quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Da pulverização do risco

1. Nas últimas semanas desfez-se, num certo sentido, uma hipótese otimista sobre a evolução da pandemia na UE, em que a segunda vaga se caraterizaria por um acréscimo exponencial de novos casos mas com o número de óbitos num aumento apenas ténue, quase impercetível. E se é verdade que esse perfil se manteve entre o início de julho (quando começa a segunda vaga) e meados de setembro, desde então os óbitos entraram novamente numa visível dinâmica de crescimento, como consequência inevitável de um surgimento continuo, exponencial e mais difuso de novos casos.


2. Importa ainda assim assinalar a diferente progressão face à primeira vaga. Se nesta o pico de novos casos diários (32 mil) foi atingido em 65 dias e o pico de óbitos (4 mil) em 70 dias, na segunda vaga esse mesmo valor de novos casos foi atingido em 71 dias, situando-se o atual número de óbitos diários (a rondar os 1.700) felizmente ainda aquém do máximo da primeira vaga, apesar de terem já transcorrido 116 dias depois do início da segunda. Ou seja, dado o número de novos casos já atingido (209 mil no final de outubro), sem que se vislumbre ainda o pico da segunda vaga, perspetiva-se que esta tenha uma duração superior à primeira, podendo o volume de casos críticos acabar por colocar de novo em causa, mesmo que de forma mais gradual, a capacidade de resposta dos serviços nacionais de saúde.

3. Para lá do número incomparavelmente maior de testes realizados (que ajuda a explicar o aumento vertiginoso de novos casos), e da redução da média etária dos infetados (que contribui para explicar o menor aumento de internados e óbitos), parece igualmente assistir-se a uma mudança dos contextos e formas de contágio, que assumem agora «uma base sobretudo de cariz familiar» e de «transmissão crescente do vírus na comunidade» (passando a explicar, no caso português, quase 70% dos novos casos). Ou seja, de uma lógica de contágio mais associada a padrões de aglomeração e a contextos sociais mais desfavorecidos (a par de surtos pontuais em empresas), passou-se - com o desconfinamento e a progressiva retoma do quotidiano - para lógicas mais difusas e reticulares de propagação do vírus.

4. Estas alterações comportam - até pelo volume de novos casos diários - uma complexidade acrescida no combate à pandemia, desde logo comprometido pela menor capacidade de rastreamento das cadeias de contágio. Ou seja, perante um padrão mais difuso, e em micro-escala, de propagação do vírus, os comportamentos individuais e de pequeno grupo constituem hoje um fator ainda mais crítico. Aliás, percebe-se agora melhor o despropositado destaque mediático a eventos únicos e territorialmente localizados (do Avante a Fátima, passando pelo 1º de Maio) - em que é sempre mais fácil assegurar o cumprimento de regras - face a dinâmicas de pulverização dos focos potenciais de contágio (como a realização de funerais, festas em família ou eventos na comunidade).

5. É também por tudo isto que não se compreendem algumas das reações negativas às medidas adotadas no passado fim-de-semana, marcado pelo dia de finados (em que há deslocações significativas por todo o país e aglomerações de pessoas associadas às cerimónias e a encontros de família alargados). Tal como suscitam perplexidade algumas propostas mais liberais, como a de Susana Peralta no Público de dia 30, sugerindo que se adotasse o sistema de semáforos por concelho (em função do ponto de situação da pandemia), cabendo aos cidadãos decidir, com essa informação, que municípios cruzar. Isto é, como se não estivesse em causa uma questão de saúde pública (idêntica à que recomenda a vacinação obrigatória), ou como se fizesse sentido bastar colocar uma bandeira vermelha, amarela ou verde nas praias, deixando depois as pessoas decidir se vão apenas molhar os pés ou nadar e mergulhar.

21 comentários:

  1. Essa analogia com as bandeiras na praia está muito boa

    ResponderEliminar
  2. Informa-se que a vacinação não é obrigatória, apenas recomendada! Ahhh que perigo respeitar a liberdade e responsabilidade individual, que leviandade tão pre-covid! Bom bom é aceitarmos sem crítica estas medidas arbitrárias que nos são impostas...

