quarta-feira, 25 de março de 2020

Nas traseiras da caserna

Quando se exorta um povo a partir para a guerra, é de desconfiar. Em geral, precisam da carne de todos para uma guerra já decidida à sua revelia.

A guerra é a coisa mais horrível que existe. E no caminho, transfere-se o poder para uma unidade de comando. Evocar que a "democacia não foi suspensa" é já meio caminho para o fazer. Por alguma razão, nenhum país até agora o fez nestes moldes, e tudo foi a despropósito.

A guerra que Marcelo Rebelo de Sousa convocou não é uma guerra. Se fosse, Marcelo Rebelo de Sousa nunca deveria ser considerado aliado porque sempre esteve contra um reforço do Serviço Nacional  de Saúde. Mas não deixa de ser uma tentativa de transferência do poder, para quem define quinzenalmente o Estado de Emergência - Marcelo Rebelo de Sousa.

Mais grave - e mais patético - é quando a transferência de poder se faz por razões diferentes das evocadas. A declaração do Presidente refere cinco razões, mas a essencial evoca. a necessidade de  "medidas mais drásticas" que as adoptadas pelo Governo.
Primeira – Antecipação e reforço da solidariedade entre poderes públicos e deles com o Povo. Outros países, que começaram, mais cedo do que nós, a sofrer a pandemia, ensaiaram os passos graduais e só agora chegaram a decisões mais drásticas, que exigem maior adesão dos povos e maior solidariedade dos órgãos do poder. Nós, que começamos mais tarde, devemos aprender com os outros e poupar etapas, mesmo se parecendo que pecamos por excesso e não por defeito.
Mas nem Marcelo Rebelo de Sousa as definiu, nem a sua prática desde o início da crise mostram esse interesse por "decisões mais drásticas". Pelo contrário. As razões de Marcelo Rebelo de Sousa são fracas, mal definidas e inconsistentes face à prática quotidiana do Presidente da República.

Marcelo Rebelo de Sousa só se mostrou publicamente interessado pela epidemia quando já morriam milhares em todo o mundo, mesmo às nossas portas. E mesmo assim teve dias. Esteve calado durante a quarentena - obrigatória pela sua prática leviana - e, durante esse período, foi insultado pela extrema-direita de ser medroso. Quando pôde, Marcelo Rebelo de Sousa vestiu a farda, calçou as botas e, carregando a bazuka, assinou o decreto de Estado de Emergência, acolhendo atrás de si todos aqueles que gostariam de reverter maioria de esquerda no Parlamento.

A longa cronologia que segue não é exaustiva e, ainda assim, é demasiado longa. Ninguém a lerá. Foi feita apenas a partir das notícias do jornal Público e na página oficial da Presidência. Vai de Fevereiro até 8/3 (quando o PR esteve em  quarentena).

Rebobine-se o filme e veja-se como o PR tratou displicente e ligeiramente o assunto que hoje é dramático. Faça-se contas aos dias de incumbação do vírus e julgue-se os comportamentos perigosos de Marcelo Rebelo de Sousa. Pior: a forma como Marcelo Rebelo de Sousa preencheu os seus dias contrasta escandalosamente com a linguagem bélica agora usada.

Se isto é uma guerra, Marcelo Rebelo de Sousa esteve - até ao últimos dos dias - nas traseiras da caserna a jogar cartas e a beber cerveja. E agora quer ser general.


 30/1/2020 

Já morreram 213 pessoas na China dos 9692 infectados. A Organização Mundial de Saúde (OMS) declara emergência de saúde pública internacional, quando, além da China e dos territórios chineses de Macau e Hong Kong, já havia 50 casos confirmados em 19 outros países —Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Austrália, Finlândia, Emirados Árabes Unidos, Camboja, Filipinas e Índia. Nesse dia, em Portugal, o país estava entretido com a vontade do deputado Ventura de exportar Joacine Moreira.
O que fez Marcelo?  

