No seguimento da última nota - barbárie ou o quê? -, aproveito para deixar por aqui uma das palavras para lá da pandemia: socialismo. Soberania e desglobalizar são palavras indissociáveis, como deve ser claro hoje para todos.
Nas últimas três décadas, houve uma erosão dos freios e contrapesos socialistas ao capitalismo, quer no sistema de relações internacionais, quer nos sistemas nacionais de relações sociais. Os capitalistas têm ganho todas as lutas de classes. O preço destas vitórias é alto: capitalismos economicamente financeirizados, socialmente oligárquicos, ambientalmente insustentáveis e politicamente esvaziadores da democracia.
A crise pandémica, no entanto, tornou clara a realidade de que a sociedade é mais do que um somatório de indivíduos imersos em mercados. E, ao fazê-lo, mostrou a importância das lutas defensivas pela sobrevivência institucional, ainda que demasiado circunscrita, de um princípio socialista: de cada um segundo as suas possibilidades, a cada um segundo as suas necessidades. Afinal de contas, também a saúde de cada um é condição para a saúde de todos. Os Estados menos desiguais, com maior confiança social, com serviços nacionais de saúde mais robustos, responderam melhor à pandemia de COVID-19.
É então necessário assegurar a vitalidade e a expansão do socialismo, ao nível dos sistemas de provisão, onde tudo se decide, incluindo nos meios que lhe subjazem, nos quais avulta a planificação democrática da trajetória económica, hoje decisiva para enfrentar o maior fracasso da história do capitalismo: as alterações climáticas.
O socialismo é o nome do processo de democratização das economias, que permite a sua subordinação às prioridades dos Estados – comunidades políticas que devem ter condições materiais para garantir a todos os seus membros uma efetiva igualdade no desenvolvimento das suas capacidades, incluindo as de participação na definição dos amplos assuntos que a todos dizem respeito. O socialismo baseia-se numa hipótese simultaneamente realista e esperançosa: a de que as pessoas fazem o melhor de que são capazes nas circunstâncias que são as suas, sendo necessário desenvolver as capacidades de forma igualitária e humanizar as circunstâncias.
Passível de múltiplas declinações institucionais, esta hipótese geral pressupõe, no mínimo, o controlo soberano dos elementos centrais de uma economia, incluindo da moeda, relação decisiva para que uma economia monetária de produção seja capaz de garantir pleno emprego. Sendo necessária, a propriedade pública dos setores estratégicos não basta. É preciso estimular o controlo, por parte dos trabalhadores, das empresas, bem como manter alguns mecanismos de mercado, criando incentivos e assinalando preferências, sem que tal signifique desigualdades ou compulsões.
A socialização dos bens e serviços indispensáveis, bem como o pleno emprego, num quadro de gestão da procura que não dispensaria nem controle de capitais, nem uma nacional negociação coletiva da política de rendimentos compatível com o equilíbrio externo, garantiriam uma real liberdade para todos e a confiança para prosseguir a experimentação social.
Se isto pressupõe economias menos globalizadas, é preciso insistir nos fins, ou seja, garantir a realização da promessa revolucionária para lá do capitalismo: liberdade, igualdade e fraternidade.
"O preço destas vitórias é alto"
ResponderEliminarE o valor destas vitórias? Por exemplo, o valor de ter conseguido produzir vacinas em tempo recorde? De continuar a manter os supermercados bem abastecidos e a garantir a provisão de bens essenciais (água, gás, eletricidade, combustíveis, ...)?
De ter mudado em tempo recorde os sistemas de produção para garantir que hoje não faltam equipamentos de proteção individual (máscaras, ...) quando há alguns meses atrás a sua produção era limitadíssima?
Foi esta resposta a consequência de um planeamento público centralizado ou de um planeamento privado descentralizado assente no mercado enquanto mecanismo de elicitação de preferências e de reorientação de recursos?
Passamos por tudo isto e não vimos nem damos o devido valor.
As economias com mais ferramentas de planeamento centralizado são as que se estão aguentar melhor e a servir melhor os cidadãos.
EliminarDizer que a rapidez do desenvolvimento da vacina é o mérito da economia de mercado é esquecer que cuba e China têm vacinas na última fase de testes.
Mas já sabemos que a China é uma economia socialista quando é acusada de ser uma ditadura e é capitalista quando a economia cresce e o covid é combatido com eficácia.
