terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Para quê?


“O Alentejo votou em Ventura em 2.º lugar. Os extremos tocam-se e a ditadura do proletariado cruza-se com a da extrema-direita. Há valores de ordem e segurança comuns, assim como de uma liderança forte, autocrática.” Como é que um intelectual de esquerda, que até apoiou Marisa Matias, pode escrever tais despautérios, como é que André Lamas Leite pode escrever isto no Público?

As falsidades encavalitam-se em tão pouco espaço. Comecemos pelo fim. Alguém com o mínimo de seriedade pode colocar no mesmo saco André Ventura e Jerónimo de Sousa, as manipulações de Ventura e a legitimidade de Jerónimo? Alguém pode colocar no mesmo saco a experiência de décadas de poder local democrático, de trabalho honesto, e as aldrabices do Chega? Alguém que tenha estudado alguma coisa destes assuntos políticos pode colocar no mesmo saco a segurança social e o securitarismo, o Estado social e o Estado penal? O preconceito de classe não substitui a análise.

Será que Lamas Leite ignora que os comunistas foram parte essencial do combate anti-fascista, que há muitas décadas têm um programa de democracia avançada, valorizando as diferentes componentes da democracia, incluindo a política, de resto em linha com o contributo decisivo que deram para a Constituição de 1976? Que houve milhares de experiências de participação democrática por este país afora que foram espoletadas por esta cultura e pela sua militância?

Finalmente, será que Lamas ignora a projeção nacional, esperemos que circunstancial, de Ventura, a forma como qualquer análise de transferências eleitorais entre presidenciais expõe o ridículo empírico de um argumento que está na moda no desinformado extremo-centro? Aconselho a leitura da parte informativa do jornal de hoje onde escreveu isto, atentando nos mapas coloridos que lá estão.

Estes colunistas de esquerda, para quê?

10 comentários:

  1. Para isso que estamos a pensar

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  2. O discurso xenófobo anti-RSI-para-o-Cigano era dirigido ao Alentejo em especial.
    O ch*ga quer substituir o PCP no Alentejo e usa a demagogia para o efeito.
    O ch*ga não quer saber dos Alentejanos para nada.
    Ou melhor, há alguns Alentejanos que o ch*ga defende: os descendentes dos antigos latifundiários.
    Percebem agora o interesse pelo Alentejo?

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  3. Análises tão primárias custa ler
    Com v^enturas ou sem venturas

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  4. Estes colunistas de esquerda para quê?

    Para normalizar, elevar o "Chega" e denegrir o PCP...

    Parece que há gente dita de "esquerda" que estava desejosa que a extrema-direita crescesse para depois serem convidados pelos jornais e TVs para explicar ao povo(que eles desprezam) como não há qualquer diferença entre o "Chega" e o PCP.

    Let me guess...
    É André Lamas Leite um apoiante fanático do "europeísmo"?
    Se sim, isto explica tanto...

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  5. Costumo ler os artigos que este Sr. "escreve" no Público e sinto que há por ali muitos zig-zag.
    Ou seja, a sua objectividade é algo curvilínea, própria de alguém que "reza a vários deuses" mas que ainda não decidiu qual deles deve, de facto, adorar.
    Resta-nos ter fé, na medida em que a racionalidade não existe em religião alguma.

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  6. Mantém-se como sem alternativa o primarísmo analítico de alguns. Será de propósito? Para encher chouriços. Para ganhar apostas?