Marcelo RS foi questionado em Lamego - por ocasião do 170.º aniversário da Fábrica Viúva Lamego - chutou para canto. Falou do radicalismo e de “descrispar”. “O radicalismo fomenta o radicalismo, a agressividade fomenta a agressividade”, declarou o Presidente da República. “O Presidente da República tem de ser uma voz de bom senso, de pacificação, de desdramatização” e não deve “alimentar polémicas, alimentar radicalismos, alimentar agressividades - não é esse o seu papel”. Mal sabia ele o que viria a dizer quando promoveu o Estado de Emergência pela primeira vez desde 1976. E presidiu, no antigo Picadeiro Real do Museu Nacional dos Coches em Lisboa, à sessão de encerramento do Ano Nacional da Colaboração, no âmbito da V Conferência Internacional sobre Governação Integrada. Sabe o que é? Pois.

31/1/2020

Primeiro caso de infecção em Espanha. Um cidadão alemão que estava na ilha de Gomera (Canárias) era uma das cinco pessoas em observação, depois de terem estado em contacto, na Alemanha, com um doente infectado. Dezanove cidadãos espanhóis chegam de Wuhan, para ficar de quarentena durante 14 dias no Hospital Central de la Defensa Gómez Ulla. Nesse caso, houve ideia de colocar em quarentena quem chegasse do estrangeiro. Detectados dois primeiros casos no Reino Unido e os primeiros dois na Rússia, um casal de nacionalidade chinesa. O Governo italiano declara nesse dia o estado de emergência, quando identificou os dois primeiros casos em dois turistas chineses de visita a Roma.

O que fez Marcelo? 

Aperto de mão...
Marcelo RS não pensou em nada disso. Nesse dia, já ninguém se lembra, Marcelo presidiu ao Conselho de Estado, dedicado às “perspetivas estratégicas da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa” e assinou com o presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, uma carta de intenções, para viabilizar ações de cooperação entre os serviços de apoio das Casas Civis dos Presidentes dos dois países. Coisas urgentes. Parecia que o PR não tinha que fazer.

1/2/2020

A OMS – face ao vírus já em 25 países - aconselha aplicar medidas para “limitar o risco de exportação ou importação da doença”. Mas a própria OMS contemporizava: isso deve ser feito “sem restrições desnecessárias ao tráfego internacional”. Um caso suspeito entra no Hospital de São João no Porto. Era um técnico italiano que tinha estado na China e que se sentira mal, quando estava numa fábrica de calçado em Felgueiras. Tudo parecia estar a acontecer. Mas fora um falso alarme. O Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar critica o atraso na divulgação das normas e a falta de material descartável e de desinfecção. A ministra da Saúde reúne-se com o INEM para avaliar a necessidade de reformular a informação e ver o material disponível. Parece haver tempo para tudo. O secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, adianta que a maioria dos meios já tem equipamento disponível, como batas e máscaras. Tudo sob controlo.

O que fez Marcelo? 

Nesse dia, sem agenda, Marcelo RS estava preocupado. Com quê? Com as datas das eleições legislativas. "Os partidos terão de pensar na hipótese de a legislatura terminar antes do Verão, de tal maneira que as eleições não sejam em Outubro, mas sejam antes, Maio ou Junho, porque isso dá para ter um Orçamento aprovado a tempo de entrar em vigor no dia 1 de Janeiro do ano seguinte”. Era um assunto essencial no momento.

2/2/2020

Vindos de Wuhan, vinte franceses foram repatriados e já apresentam sintomas de um possível contágio. A França já tinha seis casos confirmados de infecção.

O que fez Marcelo? 

Nesse dia, era domingo e Marcelo não tinha agenda. Tal como o Senhor, descansou.

3/2/2020 

A China regista 20.440 casos e 425 mortos. Ou seja, mais 3235 casos e mais 64 mortos do na véspera.
O que fez Marcelo?  

