sábado, 9 de maio de 2020
Não confieis na Europa deles
Ver dirigentes políticos de partidos de esquerda subscrever uma tomada de posição sobre a União Europeia com Carlos Moedas, Miguel Poiares Maduro ou Luís Pedro Mota Soares, antigos membros do governo da troika, é de bradar aos céus. No entanto, todos têm já a obrigação de saber que neste tema há quem objectivamente vá atrás da direita e do reforço do arranjo supranacional que tranca a sua política, as suas bandeiras.
Dizem que é a Nossa Europa, mas eu digo que é a UE deles. Lançam “três alertas”, logo com o truque ideológico dos “egoísmos nacionais”, associando um sentimento perverso à esfera nacional, reservando para a esfera supranacional europeia uma disposição altruísta, vinculando-a institucionalmente a aspirações vagas.
Na realidade, é mais rigoroso dizer-se que é preciso superar os egoísmos supranacionais e regressar a uma Europa de Estados sociais. De facto, os Estados sociais europeus, assim no plural, são construções essencialmente nacionais, que tudo deveram às dinâmicas políticas dos espaços onde esteve e ainda sobrevive a democracia.
Mas há mais, no meio de vacuidades expectáveis numa associação desta natureza, como de resto já tínhamos assinalado.
No primeiro alerta, afiançam que é necessário “aprofundar a integração em matéria de saúde pública e protecção civil”, já que “os grandes desafios do séc. XXI não conhecem fronteiras”. Na realidade, precisamos de fronteiras para enfrentar os desafios, porque precisamos de responsabilidade democrática, de controlar os capitais e de aumentar a auto-suficiência nacional. Uma economia menos integrada é mais fácil de pilotar e é mais sustentável social e ecologicamente. E precisamos de defender o nosso Serviço Nacional de Saúde. Nacional, reparem.
No segundo alerta, dizem que ninguém pode ficar para trás, mas valores vagos estão na realidade ao serviço da defesa dos pilares da ordem euro-liberal produtora de desigualdade: “o mercado interno, a moeda única e as liberdades de circulação”. Com mercado único e moeda única, única tende a ser a política que deixa sempre tantos para trás.
No terceiro alerta, falam de um “sobressalto democrático”, esquecendo-se que a erosão da democracia começou com a Europa deles, com o furto supranacional, gerador de perigosa impotência, de instrumentos de política às democracias realmente existentes. Esse furto chamou-se UE, o arranjo de Maastricht, o seguro de vida do pensamento único, da política única e das vacuidades únicas.
O europeísmo destrói qualquer projecto emancipador. Não confieis na Europa deles.
Quando pessoas em relação às quais não há razões de presumir como sendo destituídas de inteligência monta um discurso em que a irracionalidade é uma constante, há que procurar o fundamento que racionaliza o discurso.
ResponderEliminarEm toda esta campanha anti-europa e pró-fronteiras, moeda e demais componentes autárcicos só há um fundamento possível: poder; acreditar que as condições resultantes de uma tal política, por mais desgraçadas que fossem para o país, lhes traria poder!
Boa Zé! Descobriu a pólvora!: O problema da política é o de saber quem tem o poder! Parabéns!
EliminarO supranacionalismo europeu não existe.
ResponderEliminarA UE, dominada pelo conselho europeu (ou seja pela alemanha), está a fazer tudo para se auto-destruir, o que não é lógico que aconteça.
A UE está nas mãos do supranacionalismo financeiro global.
Tal como o vírus procura destruir o hospedeiro, a finança está a destruir a UE.
Lembrem-se: o neoliberalismo está a colocar no poder figuras absurdas (eua, brasil, hungria, turquia, etc.), porque são os únicos que não discutem ordens.
Porque acham então que a merkel, o rangel ou o poiares são diferentes?
A Europa deles?
ResponderEliminarIsso inclui António Costa e outros "socialistas"?
António Costa NUNCA vai permitir que o Euro e União Europeia sejam desmantelados, António Costa está disposto a sacrificar todas as gerações para manter o seu amado projecto "europeísta".
António Costa faz uma ou outra concessão (nada de fundamental) mas ele nunca vai conceder o fim da UE e Euro, era bom que as pessoas tivessem noção disso, e não o podem acusar de mentir ele tem sido bastante claro.
"UE é a nossa força para enfrentar os desafios globais" - António Costa
A verdade é que a Marisa Matias é uma chuchinha (chucha, na gíria política portuguesa, é qualificativo político, não ofensa pessoal). Enganou-se no partido, devia estar no PS.
ResponderEliminarUm sujeito aí em cima diz:" monta um discurso em que a irracionalidade é uma constante"
ResponderEliminarO que é isto? Uma auto-crítica? Ou uma certidão de provedor da (i)rracionalidade?
