domingo, 26 de abril de 2020

Covid19 industrial?

Ao cuidado dos jornalistas:

Por que razão a região do Norte, com apenas mais 25% do que a população da região de Lisboa e Vale do Tejo, tem 3 vezes mais de pessoas infectadas e de óbitos com o Covid19? Aqui é tudo ainda mais visual.

Será que é porque o Norte tem quase mais 5 vezes trabalhadores nas indústrias do que Lisboa, o dobro do pessoal na construção e apenas 75% do pessoal de Lisboa nos serviços que foram encerrados?

(ver Quadros de Pessoal de 2018, INE)

E não se trata apenas de contactos com feiras internacionais, mas de que forma é que foram concedidas condições sanitárias a quem continuou a trabalhar?  Houve alteração ou continuou a ser business as usual?

Será que tem a ver também, embora em menor escala, com haver muitíssima gente emigrada (na Suiça, em França) e que não trabalham propriamente em Universidades e que vieram para cá fazer a quarentena...? Veja-se as cadeias de contágio no boletim da DGS acima referenciado.


Tempo de se fazer reportagens às condições de trabalho dos trabalhadores do Norte - os tais heróis - que continuam a produzir.  

PS: Depois de publicado, foi-me sugerida a leitura de um artigo de João Ferrão no jornal Público, do qual retiro a seguinte citação: 

"Deste ponto de vista, a região Norte é particularmente interessante, já que os resultados globalmente elevados apenas são compreensíveis se considerarmos que existem vários Nortes particularmente expostos e suscetíveis: a área metropolitana, com as suas franjas suburbanas mais pobres; as áreas de industrialização difusa, sobretudo do Vale do Ave; as cidades médias (Viana do Castelo, Braga, Guimarães, Vila Real, Bragança); os concelhos junto à Galiza, o troço da fronteira luso-espanhola com uma dinâmica transfronteiriça mais intensa; e Trás-os-Montes, com uma forte relação com comunidades emigrantes de vários países europeus (desde o regresso de portugueses despedidos recentemente ao vaivém de trabalhadores da construção civil). Dizer que a região Norte tem valores mais elevados porque “por acaso” alguém veio infetado de uma feira no Piemonte, a região italiana com maior incidência da covid-19, é não entender que estes vários Nortes conciliam, ainda que em graus diferenciados, uma forte exposição externa e uma suscetibilidade local elevada, ou seja, um significativo potencial de vulnerabilidade em relação a esta ou a qualquer outra doença infecciosa" 

5 comentários:

  1. Chamam-lhes "heróis" mas a palavra mais indicada é "vítimas"...

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  2. A sociedade do futuro, livre do trabalho, mas presa à hierarquia atual e à escasses de recursos, será a sociedade do extreminismo.
    As elites isolar-se-iam em condominios fechados, em ilhas privadas, em paraísos guardados por segurancas armados.
    As classes trabalhadoras, sem ocupação seriam isoladas em guetos, prisões e o mundo seria invadido pela paranoia terrorista e quarentenas biológicas.
    O GULAG global.
    Peter Frase (editor da Jacobin) "4 futures"
    Já em curso.

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  3. É muito acertado o argumento aqui desenvolvido! No caso da empresa onde trabalho, foi detectado que o foco de contaminação foi nos balneários. Os casos positivos de Covid-19 têm em comum o uso dos duches na empresa.

    Já há muito que deviam ter sido dadas orientações para as empresas que continuam a laborar.

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  4. A análise inicial parece-me apressada e , sem termos os dados do tipo de contágio e por concelho, devo dizer que é muito ligeira. O artigo do João Ferrão provavelmente estará mais próximo do sistema complexo que temos no Norte mas, mesmo assim, sem dados poderemos estar a refletir incorrectamente. Eu conheço bem o país em termos industriais por ter sido eng.industrial em termos profissionais(hoje só em termos académicos) e ter trabalhado em vários locais distintos com forte base industrial (de Norte ao Alentejo excepto Algarve) e contactado com várias empresas industriais e de vários tipologias(há alguns atrás é certo mas, se mudou algo, foi para pior em termos de intensidade industrial). Foi por isso que em meados de Fevereiro em conversa com colegas, disse logo que os primeiros casos seriam no Norte do país importados de Espanha ou Itália pelas ligações industriais e comerciais e não me enganei infelizment. Depois, existem concelhos no Pais fora da RN e industrializados com poucos casos e outros, mesmo na RN, com pouca indústria e muitos casos. Há empresas mesmo em LVT que se mantiveram a laborar (não confundir Lisboa com LVT) cujos concelhos estão com relativamente menor n+umero de casos. E no concelho onde vivo aqui na LVT sul, a construção civil e outros setores não pararam, não foi só na RN. Há empresas no Ribatejo que eu diria bem propensas ao contágio dentro da fábrica e superior à industria textil (transf alimentar p.e) e praticamente com poucos casos.Assim que tiver mais tempo vou tentar ter uma análise mais robusta a nível nacional por concelho mas parece-me que a correlação é "fraca" à primeira vista(pode ser small sample size e posso estar enganado mas talvez não). Para mim a conectividade regional, proximidade familiar e densidade populacional serão os fatores mais importantes. Mas, repito, sem dados e metadados a sério da DGS vamos sempre ter dificuldades em ter uma reflexão e análise bem feita.
    Há uma coisa referida neste post que eu concordo totalmente. As nossas industrias não estão a ter cuidados com a HST(já soube de alguns casos) e este apressado movimento de reabertura sem ter mais cuidados para além das máscaras e higiene, vai ser mau para os trabalhadores e suas famílias. Há industrias em organização jobshop que poderão vir a ter muitos problemas. Antevejo o pior

    José Lopes Investigador LAQV/UNIDEMI

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  5. Já em curso,diz o paulorodriguespimentelferreira

    Já em curso? Há muito em curso

    Para a próxima vez, pode o pobre usar umas citações do livro vermelho para ver se passa esta vacuidade duma fraseologia metida a martelo à procura de um álibi.

    Estes métodos de neoliberais sem escrúpulos são mesmo tramados.

    Virá agora o pivô ?

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