Distâncias, sr Presidente
Nesse dia estava um belíssimo tempo e Marcelo RS, enchendo-se do seu papel de Comandante Supremo das Forças Armadas visitou, em Oeiras, o Comando Conjunto para as Operações Militares (CCOM) do Estado-Maior-General das Forças Armadas Portuguesas. E por ocasião dos 85 anos da pintora, inaugurou, no Museu da Presidência da República, a exposição “Da Encomenda à Criação. Paula Rego no Palácio de Belém”. Nada como um bom dia artístico.

4/2/2020 

A China admite lacunas na resposta ao novo vírus. Os casinos de Macau são fechados por duas semanas. A Bélgica regista o primeiro caso de infecção: uma mulher que não apresenta sintomas. A OMS diz que o coronavírus ainda não é uma pandemia. A taxa de mortalidade é de 2,1%. Portugal regista dois novos casos suspeitos que são encaminhados para o Hospital Curry Cabral. Um deles é um homem de 40 anos, também residente na Grande Lisboa, que contactara cidadãos alemães que adoeceram e que fazem parte de uma empresa que fez formação com um cidadão chinês que, soube-se depois, estava infectado. A explicação é da directora-geral Graça Freitas, em conferência de imprensa. As cadeias internacionais de transmissão estão, pois, activas. Tudo vinha do exterior. Mas ninguém fala de quarentenas de quem chegava a Portugal.

O que fez Marcelo? 

Olhe os perdigotos
Marcelo RS não quis saber desse problema. Às 11h, no primeiro dia do programa “Artistas no Palácio de Belém”, com Fernanda Fragateiro, Marcelo assistiu, participou na conversa que a artista plástica, manteve conversas e beijou alunos de duas escolas do ensino secundário e beijou a artista. E na mesma varanda do Palácio de Belém juntou ainda jornalistas a quem se congratulou que Portugal não tivesse “até agora” casos de infecção. Estava confiante na capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Mas ninguém estava preservado. Lembrou-se dos seus netos que tinham chegado a Portugal vindos da China e que “só no fim desta semana é que verdadeiramente passam quinze dias sobre a permanência deles cá”. Quando questionado sobre se as autoridades portuguesas fazem tudo o que é possível, Marcelo responde: “Há uma conjugação de factores objectivos e subjectivos. Até agora, temos estado preservados de notícias menos boas nessa matéria, mas ninguém está preservado sempre, com a circulação que há no mundo, com a mobilidade que há no mundo.” Raio de resposta... Não se lembrou de falar sobre a vantagem de controlar as entradas no país. Disse que o vírus “afecta a actividade económica de uma economia muito poderosa e, portanto, afecta a actividade económica do mundo, ou pode afectar”. “Ou pode afectar”? Parecia que seria apenas um mal chinês... Voltaram a insistir se tudo estava bem em Portugal: “No fundo, estamos todos a aprender. Está Portugal a aprender, estão todos os países a aprender”. “Até agora, o que se tem passado em Portugal tem sido bom para todos nós, e vamos esperar que assim continue”. Ou seja: conversa de quem chuta para canto. Eram dias calmos, esses na varanda de Belém. Para quê pensar?

