domingo, 17 de maio de 2020

Eles comem mesmo tudo


Continua a ser a melhor banda sonora para este e outros temas de economia política.

É por causa de jornalistas como Cristina Ferreira do Público que vale a pena comprar jornais. E em papel. Ela segue algumas das pistas sórdidas da banca, neste caso do Novo Banco, há vários anos:

“A partir de Outubro de 2017, assim que o banco passou para a esfera do Lone Star, com uma almofada de capital de 3,9 mil milhões de euros, a gestão começou a reconhecer perdas do “antigamente” e a vender carteiras de créditos problemáticos a grande desconto, sustentando sucessivos pedidos de capital de 2,7 mil milhões ao Fundo de Resolução, que detém 25% da instituição.”

E coloca questões pertinentes: “[A]inda se vai procurar saber o nome dos titulares das sociedades que têm estado a comprar créditos ao Novo Banco, bem como estas empresas, consideradas como “abutres”, que ganharam com o negócio?”

Acho que todos temos razões para suspeitar da resposta, tendo em conta uma peça da mesma jornalista recordada pelo Paulo Coimbra, que tem uma memória de elefante. Para perceberem o modo como estes fundos abutres operam, coloquem Lone Star e Coreia do Sul, de preferência em inglês, num motor de busca.

Pelo meio da peça de ontem, Ferreira ainda expõe implicitamente o negócio das empresas que “auditam” em função de certos interesses, levando-me a colocar uma questão singela ao Banco que não é de Portugal e ao Ministério das Finanças: 

Como querem que haja confiança no sistema se aparentemente não têm capacidade técnico-política para auditar e inspeccionar os bancos de forma autónoma, sem dependerem de empresas internacionais de imparcialidade mais do que duvidosa? E já nem falo dos grandes escritórios de advogados a que recorrem regularmente para outros serviços.

Este velho Estado tem mesmo de ser reconstruído. Esta reconstrução implica toda uma luta contra estes “mordomos do universo todo”, contra estes “mandadores sem lei”.

12 comentários:


  1. Infelizmente, cada vez mais, o velho, mas sempre novo aforismo "é preciso que alguma coisa mude, para tudo ficar na mesma", se mantém de uma atualidade indestrutível.

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  2. Os Vampiros do Zeca

    "Continua a ser a melhor banda sonora para este e outros temas de economia política".

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  3. Enquanto isso, numa galáxia distante, o Sr. Primeiro Ministro e o Sr. Presidente da República vão - convenientemente rodeados de um batalhão de jornalistas - às compras, tentando convencer o cidadão a gastar o dinheiro que não tem num suposto esforço para reavivar a economia. Agora se compreende a estapafúrdia e peregrina ideia da retoma das aulas do 11º e 12º anos: há que dar uma ideia de normalidade, pois já os nossos queridos governantes do Centrão perceberam que da solidariedade europeia (coisa semelhante ao lince da Malcata no dizer-se que existe sem que alguma vez a tenham enxergado) não vai pingar um cêntimo que seja. No meio da inteligente medida, que se lixem os professores e os funcionários auxiliares, cuja média de idades anda, como sabemos, pouco acima da média de idades dos moçoilos e das moçoilas que vão ficar em prisão domiciliária numa sala durante um dia inteiro
    Os professores e os funcionários auxiliares, ao contrário destes coitados senhores que vivem da usura e do saque no acanhado e miserável confinamento dos seus gabinetes, têm a imensa alegria de retomar a "normalidade". Com alguma sorte, ainda eles verão resolvido o seu problema da habitação, pois é por demais sabido que gente defunta não paga renda de casa nem paga hipotecas a bancos.
    Eles comem tudo? A verdadeira desgraça é que eles comeram, comem e comerão tudo uma e outra e mais uma outra vez.

