Será a força particular do monopólio mediático-político de um desporto, o futebol, corrompido pelo capitalismo financeiro e justamente marginal em termos olímpicos?
Apesar das melhorias em termos de infraestruturas desportivas, e eu lembro-me de ouvir austeritários a dizer que havia pavilhões desportivos a mais há uns anos atrás, será a falta relativa de condições em tantos desportos?
De forma relacionada, será a insuficiente massificação da prática desportiva regular, a tal democratização dos desportos?
Não faço ideia, mas é preciso não esquecer que ainda estamos num país brutalmente desigual, onde existe uma elite medíocre, com demasiada visibilidade, que finge não perceber que o segredo da excelência é, ai que horror, a massificação. É assim na educação ou na ciência, aposto que também o é no desporto.
Para que os melhores sejam mesmo bons, cada vez melhores, é preciso haver muitos e em condições de igualdade. Assim, talvez haja cada vez mais com a confiança de Jorge Fonseca: “eu nasci para o ouro, não nasci para o bronze”.
É preciso, já agora, não esquecer que a excelência não tem de se traduzir em ganhos pecuniários excessivos, desnecessários dadas as motivações intrínsecas dos que prosseguem os bens internos a uma dada prática, desportiva ou não, e as formas de reconhecimento fixadas por uma autoridade legítima nessa área.
O reconhecimento da excelência é facilitado pela maior igualdade social e pela maior confiança social que lhe tende a estar associada. Como afirmou o historiador Richard Tawney, em algumas das melhores páginas que conheço sobre esse ideal universal, escritas há noventa anos atrás:
“O progresso depende da disponibilidade da massa da humanidade – e todos nós, em nove décimos da nossa natureza, pertencemos à massa – para reconhecer a superioridade genuína, submetendo-se à sua influência (...) Mas para os indivíduos se respeitarem por aquilo que são, têm de deixar de se respeitar por aquilo que têm.”
…Em tempo, sempre o ter compete com o ser, com sucesso que varia na razão inversa da liberdade.
ResponderEliminarEstá tudo dito(...)"Será a força particular do monopólio mediático-político de um desporto, o futebol, corrompido pelo capitalismo financeiro e justamente marginal em termos olímpicos"?
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ResponderEliminarQuando vim viver para a Alemanha, por forma não perder a perspectiva, tomei como regra o número 8.
Se multiplicássemos por 8 as medalhas conquistadas por atletas portugueses, teríamos 8 de ouro, 8 de prata e 16 de bronze. No total seriam 32. A Alemanha conseguiu, através dos seus atletas, 10 de ouro, 11 de prata e 16 de bronze. 37 no total. Isto num ano em que conseguiram menos 10% do que é habitual. Serve isto para afirmar que a melhor prestação de sempre de Portugal está longe de ser fraca. Há que ter em conta a proporção das coisas. Ou não?
https://www.tsf.pt/desporto/portugal-com-mais-medalhas-olimpicas-per-capita-que-eua-e-china-14016875.html
ResponderEliminarTenham cuidado quando no mesmo texto se põe lado a lado a massificação do desporto, a sua democratização, e a contagem das medalhas.
ResponderEliminarO desporto como bem essencial para o desenvolvimento pessoal e social de cada um e da comunidade como um todo tem que ser disponível para todos e com boas condições para a sua prática quer ao nível das equipamentos (pistas, campos, piscinas, pavilhões, todos os aparelhos que vão junto) quer ao nível dos professores, instrutores, monitores, etc. Isto não tem nada que ver com medalhas. Se na minha opinião os atletas de nível olímpico têm que ser apoiados para poderem desenvolver todo o seu potencial lutar, por medalhas com certeza, pela visibilidade do país, para mim o mais importante é ter muita gente a participar. A quantidade de atletas que são apurados para os Jogos Olímpicos é muito mais reveladora da evolução geral da tal democratização do desporto do que o número de medalhas conquistadas que muitas vezes se decidem por cagagésimos.
João Castro