Seja como for, registei algumas ideias de Adorno, na tradição da economia política, no meio de pontos de interrogação e de exclamação, polvilhados pelo pequeno livro, incluindo o posfácio, que ocupa metade da obra.
Assim, entre “os pressupostos sociais dos movimentos fascistas” contam-se a “tendência para a concentração do capital” e a associada “possibilidade de degradação de classes sociais que, de acordo com a sua consciência de classe subjetiva, se considerariam realmente burguesas”, sublinhando o “medo das consequências da evolução da sociedade” e considerando que “os movimentos fascistas poderiam ser considerados as cicatrizes de uma democracia que continua, até hoje, a não corresponder plenamente ao seu próprio conceito”.
O problema central da economia política é hoje a tendência do capitalismo para a desdemocratização, particularmente acelerada na e pela UE. Olhem à vossa volta: a insegurança social fruto da impotência democrática nacional, o desespero, o medo, a vontade de dar uma abanão nisto em segmentos despolitizados e em despromoção social acentuada das classes intermédias, a eficácia de uma certa propaganda que chega à televisão controlada por piratas laborais, “meios racionais para fins irracionais”, como assinala Adorno, muito pode laborar a favor de Ventura; ainda para mais no contexto de um confinamento de duração indefinida, que não terá, nem de perto, nem de longe, o mesmo grau de consentimento do anterior.
Quem não quer falar de capitalismo, não pode falar de fascismo, como lembrava um co-autor de Adorno chamado Max Horkheimer. Hoje, aqueles, à esquerda e à direita, que não querem falar criticamente de neoliberalismo, da forma ainda dominante de economia política, e que ainda são capazes, por exemplo nesta campanha presidencial, de defender as instituições supranacionais que garantem a sua perpetuação em parte do continente europeu, não têm grande autoridade para falar sobre tendências fascizantes que lhe são endógenas.
Neste contexto, uma certa oferta racista, promovida por gente com todos os pergaminhos universitários, contribui para gerar uma certa procura, perante a complacência de quem tem a obrigação de fazer respeitar uma Constituição desenhada para impedir objectivamente certas ofertas: “ou se está com a policia ou com os ciganos”, declarou Ventura.
Se sublinho os pergaminhos académicos de gente como Ventura é para contrariar a ideia perversa, segundo a qual o problema político residiria na, se resumiria à, falta de qualificações. Sim, o discurso fascizante também é promovido por doutorados, de André Ventura a Fátima Bonifácio. Isto não é novo, claro.
E, sim, as organizações da classe trabalhadora foram e são dos melhores baluartes democráticos e anti-fascistas. O problema é mesmo a desorganização, a fragmentação, promovida por esta forma de capitalismo. Quem não quer falar do trabalho organizado, não pode falar de anti-fascismo, quer como programa negativo, de resistência, quer sobretudo como programa positivo, de construção de um Estado fundado na defesa de quem cria tudo o que tem valor.
Cumprir e fazer cumprir a nossa Constituição, a que ainda tem traços de Abril, no fundo.
Convém não esquecer que o fascismo, nas versões original (Italiana) e nas versões subsequentes foi a reação do capitalismo à revolução bolchevique de 1917.
ResponderEliminarO próprio inventor do fascismo começou por ser socialista, até ser "integrado" na elite Italiana.
Não se esqueçam ainda que esta personagem que anda por aí a poluir o ambiente foi promovida a comentador de futebol (do clube com maior número de adeptos, claro), que alguém pagou e que tinha o objetivo de acostumar os telespectadores (eleitores) ao estilo analfa-bruto do futuro candidato a PM, a PR e ao que mais se verá.
Imaginem, por hipótese e daqui a 5 anos, o pessoal a votar em massa no Portas, para evitar o v*ntura chegue a Belém.
Essa ideia é difundida no ventre do fascismo.
EliminarE revela uma impressionante ignorância
Este tipo vem de onde?
Um excelente texto.
ResponderEliminarQuanto ao primeiro “comentário” Ê demasiado aldrabão para se perder tempo com ele
O essencial na versão comunista do fascismo é desligá-lo do totalitarismo do Estado e fazê-lo gerido por um qualquer Grande Sinédrio de capitalistas predadores.
ResponderEliminarMesmo o referi-lo ao domínio do Estado por um Partido Único (tipo União Nacional), sendo a base da tradição 'antifascista' lusa, não lhe é atraente.
O que vale para o todo vale para o particular, a personalidade autoritária do Adorno é-lhe muito inconveniente instrumento de trabalho.
Porquê inconveniente? Para José?
EliminarÊ ler o escrito e tentar meter a sua União Nacional no sítio onde deve estar
"Pedro",um sujeito que se arrastou por aqui durante largos anos,tinha aparentemente a mesma ignorância cabotina do sujeito das 9 e 39.
ResponderEliminarOscilava entre o rebolucionário e um "não me toques que não sou de esquerda nem de direita".Pelo meio e sistematicamente boicotava o debate, insultando posts e autores.
Pedro um dia "enganou-se" e apareceu com a sua verdadeira face. Afinal não era outro senão um tal de pimentel ferreira e desnudou-se como um ventura antes de Ventura, elogiando o "estado social"de Hitler e assumindo-se como um racista semelhante a um daqueles tipos que nos USA usam na cabeça um capuz branco.
Vem tudo isto a propósito do primeiro comentário deste post.
Repare-se objectivamente no que este tipo faz.
Tenta branquear o fascismo: "Convém não esquecer que o fascismo, nas versões original (Italiana) e nas versões subsequentes foi a reação do capitalismo à revolução bolchevique de 1917".