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  4. Tudo isto é o resultado da desregulação dos mercados financeiros, uma parte dela voluntariamente assumida e outra parte imposta quer pela UE, quer pelo FMI, em 2010-2014(e não é por acaso que das intervenções do fmi têm resultado sempre rendas para empresas americanas).
    E como, a desregulação era o el-dorado tão aguardado pelas elites, tudo o que dela resulta é bom, mesmo que o não seja.
    NINGUÉM neste país sai a ganhar com os biliões ESBANJADOS no NB, nem mesmo os administradores portugueses, reduzidos ao papel de cipaios.
    Mas claro que, no fim de tudo, os ESBANJADORES vão ser os que estão na fila do banco alimentar.
    Não serão os iluminados, que assistem ao roubo e aplaudem.

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  5. Há algo de fundamentalmente errado em pensar que estando o Estado, através das suas mais altas instituições, visceralmente envolvido em todo o processo do Novo Banco, que é no Estado que vão encontrar-se os meios alternativos a essa acção.

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  6. "O resultado da desregulação dos mercados financeiros, uma parte dela voluntariamente assumida e outra parte imposta quer pela UE, quer pelo FMI, em 2010-2014".

    A desregulação dos mercados financeiros como sendo parte dela voluntariamente assumida não condiz muito com a realidade. Assumida por quem?
    Tal como aquela ter sido imposta entre 2010-2014...
    E as rendas...sobretudo para empresas americanas? Só mesmo?

    Uma história um pouco limitada. E curta, bem curtinha

    Maior é a água benta sobre os "administradores portugueses". Cipaios? Lol. Mas muito bem pagos
    E essa de colocar os esbanjadores na fila do banco alimentar...essa nem lembra à Jonet

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  7. Eles comem mesmo tudo

    E jose a tentar vender-nos desta forma fofinha as hossanas da gestão privada

    Encharcados e atolados de casos de corrupção,de má gestão, de fraudes, de desvios de fundos,de distribuição fraudulenta de dividendos, de socialização dos prejuízos, os tais gestores privados são o alfa e o omega de Jose

    Percebe-se que assim seja na perspectiva solidária de jose com tais gestores.

    Mas já é francamente idiota tentar recuperá-los à custa destas tretas do NB e do "Estado"

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  8. Vejamos um pouco mais esta concepção do Estado, aqui apresentada de modo tão neoliberal por jose, que tenta branquear todo este processo de vampiragem

    E utilizemos o que "Francisco" disse há uns escassos dias, aqui no LdB:

    "Um dos aspectos que se discute amiúde, nomeadamente no âmbito da Ciência Política, é o do papel do Estado nas sociedades capitalistas, aí se prescrutando da separação entre a super-estrutura institucional e as relações sócio-económicas (relações sociais de produção) que lhe são subjacentes. Chega nesse contexto a ser defendido, que apesar de existir no seio do sistema capitalistas, o Estado, dado o seu aprisionamento institucional-normativo (com todos os mecanismos de controle que se alega dimanarem da democracia liberal), acaba por ter um agir autónomo, que o coloca portanto no plano da defesa de um suposto interesse geral, acima, por conseguinte, dos interesses de classe ou de facções dessas mesmas classes. A história do Novo Banco e a figura que nele foi protagonizada por Mário Centeno, é no entanto absolutamente clarificadora da inconsistência dessas teses. Na verdade, vivendo como vivemos, numa sociedade estruturalmente marcada pela divisão em classes, aqueles que nela intervêm como actores políticos, pese embora haja passos intermédios na sua actuação, acabarão sempre por ser determinados, afinal, por uma opção classista, sendo aí que farão as suas escolhas e posicionamentos definitivos e essenciais. Centeno (e Costa e os demais elementos do governo do PS, bem como do respectivo Grupo Parlamentar), terão protagonizado aos olhos de alguns um papel caricato, de meros mandaretes de interesses que os comandam e não lhes prestam contas"

    A História não acaba aqui

    Talvez por agora lembrar as palavras de João Rodrigues para sairmos disto

    "Este velho Estado tem mesmo de ser reconstruído. Esta reconstrução implica toda uma luta contra estes “mordomos do universo todo”, contra estes “mandadores sem lei”.

