“Entrevistador: Agora, isto [a dívida pública] não é como uma dívida das famílias, isto não é como um saque a descoberto; quão importante é, então, que paguemos isto?
Convidado: Esse é um ponto realmente importante, há muito tempo que falamos disto [da dívida pública] como se fosse uma dívida familiar, mas, quando se é dono de uma casa, o que nos preocupa com a dívida é o que acontece se não pagarmos, os oficiais de diligências podem aparecer, e podes perder a sua posse, mas não é assim para o Estado, sobretudo por causa de a quem este pediu emprestado. E se olharmos para isso, para quem devemos de facto este dinheiro, o dinheiro [que o Estado pediu] emprestado desde a pandemia, na verdade, 92% do mesmo é devido ao Banco de Inglaterra, que é, de facto, em última análise, outro ramo do Estado. Por isso, se estiveres a pedir emprestado a ti mesmo, tal como acontece com as finanças públicas, tens um credor muito mais paciente, que não vai bater à tua porta em breve”.Parece que a BBC finalmente descobriu que criar dinheiro faz diferença, coisa que aqui no nosso retângulo, ainda não aconteceu.
Parece complicado, mas não é.
Desde o fim do padrão-ouro, um Estado monetariamente soberano dispõe de uma margem de manobra decisiva, por comparação com um Estado que abdicou desse poder.
Para lá dos pesados véus de opacidade, das dúvidas fabricadas e dos constrangimentos autoimpostos, o que sabemos é que um Estado soberano cria moeda quando gasta ou quando paga dívidas e destrói moeda quando cobra impostos ou pede emprestado.
De facto, a venda de obrigações do tesouro, a decisão do Estado se endividar junto do setor privado, não é uma operação de financiamento, mas uma operação de política monetária que, controlando o nível de liquidez em circulação, visa o controle da taxa de juro.
Os impostos, por outro lado, têm várias funções. Redistribuir riqueza, influenciar comportamentos de consumo e guiar o investimento são algumas delas.
Em termos orçamentais, os impostos servem para condicionar a componente privada da procura agregada adequando a procura agregada total à capacidade produtiva da economia e, assim, combater desemprego ou inflação.
(Uma excelente explicação de como funciona a ligação entre um banco central e o seu soberano pode ser acedida, por exemplo, aqui)
O Estado Português nunca* precisou dos vistos Gold e dos "investidores" para a requalificação dos edifícios degradados.
ResponderEliminarO Estado português tem os recursos para financiar a requalificação dos edifícios.
Desde que haja mão de obra disponível (há) e materiais para as obras (há) disponíveis no país o dinheiro que o Estado cria do nada compra ambos.
A degradação dos edifícios e a crise habitacional que se vive neste país (que está a dificultar imenso a vida dos mais novos e não só...) são escolhas políticas.
E assim se vê o quão inimigos da população portuguesa são aqueles que têm andado nos sucessivos governos "europeístas" austeritários neoliberais do PS-PSD-CDS!
Mas não se preocupem, o vigarista Costa já disse que daqui a 5 anos vamos estar mais próximos da Alemanha!!
Sempre a mesma ladainha, já foi o "pelotão da frente", "o porreiro pá"...
Quando é que as pessoas vão chegar conclusão que o Partido "Socialista" é inimigo do bem-estar e progresso da população portuguesa?
Há muito masoquista neste país...
*Claro, o Estado Português não pode criar dinheiro, abdicou deste poder soberano para o dar a uma organização anti-democrática chamada Banco Central Europeu.
"Abdicar da moeda própria vai-vos deixar em melhor situação!" - Peta "europeísta" que andaram a contar antes da entrada para a zona Euro.
Espero que estejam a todos a apreciar a "melhor situação"....
Que chatice, a falta da moeda soberana...
ResponderEliminarGostaria sinceramente que me explicassem por que razão é que Portugal, quando tinha uma moeda soberana, andava sempre ao tio ao tio... Só depois de 1974, houve duas intervenções do FMI, antes da da troika. Só quem não viveu nos anos 80 é que poderá querer voltar para lá...
ResponderEliminarA capacidade de um Estado se endividar na sua própria moeda (incluindo junto do seu banco central) só interessa se esse Estado tiver uma Economia robusta e for capaz de controlar essa coisa chamada inflação.
Seguramente que a arma da desvalorização permanente não é lá grande ideia.
Já sei que no momento actual os riscos de inflação são mínimos. Pois, mas isso dentro do Euro.