    ResponderEliminar
  3. A certeza taxativa de um anónimo (das 19 e 21) faz suspeitar que estejamos perante um leviano pré-Covid. E mais além.

    Informa-nos o leviano que a vacinação não é obrigatória. Informa-nos mal. As vacinas do tétano e da difteria iniciaram-se com carácter obrigatório em 1962, sendo atualmente as únicas vacinas de administração obrigatória.

    "Nas décadas de 50 e 60, as duas doenças tinham altas taxas de mortalidade em Portugal: 3923 mortos, vítimas de tétano; 19.100, de difteria, em 1956. Em 1965, já durante a vigência da obrigatoriedade destas vacinas, os números desceram em toda a linha: no tétano para 2625 mortos e na difteria para 1457 mortos. Em 2006 o tétano fez 33 vítimas mortais. Em 2015, 15. A difteria não fez nenhuma. Portugal tinha esta “obrigação” perdida nas calendas, mas os números não deixam de ser significativos".

    O leviano que nos anda a informar, anda-nos a informar mal.

    Percebe-se também que nos está a impingir outras coisas. Mas como para levianos, holandeses ou não holandeses, já demos o suficiente, por agora basta

    ResponderEliminar
  4. Mal informado está o JC, não há em Portugal atualmente nenhuma vacina cuja administração seja obrigatória, recomendo a leitura do plano Nacional de vacinação! Aliás, em Portugal não há actos médicos obrigatórios. E se o tranquiliza, este anónimo não é nem anti-vacinas, nem negacionista, nem sequer de direita, por isso poupe as suas insinuações!

    ResponderEliminar
  5. E se se refere à obrigatoriedade nas décadas de 50...bom, pensei que esse era um modelo político que não queríamos copiar...mas para lá caminhamos. Só gostava que a esquerda deixasse de enfiar a carapuça e abrisse a pestana!

    ResponderEliminar
  6. E mais acrescento caso o JE não saiba, que o problema da mortalidade nesses tempos não era a vacina ser ou não ser obrigatória, mas sim a maioria das pessoas não terem acesso a educação e cuidados de saúde fossem quais fossem.

    ResponderEliminar
  7. Caro Anónimo, a referência à vacinação obrigatória era no sentido da defesa da saúde pública. Mas em rigor, e no caso português, tem razão. E por isso alterei essa passagem no post, aludindo à recomendação.
    Mas já que falamos de rigor, o problema não é aceitar a crítica, que é sempre bem-vinda. O problema é que para lá da crítica, no artigo de Susana Peralta, se faz uma proposta (justamente no sentido da tal liberdade e responsabilidade individual), ao arrepio da mais elementar defesa da saúde pública. E, voltando às vacinas (e ao século XXI, já agora), veja o recuo - à pala da afirmação da «liberdade e responsabilidade individual» - que tem acontecido, em várias partes do mundo, relativamente ao regresso de doenças há muito erradicadas.

    ResponderEliminar
  8. Ora bem

    Dou de barato o meu tom excessivo do comentário anterior.

    E registo com bastante agrado que o referido anónimo "não é nem anti-vacinas, nem negacionista, nem sequer de direita".

    Nos tempos que correm, como é de resto característico nos processos pandémicos, em que grassa a desinformação e a caça às bruxas, estas posições são de registar e de louvar

    ResponderEliminar
  9. Deixo de lado ( pelo menos por enquanto ) a questão da obrigatoriedade das vacinas, embora registe também com agrado a observação final que Nuno Serra faz quanto a estas.

    Para já duas observações importantes:

    "pensei que esse era um modelo político que não queríamos copiar..."diz o anónimo em causa.

    O modelo político que não queremos copiar não se fundamentou nem se fundamenta na questão da obrigatoriedade ou não da vacinação. Não foi (é) esta questão que separa um poder democrático duma ditadura. Na UE ( só para dar como exemplo) são nove os países em que todo o espectro vacinal é obrigatório (Bulgária, Croácia, República Checa, França, Hungria, Itália, Letónia, Polónia e Eslováquia), sendo que a Grécia tem um sistema misto, com quatro vacinas obrigatórias, e a Bélgica, que só tem uma vacina obrigatória no seu plano nacional de vacinação.
    Portanto comecemos por separar as águas para que as águas não nos levem a caminhos perigosos.
    A vacinação foi (é) um avanço civilizacional.

