quinta-feira, 23 de abril de 2020
Lenine por Minh
Após a Primeira Guerra Mundial, eu levava a minha vida em Paris, ora como retocador de fotografias, ora como pintor de “antiguidades chinesas” (feitas em França!). Também distribuía panfletos denunciando os crimes cometidos pelos colonizadores franceses no Vietname.
Naquele tempo, eu apoiava a Revolução de Outubro apenas por intuição, não tendo em mente ainda toda a sua importância histórica. Eu amava e admirava Lenine porque ele era um grande patriota que libertara os seus compatriotas; até então, eu não havia lido nenhum dos seus livros.
A razão para eu ter aderido ao Partido Socialista Francês foi porque essas “damas e cavalheiros” – como eu chamava aos meus camaradas na época – demonstraram a sua simpatia por mim, pela luta dos povos oprimidos. Mas eu não entendia o que era um partido, um sindicato, nem mesmo o socialismo ou o comunismo.
Discussões acaloradas aconteciam nos comités do Partido Socialista sobre a dúvida de se deveríamos continuar na Segunda Internacional, se deveria ser fundada uma Segunda Internacional e Meia ou se o Partido deveria juntar-se à Terceira Internacional de Lenine. Eu comparecia aos encontros com frequência, duas ou três vezes por semana, e ouvia atentamente a discussão. No início, eu não conseguia entender o assunto por completo. Por que os debates eram tão acalorados? Seja com a Segunda, a Segunda e Meia ou a Terceira Internacional, a revolução poderia ser alcançada. Qual o objetivo de discutir sobre isso? E a Primeira Internacional, o que aconteceu com ela?
O que eu mais queria saber – e o que justamente não era debatido nos encontros – era: qual Internacional está do lado dos povos das colónias? Eu levantei essa dúvida – a mais importante em minha opinião – no encontro. Alguns camaradas responderam: é a Terceira Internacional, não a Segunda. E um camarada deu-me para ler a “Teses sobre a questão nacional e colonial” de Lenine, publicadas pelo L’Humanité.
Havia termos políticos difíceis de entender nessas teses. Mas por meio do esforço de lê-la e relê-la pude finalmente apreender a maior parte deles. Que emoção, entusiasmo, esclarecimento e confiança essa obra provocou em mim! Eu me regozijava em lágrimas. Embora estivesse sentado sozinho no meu quarto, eu gritei fortemente, como se me dirigisse a grandes multidões: “Caros mártires compatriotas! É disso que precisamos, este é o caminho para nossa libertação”! A partir dali, tive plena confiança em Lenine e na Terceira Internacional.
No seguimento do que escrevi ontem, lembrei-me hoje deste texto memorável. A memória tem destas coisas. Antes de ser Ho Chi Minh, assinalando assim os 90 anos do nascimento de Lenine, nasceu com o nome de Nguyễn Sinh Cun.
Como relata David Priestland em A Bandeira Vermelha, uma equilibrada história do comunismo, este vietnamita tentou chegar à fala com o presidente norte-americano Woodrow Wilson em 1919, na altura da Conferência Internacional de Paris, em nome do povo da Indochina, inspirado pela ideia da autodeterminação nacional a que Wilson tinha dado aparentemente fôlego. Não foi recebido por Wilson. Terá confirmado que o nacionalismo liberal ainda era basicamente para ocidentais (e como soará hoje estranha a junção destas duas palavras, nacionalista e liberal, para tantos ideólogos que andam por aí...). Para o resto do mundo, era mesmo imperialismo. Por isso, tenho defendido, contra uma certa visão liberal da história, mais Lenine e menos Wilson.
Afinal de contas, quem escreveu memoravelmente sobre imperialismo, em plena barbárie da Primeira Guerra Mundial, aprendendo tudo com a melhor economia política social-liberal britânica, com John Hobson, entre outros? Só partindo das formas de imperialismo se podia, e se pode, colocar universalmente as formas da decisiva questão nacional.
Profundamente influenciado pela leitura histórico-filosófica de Domenico Losurdo, valorizo hoje mais o marxismo dito oriental, o que colocou as questões da construção do Estado, da inserção internacional, da combinação de mecanismos de coordenação económica do que um certo marxismo dito ocidental, o que acabou na crítica politicamente impotente, relativizando, por exemplo, a importância da igualização das relações humanas representada pelo levantamento anti-colonial e seus efeitos de longo prazo.