(complementando o meu comentário anterior)
ResponderEliminarTambém nos esquecemos que o comércio e distribuição de bens (dos mais diversos tipos) se adaptou de forma profunda às limitações da pandemia (na medida do possível), reforçando as plataformas de comércio eletrónico e de logística (nomeadamente de entregas ao domicílio). Foi uma consequência de planeamento público centralizado ou de um planeamento privado descentralizado assente no mercado enquanto mecanismo de elicitação de preferências e de reorientação de recursos? Já nos esquecemos do que mudou em escassos meses?
E as novas ferramentas de trabalho, ensino, ... remotos que surgiram ou foram reforçadas num tempo recorde?
Se dependesse de planeamento público centralizado ainda hoje estaríamos à espera do grupo de peritos, da estrutura de missão, da resolução do Conselho de Ministros, do decreto-lei, da regulamentação, ...
Os privados fugiram. Deram de frosques. O SNS foi o único suporte na luta contra a pandemia
EliminarPoupem-nos aos agentes neoliberais de serviço ao serviço dos interesses dessa gente
«capitalismos economicamente financeirizados, socialmente oligárquicos, ambientalmente insustentáveis e politicamente esvaziadores da democracia.»
ResponderEliminarOs maiores financeirzadores do capitalismo são os Estados, por duas vias: ajudas directaa e fiscais para aumento da produção e sobretudo pelas políticas de rendimentos promovendo um sempre crescente consumo, ainda que tudo sustentando em dívida, desfavorecendo a verdadeira democracia, aquela que se define, e há quanto tempo não te via escrita: «cada um segundo as suas possibilidades, a cada um segundo as suas necessidades» e o camarada dirigente a tudo avaliar…sempre na mais democrática «planificação democrática da trajetória económica».
«O socialismo baseia-se numa hipótese simultaneamente realista e esperançosa» sendo a esperança sempre frustrada a da bondade natural do Homem! Um mito estranhamente nascido na antropofágica Amazónia.
Planeamento e controlo «garantiriam uma real liberdade para todos e a confiança para prosseguir a experimentação social.»
O capitalismo dos pequeninos sob a tutela do Grande Irmão e a «liberdade, igualdade e fraternidade»
Mais um hipocrita
EliminarA verdadeira democracia de que fala José é a do fascismo salazarista?
Que paleio triste
ResponderEliminarO planeamento privado corresponde ao planeamento de ladroes em busca do lucro fácil
Como se viu na resposta privada dos hospitais privados. Fecharam quando eram precisos
Histórias da carochinha sobre a bondade dos mercados só para débeis mentais
O melhor exemplo do sucesso do planeamento público centralizado é o da colocação de professores. 40 anos de experiência em concursos de professores, sabendo-se exatamente quantos alunos estão no sistema, em cada ano e em cada localidade, quantos professores existem de cada área e em cada localidade, quantas crianças vão entrar no sistema daqui a 10 anos, quantos professores se reformam nos próximos anos e quantos se formam. E ao fim de 40 anos, com concursos todos os anos, o planeamento público centralizado de colocação de professores resulta em milhares de alunos sem professores a meio do ano letivo. Excelente!
ResponderEliminarFala-se dos professores
EliminarEis um excelente exemplo do que acontece quando não se tomam as rédeas da situação e se deixa aos neoliberais de serviço o trabalho.
Lembramo-nos bem dos negócios com os colégios privados. Até se vestiram de amarelo. Queriam chafurdar mais no erário público. Agora vestem-se de laranja
"Como se viu na resposta privada dos hospitais privados. Fecharam quando eram precisos"
ResponderEliminarEstão a responder quando foram chamados a responder. Agora, já que até agora o SNS fazia gala de não precisar deles.
Muito boa postada. Os sinais da doença adensam-se: É que nem se esforçam para pensar - basta-lhes ver "um" lucro e ficam logo cegos ao prejuízo. Depois sai-lhes a "tonteria" posta em prosa. O único record que vejo ser batido é esse: o da parvoíce maléfica.
ResponderEliminarCaro anónimo das 13:18.
ResponderEliminarFoi hoje ao supermercado? À farmácia? Tem água, luz, comunicações em casa? Agradeça (não é necessário porque certamente pagou o que comprou/consumiu) a todos os intervenientes (milhares) que se organizam espontaneamente e tornam isso possível todos os dias sem que tenha de mexer um dedo.
E, sim, que procuram o lucro.
Este comentário não ê outro senão do agente infiltrado na Holanda
EliminarO neoliberal está de rastos com as evidências do estado a que chegámos. E agora está feito um publicitário com publicidade enganosa e um sorriso pepsodent. O dedo não mexem estes párias para além do teclar.
Uma excelente posta
ResponderEliminarSobre o planeamento público.