    Uma outra questão que obriga a uma resposta para colocar os pontos nos is:
    Diz o anónimo:
    " o JE não saiba, que o problema da mortalidade nesses tempos não era a vacina ser ou não ser obrigatória, mas sim a maioria das pessoas não terem acesso a educação e cuidados de saúde fossem quais fossem"

    As questões de saúde pública e do legado do estado fascista nas condições de vida da população portuguesa é um assunto que me leva aqui a debates acalorados. Há por aí bastas testemunhas de tal.E sim, nesses tempos as pessoas não tinham acesso aos cuidados de saúde adequados.

    Para sermos claros. Não disse que "o problema da mortalidade nesses tempos não era a vacina ser ou não ser obrigatória". Portanto se não é pedir muito, não se leia o que não está escrito. Não se abençoa nem o regime nem as condições sanitárias que esse mesmo regime proporcionava

    Agora o que se disse e se reafirma é que a vacinação permitiu uma redução importante da mortalidade. Sobretudo infantil. Mesmo no anterior regime. Os números aí estão para demonstrar que estes são mais fortes do que qualquer demagogia esdrúxula.

    ResponderEliminar
  10. Vamos à questão da vacinação obrigatória em Portugal

    Apesar das instâncias europeias de Saúde colocarem Portugal na lista de países em que o Plano Nacional de Vacinação é “recomendável” e não obrigatório, a verdade é que desde 1962 vigoram ainda duas vacinas obrigatórias no PNV: contra a difteria e contra o tétano.

    Portugal tinha esta “obrigação” perdida nas calendas

    Não é, portanto verdade que todas as vacinas que constam do PNV sejam de título “recomendável”, sendo que a maioria o é efetivamente.

    Em Portugal, a vacinação variólica inicia-se em 1894 e permanece obrigatória até 1977, e as vacinas do tétano e da difteria iniciaram-se com carácter obrigatório em 1962, sendo atualmente as únicas vacinas de administração obrigatória.

    ResponderEliminar
  11. Actualmente, existem duas vacinas consideradas obrigatórias por lei: a antitetânica e a antidiftérica – que são tomadas, na infância, em conjunto com a da tosse convulsa. Ambas estão regulamentadas pelo decreto de lei n.º 44198 – aprovado em 1962, ainda antes da aprovação da Constituição da República Portuguesa que rege o país e que data de 2 de abril de 1976. No mesmo, lê-se:

    Art.1 - “É obrigatória a vacinação antidiftérica e antitetânica de todos os indivíduos domiciliados no País, dos 3 aos 6 meses de idade, com administração de doses de reforço, pela primeira vez, entre os 18 e os 24 meses e, pela segunda vez, entre os 5 e os 7 anos de idade”;
    Art. 2 - “Nenhum indivíduo com menos de 10 anos poderá frequentar ou fazer exame em qualquer estabelecimento de ensino sem que, por certificado médico ou atestado da respetiva autoridade sanitária, prove que se encontra devidamente vacinado contra a difteria”;
    Art. 4 - “Nenhum indivíduo poderá frequentar ou fazer exame em qualquer estabelecimento de ensino ou ser admitido em quaisquer funções públicas, dos corpos administrativos, dos organismos corporativos e de coordenação económica ou das pessoas coletivas de utilidade pública administrativa sem que, por certificado médico ou atestado da respetiva autoridade sanitária, prove que se encontra devidamente vacinado contra o tétano.”

    Este conceito de obrigatoriedade não advém de uma sanção direta ou uma recusa de direitos fundamentais. Caso opte por não tomar a vacina – sem que haja uma razão médica para tal –, o cidadão poderá ser excluído de determinadas atividades da sociedade.

    Esta restrição é, no entanto, cada vez menos aplicada.

    Os factos aí estão.



