1. O alastrar da Covid-19 na União Europeia (UE28) não ocorreu ao mesmo tempo em todos os Estados-membros, devendo ser assinaladas duas fases distintas de contaminação. A primeira registou-se entre 24 janeiro e 4 fevereiro (12 dias), atingindo a França, a Alemanha, a Finlândia, a Itália, o Reino Unido, a Suécia, a Espanha e a Bélgica. A segunda ocorreu depois de uma sequência de 20 dias (5 a 24 de fevereiro) em que nenhum novo Estado-membro foi afetado, iniciando-se a partir de então a contaminação dos restantes, entre 25 de fevereiro e 9 de março (14 dias).
2. Este desfasamento temporal parece estar a contribuir, entre outros fatores, para um impacto distinto da epidemia nos dois grupos de países, em termos de casos confirmados e de letalidade. De facto, representando cerca de 68% da população da UE28, os Estados-membros da Fase 1 perfazem cerca de 89% dos casos confirmados e cerca de 96% do total de mortes (até 24 de março). Valores que apontam para um rácio de 52 casos confirmados por 100 mil habitantes (15 por 100 mil nos países da Fase 2) e para uma Taxa de Letalidade (percentagem de mortes no total de confirmados) a rondar os 6,4% (valor que desce para 2,0% no grupo de países que integram a segunda fase de contaminação).
3. Claro que, tendo o início do contágio ocorrido há mais tempo nos países que integram a Fase 1, é expectável que estes apresentem, no seu conjunto, indicadores de impacto mais severos a 24 de março. Contudo, se procedermos a uma comparação dos primeiros 21 dias de aceleração do ritmo de contágio nos dois casos (a comparação possível à data recente), contados a partir do momento em que se atinge o patamar dos 100 infetados (que é sensivelmente quando a dinâmica de crescimento exponencial tem início), continuamos a registar diferenças substantivas entre estes dois grupos de países da UE28.
4. Em termos de infetados, se numa fase inicial as curvas dos Estados-membros da Fase 1 e da Fase 2 são coincidentes, a partir de certo momento (13º dia) o conjunto de países afetados na fase inicial regista um crescimento exponencial mais expressivo. Mesmo quando, em termos de rácio de infetados pela população residente, os países da Fase 2 apontam para níveis de contaminação superiores (sugerindo que estes países, por se confrontarem mais tarde com a epidemia, puderam, no seu conjunto, reagir de outro modo e intensificar de forma mais atempada a realização de testes). O que terá contribuído, a par da adoção de medidas de contenção mais cedo, face aos países da Fase 1, para uma Taxa de Letalidade mais reduzida, no caso dos países que integram a Fase 2.
5. Significa isto que, muito provavelmente, o desfasamento temporal entre os dois momentos de contaminação permitiu aos países da Fase 2, no seu conjunto, registar uma curva da Covid-19 um pouco mais achatada, que favorece a capacidade de resposta dos sistemas de saúde e que, desse modo, contribui para uma menor letalidade da epidemia. Ou seja, perante a evidência trágica do potencial de contaminação e letalidade do vírus em países afetados mais cedo (Itália e Espanha), os países da segunda fase tiveram a oportunidade de reagir melhor, tanto ao nível da resposta das autoridades públicas (com a adoção mais atempada de medidas de contenção), como ao nível dos comportamentos individuais e coletivos perante a ameaça, inicialmente desconhecida e incerta nos seus impactos. Como diz o povo, e para terrível infortúnio dos países da Fase 1 mais atingidos, «candeia que vai à frente ilumina duas vezes».
6. É também por tudo isto que são profundamente estúpidas e de facto «repugnantes», como referiu oportunamente António Costa, as declarações do ministro das Finanças holandês Wopke Hoekstra - pelos vistos uma espécie de aprendiz de Bolsonaro europeu - que sugeriu que a Comissão Europeia «devia investigar países, como Espanha, que afirmam não ter margem orçamental para lidar com os efeitos da crise provocada pelo novo coronavírus». Quis o acaso, e só o acaso, que não calhasse ao seu país encontrar-se entre os primeiros a ser contaminados pelo vírus, podendo assim beneficiar, em tempo, da aprendizagem dramática que os primeiros países afetados tiveram que fazer. Aprendizagem pela qual deveria, para além do sentido de solidariedade, estar profundamente grato.
Ora muito bem. Por isso, para percebermos quais os factores que realmente influenciaram a resposta das autoridades de saúde, vale a pena esperar até isto estar atrás de nós e incluir entre eles, muito naturalmente, o azar e, como bem diz, as lições aprendidas pelos outros com a Itália e com os seus médicos...
ResponderEliminarAgora fica a provocação. Aqueles que se apressam a condenar a UE acreditam sinceramente que sem a cooperação transfronteiriça isto seria possível? É que a UE também é isso, não apenas as suas instituições...
E não digam que é possível deitar fora a água do banho e conservar o bebé. Ou melhor digam e depois expliquem como, porque até agora só se ouve a conversa dos Estados Soberanos que trabalham em harmonia. O comportamento natural das nações é a competição, quando não a guerra...
Quanto às declarações de Costa, merecem o aplauso mas precisam de acção consequente conjunta por parte dos Estados mais martirizados. No melhor espírito europeu, note-se...
Será azar ou falta de ar, Jaime Santos?
ResponderEliminarÉ que cá como em Itália, como em Espanha, como na Grécia e como em França os cortes orçamentais aos sistemas de saúde foram violentos.
Sempre pensei que conservar o bébé fosse o normal. A água do banho, tal como o seu europeísmo bacoco são um resíduo.
Temos de recorrer à bioestatistica e á epidemiologia e à representação gráfica utilizada por essas ciências para compreendermos este fenomeno trágico.
ResponderEliminarA acdeditar nos graficos é surpreendente a sua evolução na Europa que no principio
há uma recta assintótica paralela ao eixo cronologico e de repente sobe de forma multipla ou mesmo em exponencial
Mais uma vez a acreditar nos graficos , a China onde se iniciou o foco tem um grafico diferente parecendo já ter entrado na fase decrescente ou seja de derivada nula.
Que ilações hà a tirar deste fenómeno?
As interrogaçõs a fazer são muitas.as varíáveis e as hipotese são muitas.
Corrigindo o meu comentário em relação à China o grafico será de derivada negativa enão nula-
ResponderEliminarPresident von der Leyen washing her hands to fight against COVID19:
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=sLa_QiWulPE