Enfim, lembrei-me do líder da independência de um povo que derrotou os impérios japonês e francês e, já depois da sua morte, o império norte-americano e que hoje é reconhecidamente um exemplo no combate ao Covid-19.
Adenda. Mudando de geografia, mas não de abordagem, regressando ao rectângulo, gostei de ler o artigo de João Ferreira sobre a União Europeia nos 150 anos de Lenine.
"E você verá o que sai da Revolução Russa... Qualquer coisa que vai atrasar dezenas de anos a sociedade livre..."
ResponderEliminarFernando Pessoa "O Banqueiro Anarquista".
Isso mesmo,isso mesmo
ResponderEliminarComo "poeta" ,frustrado convenhamos, João Pimentel Ferreira percebe destas "coisas". Como malabarista conhecido,também
Passemos a coisas mais substantivas e deixemos o pobre a tentar aprender poemas com Pessoa. A sua palavra favorita, a burguesia", encontra muito pouco espaço de manobra perante a pesca ao passado desta forma assaz idiota
Eu sei que tudo serve ( até Pessoa) para desviar a centralidade do texto. Os béu-béus ao lado são de resto uma táctica particular de certos indivíduos, em que, ainda por cima, alguns se tentam multiplicar daquela forma abjecta dos manipuladores profissionais.
ResponderEliminarVoltemos antes ao precioso texto de João Rodrigues.
É grato ler Ho Chi Minh na primeira pessoa. É grato voltarmos ao tema dos levantamentos anti-coloniais e da profunda mudança que tal acarretou nos impérios coloniais. É grato saudar a vontade de independência de um povo que derrotou,como aí se diz, os impérios japonês, francês e americano.
Percebe-se porque motivo se foge para os braços do que quer que seja, mesmo que sejam "banqueiros anarquistas"
A impotência é tramada.
Caros Anónimos
ResponderEliminarÉ engraçado que quem acusa os outros de "multiplicidade" de nick-names, se defendam por detrás do anonimato.
A quantidade de vezes que me acusam de ser uma versão alternativa de João Pimentel Ferreira deixa-me divertido e curioso também, para saber quais serão as minhas afinidades com a do meu suposto multi-nick (já reparei que esse nome é recorrente por estas paragens, mas ainda não percebi onde estarão as afinidades, mas irei prestar mais atenção nos próximos comentários de João Pimentel Ferreira).
Quanto a Fernando Pessoa e ao Banqueiro Anarquista, tenho a informar que não é nenhum poema: é prosa! Um pouco delirante talvez, mas apenas prosa.
E, ao contrário do que parece transparecer daquilo que escreveram os meus caros Anónimos, eu não pertenço à burguesia e não defendo NADA do sistema neoliberal.
Precisamente o oposto!
Apenas tenho o hábito de ser fiel APENAS aos meus princípios, o que me leva frequentemente a criticar o status-quo, tanto à direita, como à esquerda.
Com certeza que não serei o único, pois tenho por habito ler a opinião publicada e muita gente tem postura semelhante à minha.
Percebo que fico como o tolo no meio da ponte, sem poder escolher um dos lados, mas enquanto a ponte não cair, cá estarei a perturbar as vistas.
De facto, o comunismo nasceu em 1917 e morreu em 1929, com a destruição do que restava do regime comunista pelo estalinismo.
De facto, qualquer sistema totalitário, seja de direita ou de esquerda, é mau e será derrubado, mais cedo ou mais tarde, tal como o regime salazarista - de má memória- o foi, quando já estava podre.
Lembro que a ditadura do proletariado na Rússia czarista só foi possível pela adesão dos camponeses, que - esses sim - eram a maioria da população Russa (100 milhões contra 3 milhões de operários, em 1917), que depois foram traídos pela revolução (incorporações forçadas e confisco da produção nos tempos da guerra civil e, depois de 1929, pelo confisco das terras e dos bens).
Estamos a falar, portanto, da ditadura da minoria e não da maioria.
E agora, um lugar comum para equilibrar o peso de Pessoa: "O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita".
Peço desculpa se estou a perturbar a comemoração, mas não posso deixar em claro aquilo que se pretende deixar na obscuridade e que dá tanto jeito ao regime neoliberal que assim aconteça, para que assim possam continuar a difundir a ideia de que os de esquerda são uma minoria de malucos, sem noção da realidade.
