Entre vários comentários no mesmo sentido, circula nas ditas redes sociais um gráfico (à esquerda, na imagem seguinte) que alegadamente regista «o resultado das políticas do governo do PS na área da educação», a partir da ordenação dos países da UE28 segundo a percentagem da população sem o ensino secundário (com Portugal a surgir em último lugar).
Convenientemente, o dito bonequinho não faz qualquer referência ao facto de o nosso país ter feito enormes progressos nesta matéria desde o 25 de Abril e em particular nas últimas duas décadas. Para que se tenha uma ideia (gráfico da direita, na imagem), em 2002 apenas cerca de 21% da população portuguesa com idades entre os 25 e os 64 anos tinha completado o ensino secundário (ou seja cerca de 1 em cada 5). Em 2020 passou-se para um valor de 55% (ou seja, mais de metade). Se a distância face à UE27 rondava os 45 pontos percentuais em 2002, dezoito anos depois passa para uma diferença de apenas 24 pontos percentuais. É muito? É. Mas é uma quebra para quase metade da diferença nos separava da Europa em 2002.
Se desconhecer este avanço na escolarização da população pode ser isso mesmo, ignorância, já a alarvice de associar as «políticas do PS» à situação de desvantagem que persiste só pode ser má fé. De facto, a melhoria da percentagem de população com o ensino secundário foi continua e atravessou diferentes governos, do PS e do PSD, ainda que com diferentes ritmos de progressão. Mesmo quando, pela tesoura de Nuno Crato, e numa lógica de puro desinvestimento, o número de adultos inscritos no ensino secundário sofreu uma quebra de 77% (com a redução de cerca de 96 mil para 22 mil, entre 2011 e 2014).
Adenda: Um dos problemas destas técnicas de manipulação e deturpação é a facilidade com que permitem espalhar ideias falsas e simplistas (ou apenas referir, não por acaso, parte da verdade). A ponto de se ouvirem figuras como Claúdia Azevedo (CEO da Sonae) dizer coisas como: «o que vemos é que as políticas do passado não funcionaram, porque estamos em último [em muitos critérios] a nível europeu», a propósito, justamente, do défice de qualificações que Portugal continua a ter. Sendo certo que há ainda muito caminho por fazer, a sério que as políticas públicas de aumento das qualificações da população portuguesa não têm funcionado?
Ah, então hoje não é dia de se queixarem do ensino obrigatório até ao secundário e do alegado facilitismo?
ResponderEliminarRespondendo à pergunta, é óbvio que têm resultado, basta ver o sucesso quando fogem da zona de conforto da Sra Azevedo. Dizem que é um tal de mercado livre, onde cada um tem aquilo que paga.
Pode-se sempre argumentar eventualmente se se pode acelerar o processo de qualificação dos portugueses...
ResponderEliminarMas de facto, e cada vez mais, a manipulação ganha presença nas redes sociais. É assustador...
Claro que as políticas do passado não funcionaram. Mas foram as políticas do passado de Salazar. Como não me acredito que Cláudia Azevedo seja uma salazarista, se calhar convinha escrever um artigo de opinião e fazê-lo publicar no Público a explicar que o progresso na educação foi, com o progresso na saúde, uma das grandes conquistas de Abril de que a Esquerda mas também a Direita se podem orgulhar.
ResponderEliminarEm vez de manifestos, se calhar a Sonae faria melhor em investir ainda mais na formação dos trabalhadores e mais em modelos de negócio com retorno mais prolongado ao longo do tempo, mas que geram mais riqueza e pagam melhores salários do que aquilo que se paga aos caixas do Continente...
Obrigado pelo esforço para desmontar esta propaganda barata.
ResponderEliminarPortanto, fazendo uma projeçãozinha, poderíamos concluir que o Dr. Nuno Crato e os seus apaniguados troikistas provocaram uma quebra no potencial das qualificações do secundário de uns 10 pontos percentuais. Sem essa intervenção, Portugal staria em linha com Espanha e Itália?
ResponderEliminarÁlvaro
Caro Álvaro, considerando o ano de 2002, o ponto de partida da Espanha e da Itália (42% e 44%, que comparam com os 21% de Portugal) é bem diferente.
ResponderEliminarMas o mais relevante é mesmo a rutura que Crato representa, mesmo em relação a políticas educativas do PSD (nisto e noutras matérias, como os absurdos exames nacionais precoces no 4º e 6º ano).