Se há coisa que o Partido Socialista e António Costa não podem fazer é gritar que o Bloco de Esquerda desertou da esquerda para se aliar à direita.
Discuta-se se é uma boa ideia votar contra a proposta de Orçamento de Estado, mas nunca aquilo que se disse ontem no Parlamento. Porque nesse capítulo há actores maiores.
O Partido Socialista foi um dos principais obreiros das alterações à legislação laboral que foram sendo introduzidas desde 1976 e - como o próprio António Costa o disse - sempre para prejudicar os milhões de trabalhadores que o Partido Socialista diz defender. Costa afirmou-o quando se discutia o pacote contra a precariedade, que - veja-se lá! - se melhorou umas coisas, prejudicou ainda mais outras. Aliás, a sua aprovação foi feita com júbilo pelos deputados do CDS e do PSD para vergonha silenciosa dos próprios deputados socialistas que se viram engomados por esse rolo compressor.
Tudo supostamente porque o Partido Socialista adere como uma luva perfeita a um modelo neocorporativo e governamentalizado, erguido para desvalorizar o trabalho, em que a concertação social - onde confederações patronais sem representatividade têm o mesmo peso dos trabalhadores e marcam as discussões e o conteúdo dos acordos, com o voto de uma confederação sindical onde pontuam... os socialistas. Um modelo que abusiva e inconstitucionalmente se sobrepõe ao próprio parlamento e acaba por esvaziar as suas competências, obrigando os deputados a aprovar o que quem lidera o patronato quer.
Aliás, ainda ontem Costa teve daqueles momentos em que disse numa frase uma coisa e o seu contrário. A defender a proposta do OE
para 2021, elogiou a moratória de 24 meses para a caducidade das
convenções colectivas porque assim se "impede a desregulação" para 3
milhões de trabalhadores. Palmas dos deputados socialistas! Disse mesmo, em resposta ao deputado de Os Verdes:
"A garantia que demos protege 3 milhões de trabalhadores com a moratória da caducidade das convenções colectivas que assegura a protecção durante dois anos, evitando que os trabalhadores sejam forçados a renegociar a contratação colectiva numa situação de fragilidade e que, numa situação de crise, veja a sua posição negocial reforçada para manter o diálogo social e a negociação".
Mais
palmas! Mas fica a dúvida: se o impedimento da caducidade das convenções públicas é bom
por 24 meses - porque ela impede a desregulação do mercado - por que
razão se aprova uma moratória e não um impedimento permanente? O que vai acontecer daqui a 24 meses? Benignamente, dir-se-á que o PS está a abrir uma porta para, daqui a dois anos, dizer: "Correu bem, continuemos". Mas nunca se pensou nisso? Ou ter-se-á pensado agora, porque essa foi uma das propostas que surgiu na negociação e que o PS já se apropriou dela? Porque, na verdade, o Partido Socialista já votou tantas vezes contra o fim da
caducidade das convenções colectivas e contra o princípio do tratamento
mais favorável - que legitima que uma convenção pode ter normas mais
recuadas que a própria lei! - dispositivos legais que deixam os trabalhadores a negociar em estado de necessidade (isto parafraseando José António Vieira da Silva em 2003).
Ninguém questionou Costa sobre isso, mas para Costa esta frase parece ter sido dita sem se aperceber do alcance das suas palavras. Algo revelador da forma como certas medidas são tomadas, pensando-se apenas nos equilíbrios políticos de curto prazo, sem que se pense nos seus efeitos económicos e - pior, muito pior! - sem que se pense nos milhões de trabalhadores que estão na matriz da fundação do Partido Socialista. Refiro-me à primeira, porque a segunda foi outro assunto...
Veja-se o caso da notícia que saiu hoje no Público (novamente assinada pela jornalista São José Almeida, como se tivesse sido debitada pelo Governo, sem contraditório) em que o Partido Socialista chantageia literalmente ainda o Bloco, sem pensar nas pessoas a quem a medida se destina e sem admitir que o Bloco possa votar a medida na especialidade:
"Algumas das alterações às leis laborais que o Governo se comprometeu a fazer, num documento que entregou ao BE durante o processo negocial sobre o Orçamento do Estado para 2021, ficarão sem efeito, no caso de o BE votar contra a proposta de contas do Estado na votação final global a 26 de Novembro" (...) "o mesmo responsável afirmou: 'É importante ter presente que o BE, ao decidir votar contra, decidiu também abdicar ou largar mão de tudo o que consta nesse documento sobre matérias laborais'.”
Em resumo: Se há deserção, essa tem sido a prática laboral em democracia do Partido Socialista. E friso o nome do partido por extenso porque creio ainda que os socialistas devem defender no dia-a-dia a construção de uma sociedade mais justa e menos desigual. E não dizer defendê-lo e fazer o seu contrário todos os dias.
Na competição pela titularidade dos donativos públicos, a luta está acesa.
ResponderEliminarO contribuinte, indígena ou europeu, provisiona os meios pelos quais se expressa uma tamanha e tão competitiva generosidade.
