terça-feira, 23 de junho de 2020

Insónias improdutivas

"O PR diz que a Europa tem de se reindustrializar e é já. Seria bom começar por perceber por que motivos a Europa em geral - e Portugal em particular - se desindustrializou. E por identificar tudo o que terá de ser mudado para que a reindustrialização aconteça (e em que medida tal é desejável). Escrevi sobre isso há uns 7 anos, no Ladrões de Bicicletas. Essas 5 ideias sobre a 'reindustrialização' não perderam actualidade. Talvez Marcelo queira dar uma olhada."
A frase é do Ricardo Paes Mamede num post no Facebook de hoje.

A intenção do Ricardo é boa. Mas tenho a pior das expectativas.

Porque Marcelo Rebelo de Sousa acorda, de repente, para uma evidência de anos, décadas. E, sobressaltado, estremunhado, vem à janela gritar - "a Europa tem de se reindustrializar e é já". Gosto sobretudo do "já!": tem muito daquele apelo revolucionário, mas no fundo apenas repete aquilo que, em Bruxelas, já se diz como novo mantra comunitário. Não há pensamento original, não há ideias, não há visão. Apenas e tão somente soundbyte autorizado.

Marcelo bem pode propagar o mito de que passa horas da madrugada acordado, mas o que lê não lhe serve para pensar ou escrever. Apenas faz selfies e repete o que vem do centro europeu.

11 comentários:

  1. Convém frizar que o "centro da Europa", vulgo Alemanhã, continuou e continua alegremente bem industrializada.
    Convém frizar que nas periferías sempre existiram indústrias que pela dimensão e rentabilidade, mão-de-obra barata ou riscos de poluição óbviamente não interessam ao País no centro disto tudo.

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  2. Sobretudo, não devemos confiar em quem nos conduziu para o desastre.
    Quem, desde há 40 anos atrás, tudo tem feito para destruir a industria europeia, não pode agora gerir uma hipotética re-industrialização, que dificilmente será conseguida, até porque os países asiáticos levam vantagem e não a vão ceder.
    No fundo, a globalização, que levou à desindustrialização da europa, foi promovida pela ganância das elites e a ganância sempre levou a este resultado (lembram-se da história da galinha dos ovos de ouro?...).
    Pensava a esclerosada Alemanha que iria produzir e vender eternamente os carrinhos brilhantes.
    Bem, parece que não.
    Para além de os EUA ameaçarem fechar as portas, os chineses em breve estarão a produzir e exportar carrinhos melhores e mais brilhantes que os alemães.
    Mas é tarde para reconstruir indústrias perdidas (falta tudo, especialmente o know-how perdido).
    Uma estratégia de re-industrialização teria que apostar em áreas novas como, por exemplo, as tecnologias "verdes".
    Mas se deixarem ao critério dos mesmos do costume, em breve todo o eventual investimento público será perdido e a eventual produção novamente deslocada para a ásia.

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  3. se conseguissemos voltar a ter industria nos próximos 20 anos teríamos de ter políticas proteccionistas para competir com os gigantes asiáticos

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  4. A reindustrialização como grande opção criadora de emprego e de bem-estar vai ao arrepio de toda uma cultura de emprego não industrial ou sequer industrioso.

    Há indústria onde se cultiva tudo que é não sujar mãos, com o ensino técnico menorizado e estigmatizado com as habituais referências de opressão classista?
    Provavelmente logo nos virão a falar de umas quaisquer indústrias de alta tecnologia, daquelas que requerem grossos investimentos e proporcionam substanciosos salários, para capitais que não temos e técnicas que não dominamos.

    Uma coisa é certa, a reindustriaização vai requerer massivo apoio psicológico e doses cavalares de análise sociológica, de que possuímos amplos recursos.





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  5. «A reindustrialização como grande opção criadora de emprego e de bem-estar vai ao arrepio de toda uma cultura de emprego não industrial ou sequer industrioso.»

    Vês como tu sabes? Escusamos de exportar a mão de obra para fazer o mesmo.

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  6. é preciso ter cuidado para alguns comentários relâmpago sobre a globalização e os custos do trabalho. recomendo uma bela leitura do Ha joon chang. ele desmonta completamente o mito do liberalismo actual. o que é certo é que tivemos duas coisas: proteccionismo e massive investimento publico para fazer avançar os países um pouco por todo o mundo, desde Europa EUA África e Coreia, e ainda hoje há muitos países que pregam liberalismo e o mercado e que fazem muitas medidas proteccionistas. os EUA de trump sao o mais evidente, mas há mais! portanto é bom que se comesse a retirar retratos da parede... esta era está a chegar ao fim

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  7. Pois , talvez fosse boa ideia perguntar o que é isso da reindustrialização hoje?
    Talvez fosse boa ideia perguntar às confederações empresariais o que é isso?
    Estamos a falar de quê? ? Do mesmo? Ou temos alguma ideia de que, qualquer coisa dessas, deve assentar em cima de algo diferente e com outra visão das coisas.
    Peçam a um qualquer especialista da consultoria empresarial, de qualquer consultora multinacional,algumas delas comparam recentemente gurus nacionais, para lhes fazerem o guião.
    As cadeias de valor vão-se manter? as industrias que suportam as nossas exportações aguentam-se?
    Que novas apostas estratégicas devem ser feitas?.. e por aí adiante.
    José Duarte

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  8. Sim, Marcelo teria todo o interesse em ler este excelente post do Ricardo Paes Mamede. Mas parece que não é só ele que precisa de o ler atentamente:

    Ponto 3: A desindustrialização não é um fenómeno negativo por natureza

    Ponto 5: A reindustrialização faz pouco sentido como objectivo central da política de desenvolvimento

    Pois, eu percebo que quem sonha com o regresso aos anos 70 e com a recuperação do poder dos sindicatos (que parece que não sabem conquistar filiados entre os precários, ou não lhes interessa), a reindustrialização pareça uma ideia catita.

    Só que é capaz de não o ser...

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  9. João pimentel ferreira vai com o tempo a fugir à pressa

    E vai de encontro ao Jose duarte.

    Gosta de multinacionais, de consultores.E de gurus

    Evangélicos até.

    Ele e Bolsonaro coincidem na abordagem sanitária à Covid-19

    E por aí adiante

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  10. "a reindustriaização vai requerer massivo apoio psicológico e doses cavalares de análise sociológica, de que possuímos amplos recursos"

    Doses cavalares é o que tem esta frase. Mas não é de análise sociológica nem de apoio psicológico.

    É doutra coisa. Quem quiser que adivinhe

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  11. Jaime Santos está preocupado com as "suas economias", como já aqui o confessou.

    Não está preocupado nem com os salários nem com as pensões.Nem com os indícios que se acumulam

    O que lhe põe em agonias é que se recuperem instrumentos de soberania. Também económicos.
    E todo catita revela o que lhe vai na alma que é essa coisa dos sindicatos.

    Entre os sindicatos e os que "redistribuíram rendimento dos trabalhadores para os proprietários do capital” ele lá sabe o que escolhe.

    E nós também

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