Como o próprio Peter Boffinger reconheceu, a MMS só funciona em Estados com as ditas Economias robustas e de dimensão suficiente. Portugal de certeza que não cumpre essas condições.
Por isso, agradece-se que parem de nos comparar com o Reino Unido, esse nosso velho aliado, que nos colonizou durante o século XIX, e que o autor Roberto Saviano classificou como o Estado mais corrupto do mundo...
Daqui: https://www.independent.co.uk/news/uk/home-news/roberto-saviano-britain-corrupt-mafia-hay-festival-a7054851.html
O Brexit poderá, se contribuir para quebrar as costas do capital financeiro, servir para alguma coisa. Ou pode, como dizia Saviano, tornar as coisas ainda piores...
A nossa Esquerda vive de pensamento mágico...
Nem o controlo de liquidez é particularmente eficaz, dada a quantidade de moeda parada.
ResponderEliminar@Jaime
Pela mesma razão que o RU, foi uma opção para que as pessoas não queiram coisas escolhida por um mediocre que não sabia o que fazia. Um pouco como o tal Boffinger que tirou sei lá de onde. Mas gosto que fale na "desvalorização permanente", como se não fosse isso a história dos últimos 20 anos de Euro em defalação. Basta ir buscar o fantasma, sem mencionar qual o mecanismo que desta vez, sem falha, o prevê adequadamente, e está o não-argumento feito.
Buscar o colapso, ameaçado como imininente desde 2016, mas nunca realizado, do Brexit para estar o disparate completo. Sem dizer nada, está o pânico criado só com o que "toda a gente sabe". Pois, o que toda a gente sabe também é que o que está não funciona; se prefere continuar a imitar o resto da Eurolândia, de certo não se importará, pela mesma razão, a ter que levar com quem quer destruir o estado de direito. A seriedade assim o exige, nem que custe a democracia outra vez.
Eu quero voltar para os anos 80. O desemprego era menor, os serviços públicos ainda não tenham sido saqueados, a habitação podia ser paga por um trabalhador com o que ganhava. Vivia-se bem com inflação e sem dívidas pessoais. Éramos pobres mas desenrascavamo-nos.
ResponderEliminarDesde então apareceram taxas e taxinhas, a maior parte para encher bolsos a chulos. Portagens, chulos da finança e da construção. Seguros de saúde, chulos que querem ser donos disto tudo. Crédito à habitação, crédito ao consumo, mais renda para a finança. Se não quiser o crédito sou livre para me juntar ao número cada vez maior dos sem abrigo, outro triunfo do Portugal integrado na Europa. Novas liberdades, com os monopólios liberalizados tenho o direito de escolher que intermediário sediado num off-shore lucra a revender-me electricidade, ai mas que bom! Em vez de a pagar ao estado português posso paga-la ao estado chinês, brilhante não é Jaiminho?
E um estado cada vez maior porque tem que garantir as rendas a todos estes chulos privados, e só se garantem com uma burocracia pesada, com regras que protege monopólios concessionados, com impostos a socializar as perdas de cada bolha de dívida privada que estoura.
A nossa direita (ps incluído) cultivou os chulos. Os Jaiminhos passaram de putos carreiristas políticos nos anos 80 a papa-migalhas dos chulos. Não implementaram uma estratégia de desenvolvimento mas uma de roubo. Quantas indústrias ajudaste a vender e desmantelar neste país a troco das migalhas europeias, para agora vires dizer que a economia não é robusta?
« habitação podia ser paga por um trabalhador com o que ganhava» - herança de uma lei fascista, do tempo em que o escudo era moeda forte.
ResponderEliminarSe a realidade é aquilo que Jaime Santos escreve no seu comentário, eu também gostaria muito de voltar para os anos 80.
ResponderEliminarMuito provavelmente, porque nos anos 80, a exigência cultural era maior para pessoas como Jaime Santos. A noção de ridículo faria com que o próprio Jaime Santos pensasse duas vezes, antes de entrar num debate ou numa conversa.
É muito provável também que os pilares das famílias de ditos «Jose» e «Jaime Santos» estivessem ainda vivos e não deixassem estas figuras sair cá para fora e dar a sensação de embaraço e penúria, como fazem regularmente nestas caixas de comentários.
Os saudosos dos anos em que acreditaram que o Estado ia abocanhar a economia e com ela a vida de um país de miseráveis, são os mesmo que reclama mais dívida para compensar os já 50% do produto abocanhado pelo Estado.
ResponderEliminarÉ só fazer as contas.