    ResponderEliminar
  12. Caro Nuno Serra,

    Um par de notas:

    1 - Conforme previsto por mim na caixa de comentarios ha duas semanas no seu ultimo texto dedicado a este tema, a epidemia la se vai encarregando de rapidamente colocar em causa algumas das suas assercoes mais temerarias feitas a altura acerca da segunda vaga do COVID em Portugal...

    2 - O Nuno Serra nos seu pontos 2, 3 e 4, infelizmente, insiste em avancar com mais assercoes insustentaveis na informacao disponivel alegando aparentes ou hipoteticas diferencas na epidemiologia da segunda vaga do COVID19 em relacao a primeira vaga. Mais uma vez, esta, no essencial errado. A verdade e que a informacao disponivel, depois de analisada seriamente e ponderados as distorcoes na informacao (distorcoes particularmente notorias em Marco Abril e que o Nuno Serra sistematicamente NAO DEIXA PRECAUCOES AOS LEITORES) indica que o virus se esta a comportar, essencialmente, da mesmissima maneira que se comportou na primeira vaga. So ha tres diferencas de relevo:

    2.1 mais testagem que permite ver a progressao da doenca em "tempo real" e mais aproximadamente a sua real magnitude, coisa que nao foi possivel em Marco por incapacidade de amostragem
    2.2 reducao drastica no transporte de massas internacional (comboio, aviao, cruzeiro) que esta limitar ou pelo menos a atrasar a re-introducao de doenca no territorio portugues.
    2.3 ausencia de confinamento geral capaz de quebrar eficazmente cadeias de transmissao

    3 - A segunda vaga comporta-se grosso modo tal como a primeira vaga. A diferenca de fundo nos numeros que se observarao daqui para a frente consistirao simplesmente na diferenca de resposta que as autoridades montarao face a epidemia. Viz-a-viz confinamento geral versus estas meias medidas que se vao anunciando desde o inicio do Outono. Uma experiencia natural para a epidemiologia medir os beneficios e custos de um confinamento geral (Marco/Abril) face ao que se esta a fazer agora.

    ResponderEliminar
  13. Já agora e para ir para o século XXI, a legislação portuguesa permite que em situação de epidemia e para defesa da saúde pública, uma vacina possa ser obrigatória.

    Esta noção é partilhada por constitucionalistas e professores de Direito e está de acordo com a Constituição da República Portuguesa. Por exemplo, a vacina contra a Covid-19 pode ser declarada obrigatória se estiver em causa a saúde pública.

    ResponderEliminar
  14. Caro Lowlander,
    Eu peço desculpa mas acho que está a laborar num equívoco de interpretação destes posts sobre a pandemia. Neles não procuro decifirar ou comparar o comportamento intrínseco do vírus. Jamais o faria, evidentemente (por todas as razões e mais alguma, começando pelo facto de ser um absoluto leigo na matéria).
    O que procuro fazer é outra coisa (a montante do que refere, se quiser). É interpretar, a partir dos dados disponíveis, diferenças de padrão de evolução entre a primeira e segunda vaga, do que o vírus provoca, se quisermos uma formulação simples. Padrões que obviamente são indissociáveis dos fatores que enuncia (e a que se poderiam juntar outros): resultado do confinamento, volume de testes, redução da mobilidade internacional (já agora, os dados deste post não são sobre Portugal, ao contrário do que sugere) ou a diferença que faz ter ou não confinado de novo, etc., etc.. Nada de que eu discorde, sublinhe-se.
    Ou seja, o caro Lowlander diz que «o vírus se está a comportar, essencialmente, da mesmíssima maneira que se comportou na primeira vaga» e que o que faz a diferença são os tais fatores. Pois, é precisamente isso tudo que faz a diferença. Pelo que na verdade não percebo, no fundo, o seu ponto.
    Cumprimentos

    ResponderEliminar
  15. O melhor artigo dos últimos tempos sobre os tempos que correm: https://www.elsaltodiario.com/coronavirus/covid-19-autoritarismo-e-izquierda-confinada?fbclid=IwAR2HPVnHlU2vGnJVqXrMcc3xHKyrcZDajvGxesku2ZllsKjp0eUoSsDwNqk

    ResponderEliminar
  16. Ó pá.

