Notícia não é o cão morder no homem, mas sim o homem que morde no cão.Há quase 30 anos, houve quem desse corpo a essa anedota (ver aqui). Mas há muito que o que se passa é o contrário.
Ainda agora se passou isso.
Ao fim de meses de prisão e de liberdade vigiada e de uma decisão judicial histórica que lhe limpa o cadastro, anula condenações e permite-lhe ganhar as eleições a Bolsonaro, Lula da Silva discursa! Pois, ao fim de uns minutos, a pivot da RTP Cristina Esteves passa a emissão - "Lula faz agradecimentos" - ... para o jornalista Luís Baila para que explique o que se passou e, mais adiante, pergunta-lhe se a anulação das acusações foi "apenas processual" e se Lula pode, afinal, ainda vir a ser condenado e preso. Baila reitera que assim é e que até correm mais processos contra ele, além do Triplex. E pronto! A emissão vai para o noticiário das 15h que... repete o noticiário das 14h. Minutos depois, Cristina Esteves despede-se com a sensação de dever cumprido e passa a emissão para a pivot Dina Aguiar! A SIC notícias também andou pelo estado de emergência e a audição dos partidos pelo presidente da República. A TVI24 esteve mais uns minutos em directo com Lula do que a RTP para logo passar... aos números da pandemia e ao estado de emergência, um tema nunca abordado no último ano! A CMTV andou por todos os lados menos pelo Brasil.
Mas nos jornais também se passa o mesmo. O Público mantém na 1ª página online a pandemia e as vacinas. O Expresso idem...
Onde páram, pois, os jornalistas que antes andavam atrás do homem que mordeu no cão?
Há uma questão que ficou esclarecida: o Lula não foi inocentado dos crimes pelos quais foi condenado. Vai daí, há festa?
ResponderEliminarPara os que afirmavam uma suposta imparcialidade - estrutural e estruturante, porque excepções, sempre as haverá - de jornalistas que dependem da alienação da sua força de trabalho como condição de sobrevivência, os factos aí estão a entrar-nos todos os dias pela janela dentro: seja sob a forma de omissão, seja sob a forma de silenciamento, seja também sob a forma de aldrabices, normalmente embrulhadas naquele papel de celofane chamado depuração subliminar dos factos. E esse trabalho sujo, é feito por redcatores, por editores, por directores, ou mesmo pelos próprios jornalistas, condicionados em juízos de perpétua auto-censura, porque a consciência é imaterial, mas são poucos, muito poucos, o que não abdicam dessa imaterialidade em troca da satisfação de uma prosaica barriga pançuda.
ResponderEliminarPorque sou dado à esperança, vejo nesta voragem espumosa dos dias, a vertigem decadente de um sistema cujo fim se abeira, inevitavelmente, a passos largos. Para bem de todos nós, bichos conscientes do seu destino e da sua condição, que não podem por isso aceitar a barbárie como alternativa a coisa nenhuma.
Nada de novo.
ResponderEliminarImprensa de papel e electrónica a ser o que é há anos. Incompetente, parcial, manipuladora.
Não querendo ser antipatriótico, as notícias vindas de Espanha são mais bem apresentadas e parecem trazer alguma esperança aos que apoiam a causa da democracia (maus ventos para o comentador «Jose»). O julgamento de Barcenas e agora a saída dos Ciudadanos da coligação com o PP, em Murcia, abrem um novo ciclo político.
ResponderEliminarOs próprios espanhóis dão melhor o noticiário. Têm sempre muito cuidado na apresentação e no modo como os seus pivots se apresentam diante das câmaras. Há um modo interessado em dar a notícia - diferente do nosso, sempre muito aborrecido e até desleixado (é ver os noticiários dados à hora da tarde pela RTP). A própria insistência da mesma RTP em manter alguns «pivots», como Dina Aguiar - sempre com o mesmo ar aborrecido e apático - demonstra bem a pouca vontade de quem está à frente da comunicação social portuguesa em dar a notícia. A nossa ideia é insistir no mesmo: no mesmo apresentador e nas mesmas notícias, ou seja 30 minutos ou mais de pandemia e muito futebol, com quinze minutos de pausa para compromissos publicitários (nesta questão, todos os canais portugueses, à hora da tarde, cortam para os anúncios ao mesmo tempo).
JN
Daqui a um ano o novo juiz que vai começar a avaliação do processo decide condenar lula novamente, e valtamos a ter Bolsonaro e lula associado a corrupção a queimar o filme do candidato que escolher.
ResponderEliminarFrancisco, a10 de março de 2021 às 17:10, engana-se.
ResponderEliminara informação é como é porque não isso não incomoda os jornalistas.
mesmo que não existisse qualquer ameaça à sua sobrevivência fariam igual.
aquilo está já tudo muito bem aculturado e feito ao fato.
resta um ou outro incomodado que as chefias permitem pois sempre dá ar de pluralismo e daria muita bandeira pô-los sem dono.
e restam uns tantos que chegados há pouco tempo - e não completamente domesticados pelas escolas de ciências da educação, talvez por frequentarem pouco as aulas - ainda não perceberam onde se meteram.