Como é bom perceber, mesmo com alguma angústia à mistura, que a Comissão Europeia está na luta por aquilo que vai fazer toda a diferença, o ritmo de fornecimento das vacinas pelas farmacêuticas. Que diferente seria a nossa capacidade negociadora se não estivéssemos integrados na UE...
Esta miséria editorial fica para memória futura como expressão máxima do dogmatismo eurófilo do Público, o que só gera vulnerabilidade e desconfiança em relação às capacidades do país. E estamos em plena pós-verdade. Como já aí argumentei há uns anos, esta tem mesmo origens europeias, o que de resto se confirma se atentarmos na correspondente desse jornal em Bruxelas, Rita Siza. Mais valia darem um espaço à Comissão Europeia. Seria mais honesto para com os leitores.
Até Teresa de Sousa, que pelo menos resume com alguns dias de atraso a imprensa internacional de referência, e que distância em relação ao que passa por referência por cá, consegue aflorar a verdade na sua coluna: A União Europeia quis poupar nas vacinas. Está a colher o que semeou. Uma desorientação e incompetência totais, com volte-faces diplomáticos humilhantes em relação ao Reino Unido. E, sim, na Alemanha devem estar ainda mais cheios de vontade de transferir dinheiro para Bruxelas e daí para as elites do sul, mesmo que seja em troca da aquiescência face a um sistema económico-político que beneficia as elites do norte.
Entretanto, se nem um sistema de provisão de vacinas conseguem organizar, ao contrário de tantos Estados desenvolvidos, podemos mesmo contar com esta gente, toldada pelo dogmatismo liberal e pelo austeritarismo, para enfrentar a urgência climática ou a crise socioeconómica. E o problema é mais profundo, já que a UE está desenhada para um mundo pós-nacional, uma utopia liberal que gera consequências distópicas, como se vê.
Só podemos contar com as capacidades colectivas nacionais, com a cooperação internacional, entre nações, notem, e com uma política externa reconstruída, que começa por uma política interna decente, recuperando instrumentos de política perdidos graças a uma integração disfuncional. E isto reconhecendo que a política externa é mais do que um prolongamento da política interna, já que tem de dar alguns saltos realistas.
Enfim, perguntar não custa neste contexto desgraçado: quando vamos deixar de esperar e aproveitar as vantagens de sermos relativamente pequenos e bem vistos, virando-nos muito mais para leste em busca de outras vacinas e eventualmente dos meios para as produzir, como já estão a fazer a Hungria ou a Sérvia, está última com 4,6% da população já vacinada a meio da semana, o segundo país europeu a seguir ao Reino Unido, aproveitando que Marcelo Rebelo de Sousa recebeu um telefonema de Xi Xiping a parabenizá-lo pela reeleição ou que o Primeiro-Ministro António Costa cultiva boas relações com a Índia?
Realmente, é preciso pelo menos tentar pensar fora da caixa negra do europeísmo. O mundo mudou, a multipolaridade gera oportunidades, e estamos muito atrasados no reconhecimento consequente de que há vida fora da UE. Mas para isso também precisamos de jornais com outra linha editorial. Tudo conta.
Convém não esquecer que o público pertence a uma das oligarquias maiores (se não a maior) deste País.
ResponderEliminarOu seja, pertence a uma das parcelas dos 1% da população que beneficia da segurança social dos ricos, garantida pelo OE, com os cumprimentos da UE.
Pessoalmente, não gasto 1 cêntimo que seja a comprar o pasquim.
«Quis poupar nas vacinas»
ResponderEliminarHaveria de ter promovido a exploração pelo capital oportunista?
«Até Teresa de Sousa, que pelo menos resume com alguns dias de atraso a imprensa internacional de referência (...)»
ResponderEliminarAh, Ah, Ah! Muito bom!
Jose suspeita-se que, com os seus negócios e as suas negociatas, ainda não percebeu nada. Ou talvez sim e aposte no cavalo que o tem sempre levado a bom porto. Os seus negócios e as negociatas tiveram que mudar desde que caiu do cavalo em Abril de 74.
ResponderEliminarAgora está nisto. Em panfletário europeísta, a tentar justificar o injustificável
Alguém aguarda uma suspeita segurança social dos ricos, que como se sabe não é nada. Eles não precisam disso, ela não é garantida pelo OE e sobretudo a protecção do Capital vem da própria UE, de forma estrutural, nem em comprimento, nem com cumprimentos.
Os pasquins existem e não vivem do dinheiro de cêntimos.
A areia também existe
"Só podemos contar com as capacidades colectivas nacionais, com a cooperação internacional, entre nações, notem, e com uma política externa reconstruída, que começa por uma política interna decente, recuperando instrumentos de política perdidos graças a uma integração disfuncional".