ResponderEliminar19 de outubro: "Ministra garante vacina da gripe para todos os que a quiserem tomar" (https://www.rtp.pt/noticias/pais/ministra-garante-vacina-da-gripe-para-todos-os-que-a-quiserem-tomar_v1268219)
5 de novembro: "Marta Temido garante que existem 800 mil vacinas da gripe em stock" (https://sol.sapo.pt/artigo/714228/marta-temido-garante-que-existem-800-mil-vacinas-da-gripe-em-stock)
13 de novembro: "GRAÇA FREITAS: "ALGUMAS PESSOAS VÃO FICAR SEM A VACINA DA GRIPE"" (https://tvi24.iol.pt/sociedade/13-11-2020/graca-freitas-algumas-pessoas-vao-ficar-sem-a-vacina-da-gripe)
Sim, o planeamento publico tem defeitos.
EliminarMas ê ver a iniciativa privada a fazer melhor. É ver o que se fez nos EUA e no Brasil. E ê ver o que acontece quando o Estado toma conta do bem estar dos cidadãos e não deixa à gula dos mercados a chefia das coisas
Que grande lata a do primeiro comentador, vem louvar um sistema que faz com que os sistemas nacionais de saúde estejam cada vez mais impreparados para combater os males que nos afectam, já para não falar do comportamento inaceitável dos hospitais privados e da medicina privada, o tão louvado mercado que fez com que os produtos de desinfeção e limpeza aumentassem os preços, o mesmo mercado global que fez e faz com que os países fiquem em dependência externa para bens absolutamente essências, e depois ainda vem dizer que foi o neoliberalismo ou ou o capitalismo selvagem que garantiu a adaptação rápida e eficiente, que grande lata, só espero que este senhor seja um dos "trolls" que costuma andar por aqui a escrever mentiras e a deixar ruido nas conversas porque caso contrário temo que seja um caso absolutamente perdido.
ResponderEliminarUm excelente texto.
ResponderEliminarUm soberbo post.
Não nos iludamos porém.
ResponderEliminarTextos assim também são para abater.
Do antropofágico jose, que come tudo, tudo, tudo, tal como um vampiro nado e criado sob a alçada daquele traste do Salazar, até ao travestido joão pimentel ferreira, que assim se repete, no que diz e nos que se faz passar, estes tudo tentarão para desviarem a bola para canto
Com mais um ou outro acólito
Já lá iremos
O problema com estas palavras é que o socialismo de que fala o João Rodrigues não passa de uma lista de intenções pias. O socialismo já experimentado, dito socialismo real, faliu e deixou na sua queda um rastro de penúria, destruição ambiental e autoritarismo.
ResponderEliminarE as sociedades ainda governadas hoje por Partidos que se reclamam dessa herança na verdade praticam um espécie de capitalismo de Estado que suprime direitos individuais, laborais e cujo crescimento ameaça ele próprio o equilíbrio ambiental.
Por isso, nada disso tem que ver com a liberdade, a igualdade e muito menos a fraternidade, já que a última coisa com que o cinismo leninista alguma vez se preocupou foi com tal valor, a sua preocupação foi somente a conquista e manutenção do poder, como já avisava Bakunine.
As pessoas, João Rodrigues, não são parvas e não esquecem a História.
Mas é sintomático que o PCP se tenha recusado a congratular-se com a queda do muro de Berlim... Não aprendeu nada e não esqueceu nada, como de costume.
O que nos resta? Porventura a restauração da social-democracia como força que pode contrariar os aspetos mais negativos do capitalismo enquanto se poderá tentar, primeiro em pequena escala, experimentar com soluções descentralizadas, como as cooperativas, que possam transcender esse capitalismo.
Mas para isso é preciso que a Esquerda não se ponha a dar tiros nos pés e entregue o Poder à Direita em nome da pureza de princípios...
"Nas últimas três décadas, houve uma erosão dos freios e contrapesos socialistas ao capitalismo, quer no sistema de relações internacionais, quer nos sistemas nacionais de relações sociais. Os capitalistas têm ganho todas as lutas de classes. O preço destas vitórias é alto: capitalismos economicamente financeirizados, socialmente oligárquicos, ambientalmente insustentáveis e politicamente esvaziadores da democracia"
ResponderEliminarParece que um "anónimo" perante o descalabro do mundo em que vivemos,do aumento das desigualdades sociais, da concentração da riqueza, do desemprego, acena com aquilo que considera como "vitórias".
A saber:" manter os supermercados bem abastecidos e a garantir a provisão de bens essenciais (água, gás, eletricidade, combustíveis, ...)"
