lisboa , menos ciclovias .. Até a Doutora Manuel Ferreira Leite andou a dizer que os "velhos" andam a morrer nas ciclovias..?
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Compreende-se que à direita (psd+cds+il+chega+ppm) seja mais fácil gerar consensos em redor de propostas todas elas neo-liberais que se distinguem apenas no sabor, em eventuais satisfações de diferentes clientelas e possíveis incompatibilidades entre caciques. Já nas esquerdas (ps+be+cdu) as discordâncias são estruturais: gestão participada x clientelar, pdm's estruturantes x submissos à especulação imobiliária, cidade para os habitantes x cidade para a economia (leia-se turismo) e a lista de incompatibilidades poderia continuar.
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