No dia em que só se falava do novo decreto de estado de emergência, Marcelo Rebelo de Sousa quis ser entrevistado pela RTP.
Toda a gente pensou que iria fazer uma declaração ao país.
Afinal, a entrevista foi o seu primeiro acto como candidato a Presidente da República e, para isso, o candidato Marcelo usou a RTP.
Numa estranha entrevista, Marcelo quis - qual o seu homónimo (com quem tinha relações de cumplicidade antes do 25 de Abril) - ter apenas uma conversa em família, sem ser entrevistado, em que o director de informação da televisão pública deveria ter aceitado cumprir o seu papel (de embrulho) de seguir o monólogo de Marcelo Rebelo de Sousa, como antes acontecia a quem estava com ele quando Marcelo era comentador da TVI e RTP. António José Teixeira quis interrompê-lo por diversas vezes, mas Marcelo resistiu e retomou no ponto onde tinha ficado.
Marcelo falou de tudo e de nada, chegou a dizer "eu agora estive a ler um livro, deixe-me dizer, estive a ler um livro sobre a peste bubónica", "e o merceeiro da minha área dizia é preciso fechar tudo!", que foi o enfermeiro que lhe disse para despir a camisa para ser vacinado ("e levei na cabeça!" - claro que levou porque foi ele quem deixou a câmara continuar a filmar...), falou dos riscos das pessoas que convivem juntas "às dúzias" - "eu uso a máscara sozinho porque podem tirar uma fotografia e dizer que tenho uma multidão atrás"-, "podem estar dez mil pessoas rigorosamente distanciadas (...) sem haver o risco de estarem em fila, podem em teoria, podem haver cem mil, cem mil, que vai dali de Lisboa ao Carregado", "não vale a pena comunicar se é percebido ao contrário", "há uma parte que continua a seguir, mas outra parte cansa-se e as pessoas não percebem (...) as pessoas dizem 'então é uma coisa e agora é outra' e não percebem que foi há 3 meses", "agora estou a ser comentador de bancada (...) a dizer em voz alta o que as pessoas pensam em voz baixa e já não pensam em voz baixa, pensam em voz alta", "quem é eleito é eleito para ser punido, não é para ser louvado [voz esganiçada] (...) há um cheiro a crise política desde o início da pandemia e desde que surgiu a crise económica e social (...) mesmo o Churchill que ganhou a guerra foi corrido a seguir (...) o Governo Passos Coelho, o doutor Passos Coelho, não encaminhou a crise anterior no sentido de uma solução e depois teve maioria absoluta para poder governar, a maioria que tinha, não teve" [como se a crise gerada pelo Governo Passos Coelho tivesse tido a mesma natureza desta...], "eu disse em 2018 se, em 2020, tivesse havido uma tragédia de incêndios igual à dos incêndios de 2017, eu não me recandidatava, não me recandidatava. Porquê? Porque tinha acontecido uma primeira vez, (...) acontecia um ano depois, dois anos depois nos mesmos exactos termos, com a mesma gravidade a tragédia, quer dizer que eu tinha... a minha voz tinha sido perdida no deserto e aquilo que eu tinha dito e o que eu achava fundamental quer fosse mudado - e coisas foram mudadas, podemos discutir muitas, poucas, mas foram mudadas - agora estamos no meio da pandemia... eu fui eleito para ser presidente até ao fim do mandato, não foi para pensar na minha recandidatura. Portanto, eu vou pensar naquilo que interessa aos portugueses - é a pandemia (...) até ao fim do meu mandato, que é 9 de março, continua a pandemia. Portanto, eu tenho obrigação [e o Governo?] de tratar da pandemia, da crise económica e social até lá. E não fazer cálculos eleitorais até lá"...
Enfim, uma conversa em que o Presidente deu mostras de estar desvairado, de olhar esgazeado, descompensado, quase aloucado, autocentrado e quase autista, a oscilar entre a lucidez e o desvario, sem controlo ou filtro, que quase pôs também louco o director da RTP.
Poderia ter sido um episódio do programa de Ricardo Araújo Pereira - hilariante e non sense - se o momento não fosse demasiado importante.
Mas no final, foi uma entrevista em que a mensagem principal - por muito baralhada que aparentou ser - pode ter sido esta: "Isto é muito complicado, é tudo muito difícil e se isto não está a correr bem é porque é muito difícil. Eu sou o primeiro responsável [é mesmo? Não é o governo?], mas não me culpem. [Culpem o governo!] Eu não falhei, a culpa não é minha". E porque tudo é muito difícil, vou ter mesmo de me candidatar à Presidência da República. "Não posso anunciar agora, mas estou a anunciar agora."
E a televisão pública foi mobilizada para esta tarefa - de interesse pessoal - , para esse seu primeiro gesto como candidato. Entrevista em prime time, gratuito e com audiência garantida. Nem o Baron Noir! Bravo!