Aos lacaios do capitalismo cabe criar a riqueza bastante!
A direita roufenha e a extrema-direita ainda mais roufenha a agitarem os impostos como um bolsonaro a Aliviar a carga fiscal aos muito ricos
EliminarFala-se do contribuinte europeu e até do indígena como o outro travesti holandês falava no contribuinte holandês a aprovisionar a vida portuguesa
Este pensa que não reconhecemos um neoliberal, vestido ou não à lacaio ou travestido de qualquer outra coisa
Ainda vamos ter de novo o circo "Limiano".
ResponderEliminarpois, ao não colaborar com o ps, o be viabiliza a implementação de politicas de esquerda pelo psd/cds - como vimos há uns anos atrás.
ResponderEliminarextraordinário!
rui
António Costa não é sério e é indisfarçável o comportamento abusivo deste senhor, diz uma coisa e o seu contrário com uma naturalidade que envergonha. António Costa não é na substância diferente dos políticos que têm governado o país nos últimos quarenta anos, governam contra a constituição sem qualquer despudor e ainda se acham democratas de primeira água.
ResponderEliminarCom uma naturalidade que envergonha, a direita tenta aplanar tudo e todos
EliminarCosta é o que é e infelizmente não vai mais além. Mas graças à sugestão do PC, uniu-se toda a esquerda e conseguiu-se correr com os salteadores do país amarrado.
E isso os Pafistas ressabiados ainda não perdoam
Faz tanto sentido dizer, João Ramos de Almeida, que o PS é um Partido Socialista como dizer que a CRP é Socialista porque o seu preâmbulo se refere ao dito Socialismo.
ResponderEliminarGanharíamos todos em clareza se o PS se assumisse como o Partido Social-Liberal que é e evitaríamos estas jeremiadas de quem está farto de saber que isto é assim e vem retoricamente falar na traição do PS ao Socialismo.
O Socialismo morreu estrondosamente em 1989 e já vinha antes a passar mal e a Social-Democracia morreu antes disso, nos idos de 70, depois das crises petrolíferas terem guindado ao poder governos de Direita que inauguraram o que se convencionou chamar de era neoliberal.
O PS adaptou-se ao facto de que é e sempre foi um Partido inter-classista, que não ganharia uma eleição sem os seus eleitores burgueses. Se o BE acha verdadeiramente que o Governo não serve, então faça como em 2011 e experimente ao invés a Direita. Porque é alternativa disponível e é a quem esses eleitores entregarão o seu voto se este Governo cair.
Pode não gostar de ouvir isto, mas é o que se passará.
Quanto à concertação social, é uma ideia importada das sociedades social-democratas do Norte da Europa e não me parece que se tenham dado mal, por contraponto aos sindicalismos francês ou britânico, esmagados pelos neoliberais, que são uma sombra do que foram.
Aliás, se o que diz é verdadeiramente assim, o que faz lá a CGTP, que nunca assina os acordos mas continua a participar?
Jaime Santos esmera-se.
ResponderEliminarDepois duma patética cena em que demonstrou a sua "literacia funcional" na interpretação dum simples texto de João Rodrigues, JS vai de volta. Abandona a demonstração das suas qualidades interpretativas e volta-se para outra coisa. Para a narrativa político-ideológica de autor, com aqueles laivos originais de quem quer que o levem a sério e com as certezas absurdas características dos vendedores de banha da cobra
Mas sai-me mais uma vez bastante mal.Pode não gostar de ouvir o que se lhe diz mas também tem que aprender a ter mais nível, a não repetir feito barata tonta, todos os gemidos e os ais daquela ala mais à direita dum partido que se diz socialista... para desgosto de Jaime Santos
Já percebemos que JS não gosta de socialismo. Até lhe causa um calafrio ao coitado, quando confrontado com a simples palavra.
ResponderEliminarMas a coisa vai piorando.
JS agora quer que o próprio PS mude de nome. Mude de designação e que apague aquela maldita palavra, "socialista", para adoptar a terna e doce designação de Partido social-liberal.
E isto porquê?
Por coisas mais profundas e fundas.Mas há uma bastante trivial e que lhe denuncia o flanco e a careca
Para não lhe denunciarem a "traição". A dele? Talvez. Mas a do PS com toda a certeza
A consciência pesada e frustrada perante os factos, a tentar arranjar argumentos para o bandear desta forma tão cristalina. E para um bandear que se quer definitivo. Desta forma tão tonta mas tão própria das elites que se passam para o outro campo.
JS tem pressa.
ResponderEliminarTanta que quer tirar a palavra "socialista" que denomina o partido socialista.
Tem medo que se lhe cole qualquer veleidade de querer "a construção de uma sociedade mais justa e menos desigual"
Mesmo que tal frase não tenha correspondência prática no quotidiano, adivinham-se os suores frios de JS perante tal possibilidade
E apressado ( como se sabe, JS tem pressa) propõe aquela novilíngua dos neoliberais envergonhados, para ver se consegue vender o seu "produto. "Partidp social-liberal", uma mistura pusilânime das teses sociais duma democracia cristã feita de caridadezinhas, com as teses neoliberais puras e duras, daquelas a que JS se rendeu
É feio, muito, mas é elucidativo.