Divertido e curioso.
ResponderEliminarMais a prosa que não é prosa. Nem poesia
Explicação para o pobre pimentel paulorodrigues ferreira:
As pretensas odes poéticas dedicadas aos seios da Nádia ou da Matilde também não é poesia. Nem prosa. É outra coisa bem mais feia
Depois explicar-se-á o que é isso de poesia-prosa.Ou o contrário
Passemos a outras coisas divertidas
A "identificação" do paulorodrigues ...num blog em que se confessa farto de roubar...de 2010...Parado no tempo após ter sido assaltado
Este tipo pensa que somos parvos, lol
Mas há outras coisas mais cómicas que perturbam o que este joão pimentel ferreira vem perturbar
ResponderEliminarA negação em directo. Não, ele nem sabe quem é ele.Ele não sabe mas já reparou que há afinidades.E vai estar mais atento
Onde já lemos isto?
Precisamente. Nas tentativas de se negar quando encurralado
Mas o pobre do pimentel ainda se repete mais. Repete a comédia dum outro nickname, um tal "Pedro" que andou a arrastar por aqui a sua verve afirmando-se nem de esquerda nem de direita. E que detestava a burguesia e o sistema. O neoliberal e o tal
"Morreu" quando assumiu a sua faceta de racista abjecto. "Distraiu-se" o coitado. E quando defendeu os nazis face aos comunas foi-lhe retirado o prato de lentilhas. " Pedro " afinal era João Pimentel Ferreira". Fugiu não sem antes o pimentel fereira ter saído daqui a praguejar e a insultar os demais
Pois é. O pobre pimentel ferreira não pode deixar passar em claro a difusão da ideia da minoria de malucos.
ResponderEliminarUm benemérito. Ele que estava no meio da ponte para criticar à esquerda e à direita, resolve agora dar a mão aos não malucos porque tem pena que os malucos contaminem um dos lados da ponte
Não se riam.Isto é mesmo um tal joão pimentel ferreira , um avençado hipócrita do que todos já sabemos
Quanto à sua postura de historiador sobre o nascimento e a morte do comunismo mais os camponeses e a ditadura da minoria de malucos ... não pega
O coitado quer circo.
Mais uma sua parecença com Trump
Lenine não passa de um estratega de, criada uma organização disciplinada, hierarquizada e ideologicamente motivada, partir à tomada do poder por qualquer meio.
ResponderEliminarToda a sua força parte de uma ideologia que aponta à distribuição de riqueza e poder, e nada mais mobilizador para criar uma organização disciplinada e hierarquizada. Identificar e personificar como inimigo quem detém ou protege a riqueza a distribuir é instrumental ao sucesso.
Lenine teve a nobreza, os burgueses e os proprietários; Hitler teve os judeus; os colonizados tiveram os colonizadores e seus serventuários.
A valia das acções mede-se pelos seus resultados.
A lista dos que com os fundamentos em Lenine construíram desgraças subsequentes é entediante de tão longa.
O Ho Chi Minh saiu-se bem melhor que muitos; tinha um território que era quase uma nação, e antiga.
A forma como reduz Lenine a um estratega.
ResponderEliminarE como desta forma tão pungente como cheia de lugares comuns demonstra pelo menos duas coisas:
Que os lugares-comuns continuam a fazer carreira no linguarejar de quem acha que o destino dos ricos é serem cada vez mais ricos
Que há mesmo luta de classes
Ah e não vale a pena este choradinho hipócrita de jose a ver se passa
ResponderEliminarA ensanduichar Lenine pospega Hitler e os colonizados.
Ora quem andava com a mão estendida na saudação típica era Salazar. Autor admirado de forma néscia por jose, que até possui as suas paredes revestidas pelos discursos bolorentos e repugnantes do traste criminoso
Quanto aos colonizados... apenas uma sonora gargalhada. Adivinha-se a lágrima ao canto do olho e o soluço abafado de Jose perante as patifarias das vítimas. E a sua solidariedade para com os colonizadores e até pelos comunistas vítimas maiores de Hitler
(Mas "isto" o coitado esqueceu-se...aguardam-se os próximos capítulos de jose a pedir para rasurarem os crimes dos seus maiores)
Caros Anónimos
ResponderEliminarAs reações que li ao meu comentário só me dão razão: nenhum "anónimo" conseguiu escrever o nome "estaline".
