sábado, 20 de março de 2021

Americanismos, populismos


Como já argumentei numa recensão a um livro por traduzir, Robert Kuttner é um notável economista político social-democrata norte-americano. Agora, em artigo na sua The American Prospect, Kuttner mobiliza o conhecimento do lastro regulatório, fiscal e de pleno emprego deixado pelo New Deal, e pelo seu prolongamento aditivado na economia de guerra, para sublinhar que “Biden está a gastar dinheiro para combater a crise, mas não está [ainda] a desafiar o domínio do capital”. 

Por exemplo, em linha com a melhor história financeira, sublinha-se a forma como a repressão financeira da economia de guerra libertou recursos para vários esforços colectivos sem precedentes, enquadrando a finança e controlando os seus preços. Pena que Kuttner, conhecedor da história da economia política, esqueça uma das grandes lições de John Kenneth Galbraith: o grande poder empresarial não se contraria com a ficção regulatória concorrencial, mas sim com “poderes compensatórios” estatais e sociais, que controlem as suas decisões fundamentais. 

Seja como for, Kuttner nunca deixa de terminar os seus trabalhos com uma nota de optimismo: “temos de ter esperança que a pressão da esquerda, combinada com a lógica da situação e com a ousadia crescente de Biden, empurrem a sua administração na direcção do populismo progressista”. 

E sublinhe-se o uso apologético da palavra populismo, em linha com toda uma história de lutas pelo progresso nos EUA desde o final do século XIX, sublinhada num magnifico jogo de espelhos histórico por Thomas Frank

Esta tradição é ignorada por todos aqueles que passam a vida a importar ideias do outro lado do Atlântico e a apodar tudo e todos de “anti-americanismo”, fazendo uma confusão deliberada com um venerável anti-imperialismo. Americanismos, tal como de resto populismos, há muitos.

6 comentários:

  1. O avanço das forças extremistas de direita um pouco por toda a Europa,não se compadece com meras preocupações de enfraquecimento das esquerdas,é preciso pugnar pela convergência,a unidade pondo de lado sectarismos é a via para alterar a correlação de forças........as eleições autárquicas podem ser um exemplo dessa convergência.

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    1. Esse frentismo nunca travou avanço nenhum da extrema-direita e historicamente apenas serviu a subordinação do movimento operário independente à luta pela preservação da sociedade burguesa na sua vertente liberal-democrática.De resto é ilustrativo da visão de uma dita esquerda que considera a extrema-direita uma doença em vez de um sintoma, razão pela qual nunca teve um entendimento adequado do fascismo, por exemplo.

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  2. “eles foram comprados (Alexandria Ocasio-Cortez, Bernie Sanders e outros “progressistas” do Partido Democrata)” e eles mostram isso, esta gente decidiu que as suas carreiras são mais importantes que confrontar o monólito, portanto, eles não o vão confrontar.”

    “Pessoas, como Pelosi, são vingativas e elas vão te destruir se atravessares no seu caminho, e Alexandria Ocasio-Cortez já percebeu isso”

    Chris Hedges

    Podem ver aqui

    https://youtu.be/y6VQJjvNxj4?list=WL&t=2926

    Chris Hedges conhece pessoalmente Bernie Sanders, há afirmações dele (Hedges) a dizer que Sanders não é um lutador, é uma criatura do partido e pouco mais do que isso.

    Concordo com Hedges, basta ver o que se passou em 2016 e 2020.
    O que foi feito para que Sanders não ganhasse a nomeação é inacreditável, há até evidências expostas pelo Wikileaks que apontam fraude eleitoral, nada disto foi investigado claro...
    O que é que Bernie Sanders fez? Nada, porque Sanders (e a Alexandria Ocasio-Cortez) não está disposto a destruir a sua carreira (ou que resta dela...).

    As vidas de tantos milhões vão continuar a ser degradas com o senil, anti-trabalhador e pró-guerras (incluindo a do Iraque) Biden, o desespero vai crescer e as figuras da extrema-direita vão-se aproveitar.

    Bernie Sanders, Alexandria Ocasio-Cortez e outros “progressistas” estão reduzidos ao estatuto de celebridades e angariadores de votos para o Partido “Democrata”.
    A mudança verdadeiramente progressista não virá desta gente do Partido.

    Entretanto, o senil Biden e a comunicação social continuam com a russofobia.
    "Assassino" diz o senil Biden do Putin.
    O que será que Obama e Biden fizeram na Líbia, Síria? Foi Peace and Love?
    Mal me consigo conter com tanto que mudou com a eleição de Biden...
    As crianças enjauladas (jaulas do tempo de Obama e Biden) na fronteira entre o México e EUA já podem celebrar!

    E parece que a pobreza vai diminuir, dizem, curioso, o país mais rico do mundo tão pouco ambicioso. Porque não erradica a pobreza de uma vez? Porque ficam satisfeitos com apenas uma parte fora da pobreza (será mesmo?) e tantos outros a continuar a sofrer.
    Um país como os EUA tem todos os recursos para acabar com a pobreza e ter o melhor SNS de todos, mas Biden não quer, e outros "progressistas" não querem pôr a sua carreira em risco ao lutar por isso, ficam satisfeitos como está.

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  3. Estou muito de acordo com o que foi escrito no comentário de TINA's Nemesis.
    Os chamados «progressistas», como Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez nada podem fazer contra a estrutura de corrupção montada no partido democrata que a comunicação social americana chama «the left» (a esquerda). Daí que alguns progressistas que apoiam a transição para uma verdadeira democracia (e não a ditadura de dois partidos corruptos que existe e é manietada pelo Pentágono) estejam a ser entrevistados em programas de televisão, como o de Tucker Carlson, na Fox News.
    Será muito difícil ao povo americano quebrar esta estrutura corrupta que dirige o poder e que impõe a maior fatia orçamental para a indústria de guerra e propaganda. Qualquer presidente eleito será o porta-voz do Pentágono que continua a procurar o «Full-spectrum Dominance» no planeta. A maior arma deste poder vil e malfeitor é a propaganda.

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  4. Temos sido governados pelo partido do centrão que tem levado ao enriquecimento de um grupo,a galopante corrupção o domínio absoluto do aparelho de estado.O crescimento da extrema Direita é fruto dessa politica,por outro lado as esquerdas no seu completo sectarismo não conseguem ser o pólo aglutinador do descontentamento das classes empobrecidas.

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  5. Estou de acordo com o comentário escrito pelo anónimo em 21 de março de 2021 às 10:06.

    Talvez, esta esperança na transição por um novo sistema, onde não estejam incluídos democratas e republicanos, nos leve a um novo período de protestos e revoltas.
    O final da presidência de Donald Trump, trouxe um ataque ao capitólio por parte da ala da extrema direita que se revê em Trump; como também o desfilar de africanos americanos armados, no Kentucky.
    Se o meio da corrupção persistir dentro da estrutura de poder, a América voltará a uma guerra civil. No entanto, muitos creem que há espaço para intervir e dar rumo à transição para uma nova democracia.

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