Deixemos por enquanto a idiotice das versões originais e das subsequentes. Eis o Fascismo apresentado como "reacção do capitalismo à revolução bolchevique"
Ora acontece que os primeiros movimentos fascistas surgiram em Itália durante a I Guerra Mundial, tendo-se posteriormente expandido para outros países europeus
Antes da referida Revolução bolchevique
O fascismo "não é um produto maléfico saído da psique perturbada de alguns chefes, não é a expressão de características específicas de certos povos ou etnias, em suma, não é uma aberração política e ideológica misteriosa que se abate inopinadamente, como uma pandemia, sobre o liberalismo oligárquico e as sociedades europeias do pós-Primeira Guerra Mundial. [...] O grande cenário para a emergência dos fascismos na Europa é a crise do sistema liberal. [...]"
"Antes de mais, o fascismo progride em conjunturas de crise da economia capitalista e da cultura social e política que lhe está associada. Ele esconde-se por detrás de reações ultraconservadoras à sociedade de massas, incorporando, contudo, um discurso modernizador e metodologias de mobilização social e política adaptadas às caraterísticas próprias da massificação, o que se tornou, logo nos anos 1920, uma das mais seguras garantias do seu sucesso.
ResponderEliminarOs fenómenos de concentração capitalista, como aqueles que correspondem à atual fase de desenvolvimento capitalista, com a consequente ameaça de proletarização das classes médias, produzem habitualmente formas de discurso anticapitalista reacionário, que diz pretender o regresso a formas corporativas protegidas, de organização da economia e da sociedade, de atividade económica, aparentando recusar por igual concentração e coletivização, ainda que, socioeconomicamente, a História tenha amplamente demonstrado que a primeira foi uma das mais evidentes consequências da prática política do fascismo.
Chegado ao Poder, conquistada a hegemonia no plano do Estado, os fascismos submeteram as classes populares, e muito particularmente os assalariados, em evidente colaboração de classe com um patronato industrial e agrário, assegurando sempre o consenso com os grandes interesses patronais.
Particularmente popular entre os setores social e economicamente menos seguros da burguesia, essas novas e frágeis classes médias que o avanço da escolarização, da urbanização e da terciarização propiciou a partir da I Guerra Mundial, o fascismo emergiu nos anos que se seguiram ao triunfo da Revolução de Outubro como forma brutal de reação ao avanço do movimento operário, reforçado este pelo empenho (e consequente desilusão profunda) das massas no esforço de guerra e pelo triunfo e resistência da revolução soviética.
O pânico antirrevolucionário que viveu a classe dominante e que se estendeu às classes médias foi certamente terreno lavrado para a sementeira fascista, mas é necessário termos bem presente que a grande maioria das experiências fascistas e fascizadas tiveram êxito em momentos de refluxo, e não de avanço, do movimento operário: desde a Itália do fim de 1922 à Alemanha de 1933, passando pelas ditaduras reacionárias que se implantam por toda a Europa meridional e do Sul durante o período, os fascismos instalam-se no poder de forma mais preventiva face à possibilidade de reemergência da capacidade revolucionária do movimento operário, num momento em que esta se perdera ou estava em vias de se perder.
Efetivamente, nem o triunfo de Mussolini ocorre nos anos (1919-20) de mais intensa mobilização revolucionária em Itália, nem Hitler é chamado ao poder pela burguesia mais reacionária em 1919 ou em 1923, quando o movimento espartaquista/comunista alemão conseguiu reunir o maior consenso na classe operária alemã em torno de uma alternativa revolucionária; e muito menos as ditaduras antirrevolucionárias se instalam no poder em Portugal, em 1926, ou na Áustria em 1934, confrontando movimentos revolucionários no clímax da sua capacidade sociopolítica, ainda que, pelo contrário, essa situação possa configurar os casos do levantamento militar franquista na Espanha de 1936.
O fascismo não foi meramente um estádio conjuntural da evolução do capitalismo e do imperialismo europeus, porque não só esteve e está presente fora da Europa e não foi completamente superado pela derrota militar do nazismo em 1945. Pelo contrário, ele emerge como proposta permanente de práxis política dos setores mais violentos da classe dominante da sociedade capitalista"
A coisa continua feia com a história do "inventor do fascismo (ter começado) por ser socialista, até ser "integrado" na elite Italiana"
ResponderEliminarBom, essa do inventor do fascismo parece tirada de um manual idiota contado para idiotas
Tentar colar o fascismo ao socialismo tem antecessores "brilhantes" como aquele conhecido trapaceiro, jose rodrigues dos santos que apregoava que "o fascismo tem origem marxista". Ora bem. Dizer tal porque Mussolini foi socialista antes de fundar o fascismo, é o mesmo que dizer que a origem da religião é o ateísmo porque um ateu se converteu à igreja católica."
Ou se quisermos que por Mário Soares e Durão barroso terem sido "marxistas" na sua juventude, o PS e o PSD partilham a mesma origem ideológica que o PCP
Só de um idiota ( mas perigoso) como JRS. Ou de um seu émulo.
O resto é a promoção disfarçada de ventura , apresentado como analfa-bruto (como se sabe "o discurso fascizante também é promovido por doutorados, de André Ventura a Fátima Bonifácio. Isto não é novo, claro", menos para este tipo)
ResponderEliminarOu será apenas a promoção às claras de Paulo Portas com o "pessoal" a votar em massa no homem dos submarinos?
Este tipo sempre gostou da segunda derivada de Passos Coelho.Portas era a primeira.
Está explicada a propaganda à direita e à sua extrema