quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Antes e depois do suspiro de alívio

Houve um suspiro democrático de alívio internacional: Donald Trump foi derrotado, embora por uma margem pequena, tendo obtido o segundo maior número de votos da história eleitoral dos EUA. Num país onde tudo conspira para reduzir a participação eleitoral a menos de metade da população adulta, dois terços dos norte-americanos participaram desta vez no processo eleitoral. E este ainda contém demasiadas marcas da origem constitucional norte-americana, desconfiada da democracia e dos seus efeitos na propriedade privada. 

Mas quem é que ganhou as eleições? O sentimento anti-Trump encarnado por Joe Biden, o nome disponível numa campanha sem inspiração e sem direção clara, demasiado investida em conquistar republicanos nos subúrbios prósperos, tomando, uma vez mais, grupos subalternos inteiros por adquiridos.  

O problema é este: se Joe Biden for fiel ao seu percurso, as mesmas causas produzirão os mesmos efeitos. Ou seja, um novo Trump ou um qualquer continuador ainda mais competente. Senador durante décadas de um pequeno paraíso fiscal, o Delaware, Biden é a encarnação dos chamados novos democratas, da precoce Terceira Via em estilo norte-americano, do extremo-centro da era Clinton, o que foi atrás dos que, de Reagan em diante, mudaram o centro da política cada vez mais para a direita. 

Rompendo com a herança do New Deal e da promessa de transformação aberta pelas lutas dos direitos cívicos, cuja componente de aspiração à igualdade socioeconómica geral não deve nunca ser subestimada, todo um sonho, todo um arco da justiça, foi derrotado na economia política. Os democratas especializaram-se no abandono de segmentos das classes trabalhadoras aos ventos da globalização por si semeados, chegando até muitos dos que sentiram as tempestades a ser considerados “deploráveis”.

O resto do artigo pode ser lido no último número da Manifesto, já disponível nas bancas e, ao que sei, a esgotar rapidamente em algumas delas.

5 comentários:

  1. Há quem suspeite que a crise financeira global de 2008(GFC) foi provocada por uma greve de capital, ocorrida nos EUA, na sequência da eleição de Obama.
    Se Obama vergou a espinha e tudo fez para aplacar as fúrias capitalistas, que deveremos esperar do vice?
    Ora, se até o principal conselheiro para os assuntos económicos escolhido por Biden - Larry Summers - é o mesmo de Obama e Clinton, acho que estamos falados.
    Percebem agora porque razão Trump tem tantos seguidores?
    Estão todos fartos!
    Se repararem bem, não é muito diferente do sketch ch*ga aqui entre nós.

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    1. A greve do capital e este a impingir-nos a greve da inteligência Mais uma

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  2. Porventura. Mas o Biden centrista ganhou e os eleitores democratas deixaram o social-democrata Sanders pelo caminho. E não me lembro de nenhum socialista, desde Mélenchon, Haddad, Corbyn que tenho travado um populista. Por isso, João Rodrigues, não vale a pena ficar nas margens a arengar contra a vida tal como ela é.

    Você perdeu e vai continuar a perder, porque os eleitores centristas não votam em esquerdistas e o eleitorado branco de classe operária está por agora perdido para a Esquerda.

    Regressará quando perceber que foi enganado (basta olhar para a incompetência criminosa de Trump ou Johnson na luta contra a pandemia ou para o acordo final do Brexit, que dá à UE praticamente tudo o que queria e ainda acaba com os direitos do sistema financeiro britânico, o que a prazo até pode ser positivo para o RU, note-se, mas vai provavelmente ser muito negativo para já)? É pouco provável...

    Mas se assim for, terá o que quer e provavelmente merece ao apoiar nacionalistas. Pois que comam 'croissants simbólicos'...

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  3. "Ficar nas margens e arengar contra a vida"

    Deixámos a imagética das grilhetas. Passámos para os convites assim para o manhoso. Do género dos cobardezitos, que pedem para te juntares a eles, se os não podes vencer


    Mas sublinhe-se a grosseria desnecessária deste JS: "você perdeu e vai continuar a perder".

    (Nunca ninguém lhe atirou à cara quando da sua humilhação sofrida pela ruptura das grilhetas que o Brexit provocou e das suas cenas patéticas em relação ao tema.)

    Mas o que fazer? JS agora está numa de "centrismo". Assim do género de Macron ou de Biden.
    Mudando o centro da política cada vez mais para a direita.

    Até quando?

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  4. Uma nota derradeira

    Os brioches recomendados por Maria Antonieta ao povo faminto da França pré-revolucionária terão alguma analogia com os croissants de JS? Ou vice-versa?


    JS e a sua tristeza de "centrista". Já com essa idade, já tantos anos passados sobre a Revolução Francesa e ainda lhe está atravessado na garganta esse grande momento histórico

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