Afinal não fui só eu a ter esta opinião... E o grau de loucura para mim foi escutá-lo enquanto dizia “eu fui analista numa reencarnação anterior e conheço as pandemias” ... fiz rewind duas vezes
ResponderEliminarNos momentos de crise é que se pode avaliar um personagem e, neste caso, igualmente, as reais dimensões de este cargo, o de PR, como delineadas na Constituição em vigor. Um verbo de encher?. Pior?.
ResponderEliminarOs partidos do poder sorriem, pois saiem cada vez mais desbeliscados das suas responsabilidades.
Cara Maria João,
ResponderEliminarEsqueci-me dessa...
Este presidente luta desesperadamente para que não percebam as implicações das suas posições, nos momentos em que é importante estar na fotografia ele está em todo lado, nos momentos em que tem de explicar o seu papel e a sua responsabilidade "assobia" para o lado como se fizesse papel de si próprio. Esta gente não é séria e não tem a dimensão necessária para o cargo que ocupa.
ResponderEliminarAgora que temos 2 Primeiros Ministros, só nos falta eleger o Presidente da República.
ResponderEliminarParece que ainda vamos esperar um bocado.
P.S.: já tenho saudades de ver um bom jornalista a entrevistar políticos.
Marcelo fugiu ao contraditório como diabo da cruz. O entrevistador, levou um banho de verborreia consentida. Quem viu com olhos de ver, desesperou!
ResponderEliminarAté que enfim que alguém tem a mesma opinião que eu tive ao ver aquela entrevista.. estava perplexo a ver e ouvir o que esperava ser uma declaração ao país e saiu una lição de história com mistura de 1 ato da candidatura presidencial... vergonhoso
ResponderEliminarÉ tão despropositada a extensão/irrelevância da entrevista quanto a do comentário.
ResponderEliminarO que se torna preocupante é o facto do presidente em exercício ter usado a RTP de forma falseada, disfarçando o monólogo de entrevista, como se tivesse a ler a sua declaração de candidatura. Marcelo dá mostras de que sabe e quer usar todos os aparelhos ideológicos do Estado - particularmente a televisão - para se fazer reeleger. Penso que os outros candidatos à presidência devem denunciar este facto!
ResponderEliminarAntónio José Teixeira foi frouxo e medroso, pois apesar de mostrar querer entrevistar, não bateu o pé, devido a um medo bacoco e rasteiro perante alguma elite. A RTP, que eu saiba, é independente dos poderes de estado, mas começa a mostrar-se pouco 4º poder, mimetizando o que se vai passando nos EUA.
Se alguém achava que já tínhamos batido no fundo enganou-se. Não só não batemos como aida é expectável que se passem episódios piores.
ResponderEliminarCurioso é assistir à reverência bacoca de diferentes comentadores e analistas(???). Só espero que nunca nenhum deles se atreva a fazer análises ao vírus. Ainda corríamos o risco de ficar infectados pelo MRS2 Covid (não o SARS2).
Votem novamente nele e depois queixem-se...
Disfarçado de Estado de Emergência... Sai um Golpe de Estado!
ResponderEliminarJá vai a caminho da Assembleia da República, um coio de partidos burgueses corruptos, o decreto sobre o estado de emergência assinado por Marcelo Rebelo de Sousa, a figura tutelar de um sistema que se tem pautado pela implementação de medidas fascistas, como em nenhuma outra época do “pós-25 de Abril” e da “Revolução dos Cravos” havia acontecido.
O decreto, especificamente aberto para ser uma carta em aberto, um cheque passado em branco, onde poderão ser vertidas, ainda, maiores barbaridades do que aquelas que estão a ser praticadas, permite ao governo fascista de Costa e seus apaniguados na DGS, adoptar várias medidas, supostamente de combate à alegada pandemia de Covid-19, entre os dias 9 e 23 de Novembro(…)
Pela vossa saúde, é tempo dos operários e dos trabalhadores sacudirem a canga do medo que lhes estão a impor e levantarem-se contra o estado de emergência e as medidas criminosas e fascistas que ele lhes impõe e que se destinam a agravar a condição de escravatura assalariada a que estão sujeitos, roubando-lhes o trabalho, o pão, a dignidade e os poucos direitos que conserva, ainda assim conquistados à custa de muitas décadas de muito suor, lágrimas e sangue.(…)
06Nov2020
Nota de rodapé; por muito que digam que este governo do PS de Costa, tutela por Marcelo (e não só) -, é de esquerda, já, não podem ignorar!!! A não ser, que tenham interesses no poder politico social e económico...
Por fim: parte de texto , mais acima -, assine por baixo
ONDE ANDA,O PERFIL,DE UM CHEFE DE ESTADO!!!AO QUE CHEGAMOS...
ResponderEliminarUM GRANDE PAÍS, COM GOVERNANTES,TÃO PEQUENINOS!......