domingo, 7 de fevereiro de 2021

Um jornal para quem não desiste da igualdade


De crise em crise, os patamares são cada vez mais dramáticos. Agora, temos um plano de recuperação que é dos mais frágeis da Europa e uma obsessão com poupanças públicas e défices reduzidos verdadeiramente incompreensível (o governo gastou menos em 2020 do que ele próprio previra e deixou o défice 3,7 mil milhões de euros abaixo do que estimara). Temos uma urgência de investimento e de criação de empregos públicos, de fazer chegar apoios decentes a famílias que não podem comprar comida, medicamentos e pagar contas (entre as quais as da energia e das telecomunicações exigidas pela telescola). Temos subsídios de desemprego por pagar, tal como temos inúmeros trabalhadores fora das medidas do layoff. Temos um salário mínimo, pensões e prestações sociais que continuam muito abaixo do que é considerado um rendimento suficiente para se viver em Portugal. E temos uma União Europeia que não consegue disfarçar a exiguidade dos apoios aos Estados-membros nem as falhas do investimento que fez em parcerias público-privadas com multinacionais a quem compra as vacinas contra a COVID-19, que acumulam atrasos na entrega das doses. Os europeus estão tragicamente atrasados na vacinação. Onde está o governo português na denúncia desta situação, na defesa da diversificação das compras de vacinas ou até na contestação das patentes por motivos de emergência de saúde pública, activando os meios necessários para a sua produção? 

À esquerda, às diferentes esquerdas, cabe promover, mobilizar e apoiar todos os combates pela igualdade. Cabe-lhe opor-se a toda a direita, sem se deixar afunilar numa oposição àquela parte da direita que não é democrática, como se o combate fosse entre «democratas» e «não democratas». Porque, em rigor, no tempo presente, não é dessa direita autoritária que os explorados e os mais vulneráveis se queixam. É da democracia que lhes vem matando a esperança.

Sandra Monteiro, Combates pela igualdade, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Fevereiro de 2021.

8 comentários:

  1. «o governo gastou menos em 2020 do que ele próprio previra»

    O maior défice de que há memória em tempo de paz!

    A falsidade de pretender ignorar que os orçamentos são jogos de aparência, manobras de propaganda, sem outro propósito de gerar fingidos acordos entre adversários, na certeza que nem rectificados serão e que por tal serão glorificados como triunfos da mentira:

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    1. José e o tempo de paz
      Este não se enxerga. A insensibilidade ideológica confirma que a sua ideologia não presta Nem as suas manobras de propaganda a ela, que nem merecem glorificações e que não passam de tretas

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  2. “Quais gigantes? – disse Sancho Pança
    Aqueles que ali vês – respondeu o amo – de braços tão compridos, que alguns os têm de quase duas léguas.
    – Olhe bem Vossa Mercê – disse o escudeiro – que aquilo não são gigantes, são moinhos de vento; e o que parecem braços não são senão as velas, que tocadas do vento fazem trabalhar as mós.
    Bem se vê – respondeu Dom Quixote – que não andas corrente nisto das aventuras; são gigantes, são; e, se tens medo, tira-te daí, e põe-te em oração enquanto eu vou entrar com eles em fera e desigual batalha.”
    Miguel de Cervantes

    Um dos problemas dos Sanchos Panças do século XXI é que já nem moinhos vêem, vêem-se a si mesmos e acreditam que são "gigantes" e eu pergunto-me, em quê? São gigantes na ilusão, na ignorância, na alienação, na falta de humanidade de humildade ou em tudo e muito mais?

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  3. Bom, a citação de Cervantes é manifestamente usada ao lado. Sancho Pança a ver-se como gigante é de quem nunca leu Quixote

    A direita veste Prada. E usa perfume da desigualdade

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    1. "Pança a ver-se como gigante é de quem nunca leu Quixote" aí está um ponto ao qual serve a citação ajusta-se como a Prada ao outro .. Começa por fazer uma auto-critica e depois se quiseres falar sobre Cervantes ou Quixote estarei disponível. Abraços ;)

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  4. Que disparate é este?

    Alguém tem o "trabalho" de ir buscar um pequeno excerto do D.Quixote.

    A que propósito?

    Para depois extrair uma conclusão idiota que revela que é um ignorante sobre a obra de Cervantes?

    E depois em linguagem quase cifrada atira a bola para a frente, impõe uma auto-crítica surreal ao outro e ainda por cima quer falar do que manifestamente não sabe?

    Isto faz-me lembrar uma história cómica sobre alguém que também afirmara que lera o Cândido de Voltaire.

    (Interessa de facto analisar esta questão porque revela mais coisas do do que seria suposto revelar)

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  5. Entretanto, sobre a farsa orçamental que está em execução há já um quinquénio, nada a dizer?

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  6. Farsa é estarmos à espera do diabo montado em Passos Coelho e nada. Estes Orçamentos não deixam saudades, mas os de Passos, da troika e dos farsantes que os acompanhavam, ainda muitíssimo menos

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