Da vacina já alguém lapidarmente colocou os pontos nos is.
Agora considerar como vitórias os negócios do continente e do pingo doce e a "provisão dos bens essenciais"? É de uma impotência tramada.
Mas que mais uma vez revela duas coisas. Por um lado que essa provisão dos bens essenciais deixados à barbárie é uma história mal contada.Os lucros e nada mais do que os lucros relegam para segundo ou terceiro plano o direito das populações a tais bens essenciais. Por outro que quem assegura tais bens são os trabalhadores, não os que se agitam diante do teclado a proclamar a vitória de Belmiro ou dos accionistas que vivem do trabalho alheio.
Ai de nós se deixarmos a nossa vida a abutres.
Já sabemos como foi o planeamento privado descentralizado. Quando houve um tempo para procurar vacinas contra o SARS - Severe Acute Respiratory Syndrome- ou contra o MERS- síndrome respiratório do Oriente Médio, "esqueceram-se" de avançar com o planeamento.
Os mercados exigiam outro tipo de prioridades
Diz o mesmo "anónimo"
ResponderEliminar"( os hospitais privados)Estão a responder quando foram chamados a responder. Agora, já que até agora o SNS fazia gala de não precisar deles"
Para criadores de aldrabices tipo holandês travestido, já demos
É ler este post de RPM:
http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2020/10/da-indignacao-dos-hospitais-privados.html
Ou relembrarmos estas palavras dirigidas aos poltrões:
"...porque muitos convencionados... disseram que queriam suspender as suas convenções. Disseram que não estavam lá, que não podiam. Que não era o momento, que também tinham medo. Que não estavam disponíveis para prestar serviços. E portanto isso fica agarrado à pele e não desaparece"
A realidade é mais forte do que as idiotices ou do que a propaganda imbecil a negócios esconsos
"Um princípio socialista: de cada um segundo as suas possibilidades, a cada um segundo as suas necessidades. Afinal de contas, também a saúde de cada um é condição para a saúde de todos. Os Estados menos desiguais, com maior confiança social, com serviços nacionais de saúde mais robustos, responderam melhor à pandemia de COVID-19."
ResponderEliminar"As economias com mais ferramentas de planeamento centralizado são as que se estão aguentar melhor e a servir melhor os cidadãos"
Isto deve deixar fora de si qualquer mercadejador dos mercados uberalles.
Resta-lhes aquilo que está aí em cima documentado.
Dizer que o estado falha quando há muito lhe retiraram poder e eficácia (sim, incluindo a colocação dos professores) é uma longa e vitoriosa conquista neoliberal.
ResponderEliminarDepois é só esquecer que os supermercados não estiveram exactamente bem abastecidos, que se evitou recomendar máscaras porque não havia para impedir roubos dos hospitais, e a enternidade que foi a espera de PPEs e ventiladores porque os estados já não tinham legitimidade para estar preparados.
Tal como o mercado, com ou sem bazuquinha de plástico, também nada faz para salvar a iniciativa privada que há tão pouco se vangloriava de vingar sozinha num segmento em que só os velhos do Restelo avisavam não era sustentável.
E nem é preciso falar do zero que o mercado faz em relação às verdadeiras crises por ele criadas, desde a poluição às alterações climáticas, sem esquecer a quebra da taxa de lucro, o forte endividamento privado, e o aumento da fila da caridade.
Mais uma vez Jaime Santos aldraba
ResponderEliminarEsta parece ser a sua via sacra. A de cultor desta "qualidade", a que se abraça como o banqueiro Macron se abraçou quando traiu os seus
O que diz JS?
"O problema com estas palavras é que o socialismo de que fala o João Rodrigues não passa de uma lista de intenções pias. O socialismo já experimentado, dito socialismo real, faliu e deixou na sua queda um rastro de penúria, destruição ambiental e autoritarismo."
O`socialismo de que fala João Rodrigues?
Mas o que diz joão Rodrigues?
" O socialismo baseia-se numa hipótese simultaneamente realista e esperançosa: a de que as pessoas fazem o melhor de que são capazes nas circunstâncias que são as suas, sendo necessário desenvolver as capacidades de forma igualitária e humanizar as circunstâncias. Passível de múltiplas declinações institucionais..."
Passível de múltiplas declinações institucionais
Múltiplas
declinações
institucionais
JS,isto é o quê?
Burrice? Desonestidade? Propaganda ao estilo Macron?
Compare-se a luminosidade das palavras de João Rodrigues, viradas para o Futuro, com a colaboração de JS para com os"vencedores da coisa",esses mesmos os neoliberais, o seu ai Jesus