    O João Oliveira diz isso tudo em muito menos tempo.E melhor

    ResponderEliminar
  17. Melhor? Manda link! Na declaração de voto contra o estado de emergência aflora a questão da desproporcionalidade e riscos das medidas, mas na realidade ninguém à esquerda está a ter a coragem de fazer as contas a sério, comparar com os anos anteriores e dizer que o rei vai nú, porque vai! A censura é muita em todos os contextos, e o debate é escasso. Ainda assim, realmente não vejo melhor opção de voto do que o PCP.

    ResponderEliminar
  18. Caro Nuno Serra,

    O meu ponto e que a sua linguagem permanece equivoca e ambigua. O meu ponto e que procura obfuscar uma realidade que e meridianamente obvia e ate ja apontada hoje mesmo pelo seu colega de blog, Joao Rodrigues, acerca da resposta das autoridades Europeias (e Portugal tambem por arrasto ja que e uma periferia pobre deste do Imperio Europeu) - austeriadade pandemica, os governo tem tentado lidar com esta pandemia gastando o minimo possivel.
    O meu ponto e que posts como este do Nuno Serra procuram dar, por negligencia ou dolo, uma especie de "validacao pseudo-tecnica" da respostas austeritarias a pandemia na Europa e em Portugal em particular, porque dao a entender que esta "segunda vaga" afinal pode nao ser, no essencial igual a primeira vaga... A lingua inglesa tem uma boa palavra para isto: disingenuous.

    Vamos la a algumas ilustracoes:

    1 - Se no seu ponto 1, la admite a contra-gosto que que a "hipotese optimista" estava radicalmente errada di-lo nestes termos:

    "1. Nas últimas semanas desfez-se, num certo sentido, uma hipótese otimista sobre a evolução da pandemia na UE,"

    LL: "num certo sentido"??? Isto esta ao mesmo nivel de afirmar, sem se rir, que 2+2 "num certo sentido" nao e igual a 5...

    2 - No seu ponto 2 insiste nisto:

    "2. Importa ainda assim assinalar a diferente progressão face à primeira vaga."

    LL: Importa? Porque? Porque o autor nos quer explicar a etiologia das diferencas? Nao, ate porque o Nuno Serra na caixa de comentarios me assegura que nem tem competencia para comentar tais pormenores tecnicos...
    Fico portanto, em rigor, sem saber ao certo porque e que isto importa ser assinalado...o Nuno Serra nao esta para explicacoes dessas minudicencias.
    Fico entao refem de uma crescentemente incomoda sensacao que esta formulacao frasica e o ponto 2 em geral, sao artificios retoricos para "num certo sentido"o Nuno Serra implantar a ideia que afinal 2+2 pode mesmo ser 5... Uma tentativa em calendario extra-pascal de ressuscitacao de uma "hipotese optimista"?

    3 - A sensacao incomoda so se agrava no ponto 3 infelizmente:

    "3. Para lá do número incomparavelmente maior de testes realizados (que ajuda a explicar o aumento vertiginoso de novos casos),

    LL: Ajuda? Porque? Nao houve um aumento vertiginoso de casos em Marco tambem?
    PS nem uma palavra sobre as distorcoes que a falta de testagem em Marco causa na informacao disponivel sobre a primeira vaga.

    "e da redução da média etária dos infetados (que contribui para explicar o menor aumento de internados e óbitos),""

    LL: Com que base afirma isto? E uma falsidade ate prova em contrario.
    PS nem uma palavra sobre as distorcoes que a falta de testagem em Marco causa na informacao disponivel sobre a primeira vaga.

    "Ou seja, de uma lógica de contágio mais associada a padrões de aglomeração e a contextos sociais mais desfavorecidos (a par de surtos pontuais em empresas), passou-se - com o desconfinamento e a progressiva retoma do quotidiano - para lógicas mais difusas e reticulares de propagação do vírus."