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  7. Vou, com tristeza mas com convicção, ensaiar uma resposta para a pergunta do João Rodrigues(Como é que um intelectual de esquerda, que até apoiou Marisa Matias, pode escrever tais despautérios?). Pode escrevê-los, porque na verdade - e esse é um problema central, incontornável de todos os debates e combates políticos que enquanto país temos pela frente, nem tudo o que se diz de esquerda (para lá de saudáveis e legítimas diferenças de opinião) assenta as suas bases no mesmo solo consistente. O reconhecimento de uma sociedade estratificada em classes corresponde a um núcleo fundamental dessa afirmação de uma esquerda que, sendo antes de mais uma esquerda de classe, é depois e por força disso uma esquerda de valores e princípios. Naturalmente que na convulsão permanente que é modus vivendi no interior das sociedades capitalistas, abre-se espaço para outras formações, guiadas por um certo pragmatismo a-ideológico, que prima pelas causas fracturantes e pelo modismo, erguendo as bandeiras só depois de ver bem para que lado sopra o vento. No entanto - é preciso não o esquecer - entre as condições que viabilizam, por um lado o aparecimento de tais forças, por outro lado a sua ascensão quase sempre meteórica (já tivemos um PRD, há muito anos atrás, que era uma versão mais chã), há uma que os fiadores lhe impõem desde a primeira hora: a de que, como regra, junte a sua voz ao anti-comunismo mais primário, ainda que o façam em nome dos mais elevados valores da contemporaneidade. Aliás, a líder gosta de encher a boca a falar de pessoas (e não de operários ou reformados ou outras referências anquilosadas do mesmo jaez), o que me traz à memória a invocação dessa visão Thatcheriana de que não há sociedades, mas apenas indivíduos. Portanto e sintetizando, respoondendo à sua pergunta João Rodrigues: pode escrever assim porque essa é também (que não apenas, evidentemente) uma parte importante do caldo de cultura político-ideológica e partidária que constitui o seu habitat natural.

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  8. Nada de grandemente novo: o BE, e sem prejuízo da convergência em muitos e importantes temas, é e será o coito dos oportunistas de esquerda, a sala de repouso dos que desde 91 são incapazes de um pensamento que vá contra o que seja considerado "impopular" pela comunicação social dominante: no 25 de Abril é vê-los a tocarem tambores e a serem muito "revolucionários" para meses depois condenarem Cuba e seja quem for que tenha de ser denegrido na altura. Que repita aqui uma série de lugares-comuns de direita para ao abrigo do "totalitarismo" e "autocracia" dizer o mesmo que a ideologia hegemónica é apenas mais um (triste) episódio de quem está sempre tão preocupado com o "sectarismo" dos outros mas que cumpre o seu papel histórico de forma obediente.

    Triste, mas não surpreendente. E convém ter isto em conta, há excessiva passividade com este discurso no contexto de não atacar "a esquerda".

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  9. A propósito, Ana Gomes - a própria e não algum dos seus apoiantes - atacou João Ferreira na recta final da campanha, acusando-o de ter "uma agenda anti-europeia e anti-direitos humanos" (https://expresso.pt/presidenciais2021/2021-01-20-Ana-Gomes-dispara-a-esquerda-e-a-direita).

    Não por acaso, coube a Francisco Assis, há cerca de um ano, o papel de primeiro defensor mediático de uma candidatura de Ana Gomes a Belém. Reagindo a essa proposta, a comentadora política da SIC Notícias (https://sicnoticias.pt/programas/ana-gomes) e ex-eurodeputada do PS disse que uma candidatura à Presidência da República não estava nos seus objectivos. Talvez para evitar que a imagem da futura candidatura - desejada por quem manda nesse canal de TV - ficasse demasiado colada à da ala direita do PS, perdendo assim capacidade de atracção do chamado "voto útil" de esquerda...

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  10. A comparação entre estes dois modelos autoritários e ditatoriais é bastante comum na europa e no Parlamento Europeu, na boca do PPE , na maioria dos casos usada por MEP alemães da antiga RFA. Pena é ser uma análise distorcida da História. Mais uma vez trata-se de uma importação de termos de um debate político que não faz o mínimo sentido no caso português. è comum ler nas redes sociais que a UE adoptou essa comparação do passado como verdade histórica. O que não se diz é que apenas se trata de uma declaração política de uma maioria circunstancial no PE. Cola aliás com o debate nos EUA onde Socialismo é um papão co ligações ao passado mas sem chão na europa e muito menos em Portugal. É comum ouvir o deputado Ventura a usar o termo Socialismo como que assusta criancinhas com o lobo mau. Já alguém lhe perguntou a que Socialismo ele se refere? Quanto ao Alentejo, para lá de João Ferreira ter conseguido quase os mesmos votos de 2016 (não me ocorre agora o nome do candidato da CDU) havia muito terreno abstencionista por lavrar para votar no candidato apoiado pelo Chega , na maioria oriundo da direita tradicional. Deixo uma pergunta: não será o resultado do Ventura no Alentejo uma réplica do que aconteceu em Espanha com o Vox na Andaluzia em primeiro lugar? Efeito de estufa, olival comandado a partir de sala com ar condicionado em Lisboa, e resort com sotaque brasileiro em terras alentejanas pode bem dar nisto.

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