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  9. Auditar os bancos de forma autónoma, plenamente de acordo, ser dono deles para lá plantar 'sumidades' da categoria de um Armando Vara, não muito obrigado. Não é aliás estranho que os bancos melhor geridos durante a crise não eram bancos portugueses, públicos ou privados. Eram bancos privados espanhóis.

    É que é uma grande chatice, mas não são apenas os abutres do privado que comem tudo. A URSS também caiu por causa dos abutres do público, não se esqueça, João Rodrigues...

    E para quem me acuse de 'what-aboutism', tem toda a razão. Só que ninguém manda o João Rodrigues andar periodicamente a cantar loas ao sistema socialista. É que sou tentado a pensar que o projecto político alternativo que defende é mesmo esse, por muito que ele fale da recuperação da soberania nacional...

    Chassez le naturel, il reviendra au galop, como dizem os Franceses...

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  10. "Sumidades como Armando Vara"

    JS, onde está o seu conceito de dignidade?

    Armando Vara foi um "socialista" do bloco central de interesses, europeista convicto, próximo de alguns dos tubarões do dito PS. E ministro daqueles "governos democraticamente eleitos em que se referendaram alguns dos tratados europeus"

    Foi da administração da Caixa Geral de Depósitos, cargo que deixou de exercer para assumir a vice-presidência do Banco Comercial Português.

    Um verdadeiro homem apologista das "grilhetas de Bruxelas"

    E plantado no banco público para fazer aquilo que o "Estado", capturado pelos interesses privados, faz, quando nomeia gente assim. Para fazer o que Vara fez

    E depois dar um trampolim para a banca privada

    Sinceramente JS, não tem vergonha?

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  11. JS de facto não tem vergonha

    É incapaz de defender mais acaloradamente a gestão dos bancos privados portugueses

    Pelo que fala assim genericamente nos "bancos públicos" em Portugal durante a crise. Um mar de bancos públicos,como se sabe, depois dos amigos de Vara terem privatizado os bancos públicos. Cuja gestão, enquanto públicos na época da Revolução, não se viu manchada pela actividade dos gestores privados que se lhe seguiram

    O que faz JS?

    Foge para os braços da banca espanhola. Opta pelas grilhetas espanholas

    E "esquece" graciosamente a corrupção na banca espanhola

    Rodrigo Rato, antigo ministro da Economia do Partido Popular e antigo diretor-geral do FMI , preso por corrupção e condenado pelo seu envolvimento no escândalo financeiro dos "cartões black" do banco Caja Madrid.
    Suspeitas de lavagem de dinheiro, contas no exterior (off-shore) do conglomerado financeiro BBVA (segundo maior banco da Espanha)
    Relatórios da operação Zelotes no Santander
    Fraudes fiscais no Santander

    Será esse um desejo secreto de JS? Passar toda a banca nacional para as mãos de Espanha?

    Já agora lembremo-nos da privatização do banco Totta & Açores em 1989 que deu origem a uma grande polémica sobre a passagem da banca nacional para mãos espanholas. Champalimaud, pouco antes indemnizado pelo Estado pela anterior nacionalização, ficou com o banco apelando à protecção dos empresários nacionais… antes de o vender ao Santander! E quem mexeu os cordelinhos deste negócio do lado do Estado acabou por aparecer depois do lado do banqueiro.

    Uma chatice esta questão da memória

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  12. "Chassez le naturel, il reviendra au galop"

    On ne peut pas dissimuler sa véritable nature car elle revient toujours à la surface.


    E JS numa manifesta demonstração freudiana assina, assim deste modo pueril, a sua verdadeira natureza.

    Qual disco riscado e impotente volta à URSS. E ao seu rancor, verdadeiro e natural, pelas funções do Estado . E o seu amor, verdadeiro e natural, pelas grilhetas neoliberais. E a sua azia, verdadeira e natural, pelo socialismo

    E a sua raivinha, verdadeira e natural, pela recuperação da nossa soberania

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