Fiel à sua linha editorial imperial-liberal, segundo a qual tudo o que os EUA façam é bem feito, o Público assinala o dia da retirada final do Afeganistão com um artigo de opinião, logo na página 3, da autoria de um professor norte-americano de relações internacionais bem posicionado. As hostes precisam de ser animadas, afinal de contas.
Defensor da estratégia de retirada do Afeganistão, em analogia explícita e forçada com o grande sucesso que se seguiu ao Vietname, com a vitória a prazo na Guerra Fria, Charles Kupchan não deixa de subir perigosamente a parada:
“Pequim e Moscovo estão prestes a ter um duro despertar assim que os EUA se libertarem das ‘guerras intermináveis’ do Médio Oriente e começarem a pôr a China e a Rússia sob a sua mira.”
É por esta perigosa promessa de agressão interminável, ainda em maior escala, e por muitas outras razões de economia política, que vale a pena continuar a ser anti-imperialista e a defender um mundo multipolar, baseado na paz e na cooperação entre povos soberanos, no melhor espírito das Nações Unidas. Felizmente, há sinais luminosos nesse sentido, nem tudo é sombrio, até porque há quem aprenda com derrotas em várias latitudes.
Deixo-vos, até para contrariar esta perigosa propaganda, um excerto de uma recomendável carta de Vijay Prashad, uma das referências de uma história política internacional crítica:
“A perda no Afeganistão também nos lembra a derrota dos Estados Unidos no Iraque (2011); esses dois países enfrentaram o feroz poder militar dos EUA, mas não seriam subordinados. Tudo isso elucida tanto a fúria da máquina de guerra estadunidense, capaz de demolir países, quanto a fragilidade de seu poder, incapaz de moldar o mundo à sua imagem. O Afeganistão e o Iraque desenvolveram projetos estatais ao longo de centenas de anos. Os EUA destruíram seus Estados em uma tarde.”
"O Afeganistão e o Iraque desenvolveram projetos estatais ao longo de centenas de anos."
ResponderEliminarSó se for com longos períodos de interregno por interferência estrangeira pelo meio...
Acerca da guerra permanente: tal necessidade de um estado de guerra permanente faz pensar. Seria lógico que se impussse a visão de que a extraordinária soma de recursos desperdiçada teria sido melhor aplicada em, por exemplo, infraestruturas e saúde; mas não! Faz-me lembrar o "potlacht" de algumas tribos de índios - o desperdício de recursos que impede o nível da acumulação de exigir um novo modo de produção...
ResponderEliminarFalar em projecto estatal no Afeganistão ao longo de centenas de anos, deve traduzir-se por sobressaltos estatais de um tribalismo endémico.
ResponderEliminarO Iraque foi berço de civilizações e estados, não há centenas, mas há milhares de anos. Na configuração actual comunga com todo o Médio-Oriente da instabilidade que ingerências sortidas e fronteiras artificiais sempre trouxeram à região.
Já igualar em causa e modo as acções dos USA nesses países corresponde a nada saber e nada querer saber sobre esses acontecimentos, confortando-os a uma uniformizada demonização.
O que nunca se diz - porque eleito o mal maior, todos os outros são silenciados - é quais os factores que condenam essas regiões a chafurdarem com os pés nos mercados e as cabeças em miasmas que foram afastados do Ocidente há anos (que só em raros casos se não contam por centenas).
Na verdade, o maior perigo para o planeta e para a humanidade continua a ser o sistema de poder corrompido e movido pela Casa Branca e Pentágono. Não só perigo, como também a sua explicação, através do autor John Judge. É ler a sua obra «Judge for yourself, a treasury of writing».
ResponderEliminarOs EUA já não eram capazes de vencer a China quando ela era um país primitivo e miserável, quanto mais agora. Mas não será um acesso de bom-senso a impedi-los de deitar fogo ao mundo. Fica o aviso ao falcão de aviário: nada destrói a credibilidade do Estado quanto uma guerra perdida.
ResponderEliminarO que move a política interna nos EUA é poder da complexa organização político/industrial militar, a que se associa recentemente a indústria farmacêutica. Estes complexos industriais/económicos os maiores empregadores privados e as maiores entidades privadas que consequêntemente gerem e alimentam, com impostos (e lobies), a decisão política nos EUA.
ResponderEliminarO que move a política interancional dos EUA é, óbviamente, consequência de esta estrura política interna. Como o foi com todos os poderes Imperiais anteriores, a qualquer escala, desde a industrial Inglaterra carente de dominar marcados para a sua produção insdustria, à Alemanha e a sua União Europeia. Apenas busca e domínio dos seus mercados. Apenas o processo Chinês em curso.
Veja-se os sorrisos dessimulados com que essa estrutura política nos EUA aceitaram a perca de sofisticado equipamento militar para os Talibã. Esse equipamento militar já tinha cumprido a sua função interna, já estava pago, processado economicamente.
Quanto ao aspecto militar terá prelativamente pouco valor e ainda poderá dar lucros numa hipotetica manutenção, como se adivinha.
Quanto aos segredos de tecnologia, nada que os chineses e russo não saibam e já terão conseguido copiar.
Ao anónimo que escreveu o comentário de 3 de setembro de 2021 às 11:07,
ResponderEliminarOs chineses e os russos não necessitam de copiar a tecnologia americana. A ideia que a Rússia e a China são incapazes de criar tecnologia própria vem da propaganda lançada pelo Pentágono e Casa Branca.
A estrutura de poder que domina os Estados Unidos da América ainda não tirou as ilações desta retirada do Afeganistão. Tal como aconteceu com a retirada do Vietname, só viremos a conhecer os resultados da retirada ao fim de alguns anos e muito provavelmente numa outra guerra civil.
Foi John Brown que disse que certos crimes dessa nação culpada (os E.U.A.) nunca serão apagados sem o derramamento de muito sangue. O aviso de John Brown foi profético mas torna-se verdadeiro, à medida que vemos a sociedade deles cair em desespero, mentiras e muita propaganda.