Há três motivos pelos quais não devemos estabelecer uma relação directa entre corrupção e desempenho económico:
1º) Essa relação é tudo menos evidente.
Há países que são manifestamente mais corruptos do que Portugal e cujas economias crescem mais; e há países menos corruptos que crescem menos do que Portugal. Ao longo da história houve muitos países com elevados níveis de corrupção cujas economias cresceram de forma sustentada. Na verdade, isto não é assim tão relevante: a corrupção tem de ser combatida por uma questão de decência, sejam quais forem os seus impactos económicos.
2º) Focar todo o discurso na corrupção faz-nos esquecer outros factores tão ou mais relevantes para explicar o mau desempenho da economia portuguesa.
De facto, não precisamos de invocar a corrupção para compreender o processo de endividamento externo da economia portuguesa desde meados da década de 1990 – e foi esse processo que conduziu às dificuldades de financiamento nos mercados em plena crise da zona euro. Uma combinação de liberalização financeira, choques competitivos e indisponibilidade das autoridades europeias para combaterem a crise (ao contrário do que fizeram no último ano) são suficientes para explicar o que se passou em Portugal – e em vários outros países europeus – sem precisar de referir os problemas da corrupção. Como é óbvio isto não torna a corrupção mais aceitável – só torna inaceitáveis as teorias que confundem análise económica com juízo moral.
3º) A confusão dos temas alimenta a falsa ideia de que todos os nossos problemas se resolvem com o combate à corrupção.
Os problemas de decência e legitimidade democrática tenderão a diminuir se a justiça funcionar melhor neste domínio. Infelizmente, resolver os problemas económicos de Portugal é ainda mais difícil. Há vendedores da banha da cobra que tentam convencer-nos de que “o que é preciso é pôr isto na ordem”. Foi assim que começou a ditadura militar em 1926. O resultado foram 48 anos de pobreza, repressão e atraso de vida.
Em suma, combatamos a corrupção com todas as forças, em nome de uma sociedade decente. Lembremos-nos também que há muitas decisões que não têm nada de ilegal que podem ser bem mais desastrosas para o nosso bem-estar material.
Estou de acordo.
ResponderEliminarNão me querendo pronunciar sobre o caso Marquês, até porque não tenho as competências académicas e tudo o que dissesse seria quase uma especulação, considero que, essencialmente, temos baixas competências culturais.
Cultura num sentido lato e não especialização técnica ou tecnocrata, que permita o desenvolvimento da sensibilidade e da ética.
Uma parte do problema da corrupção (não toda, até porque se houvesse só uma causa seria fácil) é a aceitação genérica que todos fazemos dela. Mas só nos revoltamos quando nos media aparecem casos com materialidade e aí aparece a inveja.
Como é possível consecutivamente termos conhecimento de políticos que têm comportamentos desviantes, mas continuam a ser eleitos com a justificação do "bem que fazem pela terra"?!
Ou até num sentido mais terra-a-terra, termos orgulho em incuprir leis (e.g. conduzir sob o efeito do álcool ou exceder limites de velocidade com orgulho)?!
Tenho idade suficiente para saber o que era Portugal à 40 anos e o que evoluímos, mas ainda há caminho por percorrer.
Infelizmente é díficil debater estes e outros assuntos em profundidade, dado que depois não é fácil resumir em títulos bombásticos.
Nuno
A corrupção deve ser combatida por uma questão de decência…
ResponderEliminarActos corruptos têm claramente um impacto no desempenho da economia.
Eu considero os actos corruptos do FMI, BCE, Comissão Europeia e do Governo pafista de muito longe mais nefastos que qualquer possível corrupção do Sócrates.
Claramente a Troika, governo pafista e seus servos da comunicação social mentiram (e continuam a mentir) sobre a “bancarrota” e provocaram assim o aprofundamento de uma grave crise para alcançarem objectivos políticos.
A população portuguesa não votou para que parte da economia fosse destruída (sem criar qualquer alternativa), não votou para que milhões fossem para o desemprego e precariedade, não votou para que centenas de milhar fossem expulsos do país, não votou para salvar a falida banca (uma e outra vez, e outra vez, e outra vez...) tanto a nacional como a estrangeira enquanto lhes dizem “não há dinheiro” para tudo o que é social do Estado.
Alguns falam da economia como se fosse algo etéreo, de difícil definição mas a economia pode ser obviamente definida, as pessoas e o seu labor são a economia, a extração dos recursos da terra é economia, a exploração animal é economia, a guerra é economia, a religião é economia, a prostituição é economia, o tráfego de seres humanos é economia, a corrupção é economia.
Não é por acaso que os crentes do Capitalismo só querem saber do PIB como medida para avaliar o desempenho de uma economia. A estes crentes é-lhes indiferente os efeitos nefastos que várias actividades provocam nas pessoas e no ambiente. Não é por acaso que os neoliberais exibem traços de psicopatia e sociopatia...
Actividade económica não se traduz directamente em progresso humano.
Que economia nós queremos?
Uma economia que coloca os trabalhadores no fio da navalha e que não tem qualquer consideração pelo ambiente ou queremos uma economia que dá poder ao trabalhador, que proteja e eleva a vida e não a morte.
Nós tivemos lutas ao longo dos tempos para alterar a economia, para a pôr ao serviço do progresso humano, há umas décadas para cá temos seguido o caminho inverso, e ainda o estamos a seguir…
Até quando?
O Bloco central dos interesses "alimenta" o crescimento da extrema-direita .
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