JS acha que assim o poupam ao seu confronto com aquela palavra que define o abandono da ideia do socialismo por parte da social-democracia. Ele que pelo seu próprio pé abandona a social-democracia para se render às teses tidas por ele como vencedoras.
Coitado de JS. Pensa que lhe basta um pin na lapela com o novo baptismo para fazer esquecer de onde se vem, o que se fez e para onde se vai.
Quem trai os seus ideais é sempre um traidor. Dê-se as voltas que se der, quer o abrilhantem com o marketing neoliberal, quer escondam debaixo do armário a carne putrefacta que o alimenta
Surpreende ( ou talvez não) uma outra coisa.
ResponderEliminarÉ a forma, tão taxativa como definitiva, como JS caracteriza a História e os acontecimentos.
"O Socialismo morreu estrondosamente em 1989 e já vinha antes a passar mal e a Social-Democracia morreu antes disso, nos idos de 70 blablabla blablabla blablabla
Para vender o "produto, JS transforma-se em cangalheiro.
Claro que JS tem todo o direito de proferir as mais bizarras cerimónias fúnebres.Mas também tem que ouvir aquilo que não quer ouvir. Quem faz afirmações com esta leviandade à Bolsonaro, com este grau de certeza à Cavaco Silva, com esta pesporrência de mestre idiota a falar para outros que julga como idiotas, tem direito a uma sonora gargalhada e a um encolher de ombros
Um qualquer general romano que apressado terá comunicado a morte do cristianismo após chacinar uma cidade inteira, terá também tido a mesma petulância de JS?
Estas leituras da história envergonham as nossas ditas elites. Mas são a marca surreal da indigência intelectual de quem lê nos artigos de opinião, seleccionados de aficionados, os traços com que pretendem encontrar e satisfazer as suas verdades absolutas.
Porque, e eu sei que JS não vai gostar do que vai ler, para além da utilização medíocre das capacidades cognitivas, o que se demonstra também,para além de cobardia ( e já lá vamos) é medo.
Que diacho. Então se o socialismo morreu , se a social.democracia morreu, porque queima as pestanas JS com todo este paleio idiota de evangélico, a insistir que o morto está mesmo morto?
E depois há essa imensa cobardia de quem tenta vender mais uma vez a inevitabilidade de se aceitar os vencedores definidos como tal por JS
ResponderEliminar"guindado ao poder governos de Direita que inauguraram o que se convencionou chamar de era neoliberal"
"esmagados pelos neoliberais"
Um riquinho este JS. Por causa de tal vitória, há que colocar na designação do PS a palavra "liberal" colada ao "social"
( Com a tomada de Paris pelas tropas nazis, a Resistência recusou render-se. Para onde teria pendido o pulsar de JS? Para os vitoriosos esmagadores ou para os esmagados pelos nazis ?)
Há que considerar que os "sindicalismos" são uma praga. Por causa deles os neoliberais venceram, segundo mais uma sua arguta tese, a merecer figurar ao lado das teses de Cavaco Silva.
A nossa sorte é que ninguém vai ter a pretensão de juntar estas pérolas de JS.Porque senão teríamos mais uma vez o cavaquista cavaco silva a enfileirar com o assumido não cavaquista JS. Em ambos,o produto do seu labor, dito intelectual, não serviria para mais do que se disse que servia o livro do ex primeiro-ministro
Porque por mais que queiramos, não há praticamente ponta que se aproveite. Também JS nos quer vender que a concertação social é "uma ideia importada das sociedades social-democratas ( ai sim?) do Norte da Europa".
Para isso há remédio. ´É mandar JS is estudar. E ir declinar as maravilhas da dita concertação social.
Quanto à referência à CGTP ...
ResponderEliminarMais uma vez se confirma que o que une um neoliberal com um ditadorzeco de meia tijela é algo mais profundo do que se pensa.
JS quer riscar a CGTP dos fóruns em que esta decida ter voz activa?
E porquê?
Porque nunca assina os acordos que os neoliberais querem que assine? E assim não vale?
A voz do dono tem muitas faces. Esta é mais uma.
Acho que alguém precisa recordar o PS da sua incapacidade de obter maiorias absolutas (1 em 8 governos PS) em Portugal e que ao queimar o BE está na realidade apenas a dar tiros no pé, a não ser que esteja a tentar criar uma narrativa de forma a voltarmos ao bloco central.
ResponderEliminarFalta de vergonha na cara é o que o PS tem. Não se compreende como um partido de "esquerda" sempre só fez coligações à direita e em 2019 quando o eleitorado lhe deu a oportunidade de governar em coligação com o BE, decide antes governar em minoria e continuar a fazer um buffet político, comendo à esquerda ou à direita como lhe convém. Se quisesse estabilidade política, tivesse feito a coligação.