    LL: As relacoes sociais humanas sao complexas? Nao me diga... e em Marco? Nao haviam "logicas difusas e reticulares de propagacao do virus"?
    O Nuno Serra ate podia a progressa da epidemia agora na segunda vaga esta ligeiramente mais atrasada que na primeira vaga porque algumas cadeias de transmissao estao agora bloqueadas pelas medidas parcias entretanto introduzidas. Mas o Nuno Serra nao se mete por ai, prefere dar so entender neste ponto 3 que "isto agora e muito mais complicado"... presumivelmente em comparacao com Marco, sem no entanto apresentar dados que verdadeiramente sustentem afirmacaoes temerarias deste calibre...
    PS nem uma palavra sobre as distorcoes que a falta de testagem em Marco causa na informacao disponivel sobre a primeira vaga.

    ResponderEliminar
  19. 4 - Ponto fulcral do seu post:

    "4. Estas alterações comportam - até pelo volume de novos casos diários - uma complexidade acrescida no combate à pandemia, desde logo comprometido pela menor capacidade de rastreamento das cadeias de contágio."

    LL: Este argumento so e verdade quando se aceita a priori que nao se quer gastar dinheiro no combate a epidemia. Quando a austeridade pandemica e aceite como molde desta discussao. Quando o confinamento geral ou o testagem e isolamento em massa nao sao opcoes no espectro politico do possivel, ai sim, OK, o combate a epidemia fica "complicado"...
    Mas a ver se nos entendemos: essa "complexidade" nao foi aqui introduzida por qualquer tipo de alteracao "natural", ou seja, o virus e o mesmo, a epidemiologia inalterada, as ferramentas ao dispor das autoridades sao as mesmas.
    Essa "complexidade" e um artefacto introduzido por opcoes politicas tomadas a priori por muito que o Nuno Serra ache "importante assinalar diferencas" sem importancia de relevo ou simples falsidades nos dados disponiveis.

    5 - Sobre a substancia do seu argumento no ponto 5 nada tenho a comentar. Concordo ate no essencial. Mas redunda em absoluto colapso retorico porque sustenta-se nos 4 pontos anteriores - falaciosos e podres.


    Percebe agora, melhor, no fundo, o meu ponto caro Nuno Serra?

    ResponderEliminar
  20. Percebo, caro Lowlander, agora percebo bem o seu ponto. Está a atribuir-me uma «intencionalidade subjacente», nestes posts, que não passa de um mero processo de intenções. Face a uma análise descritiva dos dados, correta ou não, evidentemente, o Lowlander vê um esforço de branqueamento e de manipulação. Está no seu direito, claro. Eu é que não aprecio, de facto, discutir e debater as coisas a partir dessa base.
    Cumprimentos

    ResponderEliminar
  21. Caro Nuno Serra,
    Esta portanto a prender burrinho? Entao veja la se o prende bem...

    Entretanto relembro-lhe e recapitulo as cenas dos episodios anteriores: nao e a primeira vez que lhe faco reparos nesta sua serie de posts.
    Comecou em posts anteriores e se reparar tem sido em crescendo. Comecei por dar achegas, a apontar areas que o Nuno Serra nao estava a ter em conta, para depois explicitar erros na analise, a acautelar mudanca de tactica e finalmente a invectivar o Nuno Serra de forma mais vigorosa.
    Estou certo de que qualquer leitor razoavel, Nuno Serra incluido, se ler com atencao, percebera que as minhas intervencoes nestes seus posts andam sempre a volta do mesmo tema: o Nuno Serra esta a praticar uma analise erronea e enviesada dos dados epidemiologicos disponiveis sobre a primeira e segunda vagas na Europa e por arrasto Portugal, pobreperiferia deste Imperio Continental. Essa analise defeituosa tem efeito contraproducente no que quer que seja (nao interessa o que) que o Nuno Serra prentenda argumentar a partir dai.

    Acredito quando lhe digo isto: nao lhe atribui e nao lhe atribuo "intencionalidade subjecente" alguma, senao, nem sequer trocava impressoes consigo - acho que ja lhe disse alhures que tenho em alta estima os seus textos sobre outros temas.

    Mas tambem lhe algo mais com franqueza: experimente agora por um momento tentar ver as coisas do meu prisma... perante avisos meus em crescendo e a bruta forca da realidade dos numeros, o Nuno serra insiste nesta avenida esteril de argumentacao... A uma certa altura a perplexidade na sua forma mais simples forcosamente tem de evoluir.

    ResponderEliminar