O mesmo sujeito: "Em toda esta campanha anti-europa e pró-fronteiras, moeda e demais componentes autárcicos"
A irracionalidade para este sujeito é assim a pro-europa ( leia-se Alemanha),as anti-fronteiras ( leia-se, desde que não sejam refugiados) e anti-moeda ( leia-se anti-soberania nacional)
Essa de chamar de irracional a quem não segue a "racionalidade" de um outro, revela muita coisa. Todas de má fama.
No fundo é um outro discurso do TINA. Agora adornado com a pedantice idiota da "racionalidade"
Da idade? ou da )i)rracionalidade?
Mais uma vez JR chama o nome aos bois.
ResponderEliminarE desta vez até duma forma ainda mais literal
E deveremos confiar no projecto de quem faz elogios a Lenine e à URSS, João Rodrigues?
ResponderEliminarQuando se critica é bom sempre perguntar qual é a alternativa. É que, como diz o povo, para pior já basta assim.
Por isso, confio muito mais na Europa destes políticos falíveis e por vezes hipócritas e superficiais, mas ainda assim respeitadores de um mínimo decoro democrático, do que do projecto nacional de quem canta loas à dita URSS, ou a Cuba, ou à China ou ao Vietname... Pelo menos Bruxelas nunca mandou tanques para lado nenhum...
Não é pólvora, é denunciar tratar-se o político como se fôra ciência económica.
ResponderEliminarÀ esquerda só se conhecem dois momentos mobilizadores de verdadeira contestação ideológica dos fundamentos do sistema capitalismo e da estrutura de poderes que ele engendra: a utopia anarquista que lançou os processos que fundaram o totalitarismo comunista; e uma sua ressurgência, que nem nome tem, que ocorreu nos idos de 1968, e que não configurou coisa alguma em processos políticos não capitalistas.
O que hoje ocorre é uma farsa que se opõe a essas utopias: a luta social é toda dirigida a exacerbar os processos capitalistas - consumo-crescimento económico, divisão do trabalho - e a par disso propõe-se como ciência económica tudo que venha a inviabilizá-los: nacionalismos e fronteiras, Estado e moeda, ...
A lógica parece ser que do desastre económico se fará luz à utopia frugal (que de austeridade nunca deve falar-se!), pela mão de quem sabe dessas coisas.
É o que me ocorre dizer agora que os pássaros me acordaram.
Caro Jaime Santos,
ResponderEliminar«Por isso, confio muito mais na Europa destes políticos falíveis e por vezes hipócritas e superficiais, mas ainda assim respeitadores de um mínimo decoro democrático,»
Não devemos estar a falar da mesma Europa... https://markcarrigan.net/2017/05/08/elections-cannot-be-allowed-to-change-economic-policy/
«Pelo menos Bruxelas nunca mandou tanques para lado nenhum»
Certo, mas apenas porque não precisa... https://www.theguardian.com/world/2016/apr/05/yanis-varoufakis-why-we-must-save-the-eu
«In 1967 it was the tanks, now they are trying to do the same [crush democracy] with the banks.”»
O romantismo tem destas coisas. Nalguns, a corda sensível pode ser despertada pelos pássaros ou pelos berros dos falangistas que gritavam os "Viva la Muerte", enquanto trucidavam homens,mulheres e crianças.
ResponderEliminarMas deixemos os arrobos românticos de jose para com os pássaros e para com os berros dos genocidas, como há tempos jose ternurentamente os classificava
Há certas frases que de tão coitadinhas são difíceis de analisar
ResponderEliminar"é denunciar tratar-se o político como se fôra ciência económica".
Denunciar tem a ver com jose, ok. Mas essa de tratar o político como se fora ciência económica?
Ciência?Económica? Político?
Que confusão vai nessa cabecinha. A economia como ciência e a política afastada da economia.
Voltámos aos tempos tenebrosos em que a política era o trabalho, segundo os canones salazaristas?
Mas o tremendismo fraseologistico de jose continua.
ResponderEliminarParece que "À esquerda só se conhecem dois momentos mobilizadores de verdadeira contestação ideológica dos fundamentos do sistema capitalismo"
Não se sabe o que admirar mais.Se a competência económica de jose para contar até dois, se esta coisa admirável de jose conhecer tão pouco, ou se esta prosápia narrativa aflitiva
Este constructo historicista de jose radicará dos conhecimentos históricos de Jose que como se sabe se fundaram numa época pouco propícia ao conhecimento. Tanto históricos como de outra índole.
E o que sai é "isto". Também para quem conseguiu ver Salazar em parangonas em jornais dos EUA por ter devolvido dinheiro imaginário do Plano Marshall...
Qual o objectivo para estes desenvolvimentos teóricos?
Tão simplesmente propagandear as virtudes do seu modelo societário (à "porrada" se for necessário e como defendeu no tempo da troika).
Tem todavia um óbice. O que tem em excesso de prosápia tem-no também na impotência argumentativa
E o que assistimos é este choradinho incrível de quem se queixa que a esquerda não combata segundo os cânones estabelecidos pelo douto Jose
Francamente custa já a ter pachorra para tanta idiotice
Jaime Santos
ResponderEliminarCresça por favor. Entre na substância do tema e não atire sobre quem escreve, com essas justificações tão idiotas, como cobardes.