A falta de coesão da esquerda e a concomitante apatia dos eleitores alvo dos discursos de esquerda é uma questão cultural: a cultura daqueles que só conseguem ouvir-se a si próprios.
Continuem assim, que os neoliberais agradecem.
Olha o pimentel ferreira volta com a falta de coesão, agora invocando o nome de estaline em vão.
ResponderEliminarAntes era a minoria mais a ponte no meio ou o meio da ponte e outras bojardas semelhantes como a sua famosa segunda derivada, que provava que Passos tinha sido o campeão do combate ao desemprego.
Há que ter dó deste aldrabão sem escrúpulos apesar de tudo,porque às vezes a sua própria burrice o desmascara
Agora é aquele bufarzito contra os neoliberais. Há dias descaía-se e confessava a sua simpatia para com estes, como sustentáculo da classe média
Ipsis verbis, pimentel ferreira himself em versão enlatada em paulorodrigues:
"A única razão para que o neoliberalismo exista é para a sustentabilidade da classe média"
Um sem escrúpulos. E aldrabão
Caro Anónimo
EliminarDe facto, escrevi "E o que é pior é que se está a colocar em causa a sustentabilidade das classes médias, que é a única razão para que o neoliberalismo exista."
Só que não é bem a mesma coisa que o camarada supostamente citou.
Está mais que provado que quem vota nas eleições, sejam em Portugal ou noutro país qualquer, são as classes médias (as classes baixas não votam e as alta são meia dúzia de gajos).
Ora, se Cavaco Silva obteve duas maiorias absolutas, foi por intermédio das classes médias, certo?
E foi o Sr Silva que atirou este país para o neoliberalismo.
E, sem classes médias, isto vai ser a Venezuela.
Está neste momento a insultar-me por falar da Venezuela, mas descanse, pois eu sei muito bem que o problema deles não é Maduro nem foi Chavez.
O problema da Venezuela é a ganância dos ianques.
Pois muito Bem!
ResponderEliminarAguardei pelo 24/04 para relembrar Lenine e o seu abanão a um mundo que ... se mantêm exactamente igual no modo áquele que Lenine o encontrou antes de Outubro.
E porquê dia 24/04? Exactamente pelo facto de nessa mesma data em 1974, em Portugal, o regime adormeceu convicto que tinha a maioria da população a gritar alvissaras aos seus mandos e desmandos com o crivo dos cerejeiras e a benção dos carluccis mas que ao acordar as alvissaras tornaram-se do mais revolucionário que o mundo jamais ouvira.
Para onde foram os de 24/04? De onde vieram os de 25/04, se a revolução nem era política mas sim por diferendos militares?
Como sempre na vida, não é quem trabalha a terra que ganha dinheiro e enriquece com ela mas tambem não deixa de ser verdade que quem semeia ventos colhe tempestades e durante muito tempo que a culpa tem sido dos comunas para desviar atenções as odes de promessas esquecidas com corruptos de calibre igual ao mais básico oportunismo político que muda consoante as brisas que mais lhe aproveem e o povo que lixe! Não é fixe?
Mas a terra, essa terra, a nossa terra, essa foi lavrada por comunistas que em autos de sacrificio em clandestinidade semearam ideias de liberdade e unidade na luta de classes onde Maria Eufemia ainda hoje vive em cada grito de fome e desespero num mundo que Lenine pensou mais e justo e igualitário.
Hoje, dia 24/04, escuto a tentativa de alguns tentarem desviar a conversa para o jogo de contar os mortos dos outros para que não se falem dos deles apenas porque morto e enterrado querem eles, os tais que vivem do povo ou que são povo que desdenha de si, esses sabem bem que o Comunismo não morreu e nem nunca morrerá enquanto houver quem explora e quem seja explorado.
Até Amanhã Camaradas!
Mais paleio verbalista do pobre pimentel ferreira acoitado agora no paulorodrigues
ResponderEliminarA tentar mais uma vez limpar a porcaria que andou a fazer.E o inexorável caminho do caminho pelo qual caminha
Mão pega. Nem vale a pena. Nem a classe média nem o néscio "camarada" nem o Cavaco, os ianques ou a Venezuela.
Que chorrilho de disparates encavalitados assim deste jeito tão primário
Idiotices do género conhecem-se à légua. E os seus autores vêm descritos nos manuais de propaganda da trampa
Errata no meu comentário acima
ResponderEliminar- Catarina Eufemia