terça-feira, 19 de janeiro de 2021

O direito à vida antes do direito de propriedade


Se o Governo não quiser ficar isolado neste momento difícil, terá de fazer a requisição imediata dos hospitais privados. Por requisição entende-se o resgate para o controlo público da capacidade instalada privada por valores que não ultrapassam o custo marginal de utilização do doente: ou seja, sem negócio.

Se insistir em não o fazer, o governo ficará encurralado entre as lágrimas de crocodilo dos falsos defensores do SNS, como o Bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, Ricardo Mexia ou o deputado e médico Ricardo Batista Leite (este último que protagonizou um vídeo recente com informação falsa a descrever o alegado caos no Hospital de Cascais), personalidades que nunca estiveram nas lutas pelo reforço do SNS, e as pessoas e partidos à esquerda, que não podem ajudar no combate a esses falsos moralistas enquanto o Governo não garantir que toda a resposta possível está a ser dada.

O direito de propriedade não é um direito sagrado e inviolável. Sobretudo, nunca se sobrepõe ao dever que o Estado tem de zelar universalmente pela saúde dos seus cidadãos. Fazer a requisição dos hospitais privados ontem já era demasiado tarde. Se o governo e a Ministra da Saúde ainda têm a esperança de sair desta crise como defensores da saúde pública e universal, têm de afrontar os interesses privados o quanto antes. Não o fazer é consentir perder vidas para garantir a propriedade privada. Não há credibilidade de um governo de esquerda que sobreviva a isso.

Sabemos que um dos grandes obstáculos a esta solução mora em Belém. Também por isso é necessário mostrar no Domingo que não votamos em afetos ocos, mas naqueles que, neste cenário, há muito teriam exigido o controlo público da hospitalização privada.

 

9 comentários:

  1. Boa tarde.
    Quanto ao deputado do PSD e aos comentários que ele teceu sobre o hospital de Cascais, estou à espera que a administração do hospital venha a público desmentir que não há caos nenhum.
    Como estou à espera que os de Loures e de Setúbal e de Almada venham fazer o mesmo, de que não há caos nenhum.
    Estou à espera disso, do que dirão, para comparar com aquilo que sei de fonte segura familiar/ médica.
    Quanto ao de Sta Maria, para lá do que sei pelas mesmas fontes, bastava-me saber o que aconteceu com o meu cunhado mais velho entre 28 Dez e 7 JAN. E também sei que o S.João estará a lidar melhor com as dificuldades.
    A. Cabral

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  2. "O direito de propriedade não é um direito sagrado e inviolável. Sobretudo, nunca se sobrepõe ao dever que o Estado tem de zelar universalmente pela saúde dos seus cidadãos"

    O zelo pela Saúde é um dever do Estado, não um direito individual.

    Digno de Marx

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  3. Se os hospitais privados trabalham com médicos e enfermeiros à tarefa e se a maior parte deles são funcionários do SNS, que preenchem o tempo livre com biscatada nos privados, de que serve requisitar os hospitais privados?
    As camas não cuidam dos doentes, que eu saiba.
    O que está mal no SPS (Sistema Privado de Saúde) é, principalmente, o modelo de negócio e o modelo de financiamento.
    O modelo de negócio foi construído sobre o pilar da ADSE.
    Mas os planos da elite (cujos instrumentos sempre foram PS e PSD) prevêm reduzir o número de funcionários públicos ao mínimo, o que permitirá entregar os serviços que eles prestam aos oligarcas privados (incluindo os do SPS).
    Ou seja, a ADSE está e continuará a reduzir-se.
    Então, se a ADSE vai extinguir-se a prazo, porquê a explosão do SPS?
    Porque as elites querem acabar com o SNS e ficar apenas com o SPS.
    Se se derem ao trabalho de ver, é isso que está nos programas do ch*ga e do il: acabar com o SNS.
    O modelo de financiamento é aquilo que nos entrou na carteira e vai continuar a entrar.
    O SPS foi construído com dinheiro dos bancos.
    Os acionistas não meteram lá um único cêntimo.
    E agora pensem: quem é que vai pagar aquilo?
    Se o negócio fosse florescente, seriam os lucros que pagariam as amortizações e os juros (se os bancos não estiverem a pagar pelos créditos...).
    Mas o negócio está afogado em dificuldades, a menor das quais será a feroz concorrência (é ver o que aconteceu ao hospital do Senhor do Bonfim em Vila do Conde).
    E então, vamos ter os bancos afogados em crédito mal parado, para além de tudo aquilo que já estava acumulado.
    No final, para salvar o sistema financeiro e pagar aos bancos alemães e franceses (o QE do BCE encheu de liquidez o sistema financeiro franco-germânico, que tiveram de se livrar das reservas e emprestar aos bancos Portugueses, Espanhóis, Italianos e Gregos aquilo que acumulavam nas contas de banco central), o Estado Português nacionaliza os calotes e temos aí mais 10 anos de austeridade, para acumular aos 10 que já levamos no histórico.
    Alguns já estão a contar com isso.

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  4. Anónimo das 15:29 vai ser tudo expropriado e só é pago o que é possível de pagar, não há fórmulas mágicas, a única magia que existe é a repressão que é só o pior dos controlos.

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  5. A ronda dos chacais continua.
    Sobretudo quando há textos que acertam no alvo

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  6. Para quem não percebeu:

    "O direito de propriedade não é um direito sagrado e inviolável. Sobretudo, nunca se sobrepõe ao dever que o Estado tem de zelar universalmente pela saúde dos seus cidadãos"

    A saúde pública deve sobrepor-se aos direitos individuais. Como esta pandemia tem demonstrado à evidência. Mesmo que contra todos os mantras neoliberais

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  7. Fico sempre espantado que se falem em custos sem que se possa invocar os custos apurados no serviço público.
    A questão é simples: tem o Estado idoneidade para determinar os custos no privado quando não publica os seus próprios custos?

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    Respostas
    1. Os lucros do privado é que não são publicados
      Como se sabe muitas vezes limpos nos offshores.
      Fica espantado o José mas ele foi dos que defendeu os governantes offshores e os offshores dos empreendedores
      E agora vem para aqui com palhaçadas?
      Não ê possível relembrar as cenas do José?

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    2. Caro José, a questão é simples, mas não é essa.

      Correcto seria: devem os privados lucrar com a miséria/ morte dos cidadãos?

      Ou: o direito à vida deve ser sonegado em prol dos interesses dos privados?

      Ou ainda: porque é que sempre que acontecem misérias/ desgraças/ calamidades etc aparecem sempre uns cretinos a achar que os pobres é que devem pagar a factura?

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