O que mostra é apenas impotência argumentativa.
E já não lhe basta apresentar como testemunho as palavras dos "políticos falíveis" e hipócritas e superficiais.
A coisa está tão preta que já está reduzido a este coral de elogios?
Quanto aos tanques...ora pergunte aí se o RU, a Alemanha a França, não os enviaram
Deixe de nos tomar por parvos, JS
O Joao Rodrigues adepto do PCP, sempre foi contra a Uniao Europeia, as alternativas, sao algo distante e mirabolante, a defesa de uma Europa dos povos e de uma Europa solidaria, e nao a Europa Alema actual, pode ser dificil e ate utopica, mas qual a alternativa, isso sim seria um debate justo. Eu se fosse ao PCP e aos seus apoiantes, em coerencia, retirava os meus deputados do Parlamento Europeu, e nunca mais concorria a Eleicoes Europeias, mas o dinheiro faz jeito....
ResponderEliminarEl relator de la ONU para la Tortura tiene "miedo a saber más sobre las democracias" después de investigar el caso de Assange
ResponderEliminarEl relator especial de la ONU para la Tortura, Nils Melzer, afirmó que descubrir que la crueldad sufrida por Julian Assange por las democracias occidentales había sido premeditada ha aumentado su temor de aprender más sobre cómo funcionan esas democracias. El fundador de WikiLeads permanece encarcelado en la prisión de máxima seguridad de Belmarsh (Reino Unido).
"Hoy hace un año visitamos Assange en prisión. Mostraba signos claros de una prolongada tortura psicológica. Primero me sorprendió que las democracias maduras pudieran producir tal accidente. Entonces descubrí que no fue un accidente. Ahora tengo miedo de conocer nuestras democracias", publicó el relator en Twitter.
Partindo do princípio que vivemos na Europa , a Europa também é nossa.
ResponderEliminarUm manifesto assina-se ou não , consoante estejamos ou não de acordo com ele. Uns assinaram por convicção outros por oportunismo, mas o que interessa é a justeza do manifesto, o contrário é ser sectário, coisa muito popular em certa " esquerda" .
Quando em Lisboa houve uma manifestação de repúdio pela invasão americana do Iraque, estiveram presentes personagens como o Soares Martinez e Freitas do Amaral, a par de Maria de Lurdes Pintassilgo, Carvalho da Silva ou Francisco Louçã, certamente que pouco os unia, excepto o repúdio pela invasão do Iraque , e isso naquele momento era o suficiente.
Como diz um velho ditado popular , um relógio avariado dá horas certas duas vezes por dia....
E Cuco e basta!
ResponderEliminarTal como sucede com Marques Mendes e outras figuras da direita portuguesa, Rui Tavares (Livre), Marisa Matias (BE) e António José Seguro (PS) são membros fundadores duma coisa chamada "Plataforma Nossa Europa", surgida há cerca de três meses com o objectivo proclamado de “proporcionar boa informação” sobre os assuntos ligados à União Europeia e assim fazer “despertar a participação cívica”, numa lógica “pedagógica”. O manifesto agora divulgado pelos fundadores da plataforma é uma peça de propaganda desta "União" como tantas outras com que temos sido bombardeados nas últimas décadas. A novidade é que tenta agora aproveitar a boleia da pandemia em curso para, pela enésima vez, suplicar mais "integração". Como se o fiasco da "construção europeia" em que estamos presos - cada vez mais óbvio para mais cidadãos europeus, face aos grandiosos objectivos persistentemente propagandeados - tivesse sido provocado por uma "integração" insuficiente. E como se não houvesse "egoísmos" ("nacionais" e outros) subjacentes a toda a actuação dos políticos "europeístas" (alemães e não só).
ResponderEliminarAcusar de "sectarismo" quem justamente - e fundamentadamente - critica a propaganda emitida por esta plataforma é que é uma atitude profundamente sectária (é o caso do comentador das 16:46). E comparar a participação nesta plataforma com a partipação, em tempos, numa manifestação de repúdio pela invasão do Iraque é simplesmente ridículo.
10 de maio de 2020 às 15:21:
ResponderEliminarPimentel ferreira a fazer-se de idiota.E a tomar-nos por parvos.
Ele é mais por Passos Coelho.E reconhece-se sempre por vir montado na segunda derivada, com o bastardo pela mão
Subscreve-se o comentário das 23 e 26
ResponderEliminar*...que ocorreu nos idos de 1968, e que não configurou coisa alguma em processos políticos não capitalistas.»
ResponderEliminarNeste ponto quero assinalar que provavelmente o movimento ecologista encontrou aí algum fundamento teórico, que sem desvirtuar o capitalismo o condicionará a adaptar-se a regras adicionais.
Pobre jose
ResponderEliminarOs discursos lúcidos e claros do outro não lhe favorecem nem a escrita nem a prosápia historicista
Agora o pobre auto-cita-se.
Ahahahah