5/2/2020 

A China tem já 28 mil infectados e 563 mortos. Mas a OMS ainda não tem um nome para o vírus. Baptizam-no temporariamente de 2019-nCoV – não é um nome fácil - mas promete-se uma nova designação para breve. A OMS quer 600 milhões de euros para combater o vírus. Uma ninharia. “A minha maior preocupação é nos países que hoje não têm sistemas a funcionar para detectar pessoas contagiadas pelo vírus”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da OMS. “É necessário apoio urgente para reforçar sistemas de saúde que detectem, diagnostiquem e protejam mais transmissão entre humanos e profissionais de saúde.” Em Frankfurt, a presidente do BCE, Christine Lagarde, adianta que o coronavírus introduz “uma nova dose de incerteza” para o crescimento económico. Uma chatice precisamente quando já tinha diminuído a intensidade da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Tudo tão suave. Mesmo assim, esta declaração marca uma mudança no tom optimista que o BCE utilizou em Janeiro sobre as perspectivas económicas da zona euro. Em Portugal, e por indicação da DGS, a Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) distribui folhetos nos voos da China para Portugal, com informação sobre o que fazer e para onde ligar, caso se pense ter sintomas. A directora-geral da Saúde voltou a frisar que não existem recomendações internacionais para fazer rastreios à chegada e que a medida não é eficaz. Mas, caso existam alterações nas recomendações, estarão preparados para as cumprir. [Lisboa passou a fazê-los a partir de 20/3]. As autoridades de Portugal parecem, pois, não pensar pela sua cabeça. O Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) e 20 laboratórios constituem uma rede nacional. “Estamo-nos a preparar para a eventualidade de haver uma escalada”. Vinte casos suspeitos em Portugal revelam-se sem sintomas. Entretanto, a ministra da Agricultura, impregnada do ambiente da feira europeia para o sector horto-frutícola, acha que o coronavírus “até pode ter consequências bastante positivas [para as exportações portuguesas na China]. (...) A Ásia e a China têm um problema de saúde pública, a peste suína africana, e isso veio demonstrar o potencial para promover as exportações. Neste momento, temos nove empresas autorizadas a exportar carne de porco para a China.”
O que fez Marcelo? 

Nesse dia, Marcelo presidiu ao Conselho Superior de Defesa Nacional. E promulgou o diploma que aplica ao pessoal dos corpos especiais do Sistema de Informações da República Portuguesa o regime de aposentação aplicável às Forças e Serviços de Segurança previstas na Lei de Segurança Interna.



6/2/2020

Morre o médico que alertou para o novo vírus. Li Wenliang, 34 anos, chegou a ser investigado pela polícia chinesa por “espalhar rumores”. Contraiu a doença ao estar em contacto com doentes infectados. No Porto de Hong Kong, cerca de 3600 pessoas foram mantidas a bordo de um paquete, depois de três passageiros estarem infectados. Em Portugal, arranjou-se duas ambulâncias dedicadas a casos suspeitos – uma em Coimbra e outra em Faro – para se juntar às outras duas, em Lisboa e Porto. Face às críticas sindicais sobre a falta de equipamento de protecção individual, o presidente do INEM disse que “está a ser preparado e, se for preciso, no momento certo, o INEM irá disponibilizar o reforço desse equipamento a esses parceiros”, porque “não há qualquer indicação para massicar esse tipo de equipamentos”. Um artigo assinado na revista científica da Ordem dos Médicos, alerta para a possibilidade de Portugal poder não estar preparado para conter o coronavírus. O cônsul geral de Portugal em Macau e Hong Kong anunciou que as sete pessoas com passaporte português retidas num cruzeiro em Hong Kong, estão bem de saúde.

O que fez Marcelo? 

Belém está ainda longe. Para Marcelo RS, não só nada era urgente como decidiu aceitar o convite do seu homólogo indiano para visitar a Índia entre os dias 13 e 16 de fevereiro. E nessa viagem não iria sozinho: convidou ainda o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, os Secretários de Estado da Internacionalização e da Defesa Nacional e mesmo deputados. E todos aceitaram.

 7/2/2020 

Já há 637 mortos no mundo e mais de 31 mil infectados. A OMS reforça - com pessoal e equipamento - o apoio a países com maiores contactos com a China. Para a OMS, Angola é um dos países africanos prioritários. Há cidadãos chineses em quarentena em Angola e Moçambique. A diretora-geral portuguesa da Saúde elogia as autoridades chinesas: “Têm sido exemplares no controlo do surto”. “Temos de estar gratos pelas medidas de contenção adoptadas pela China”. Por outras palavras, o país que adoptou medidas drásticas de contenção é elogiado pelo país que não o sabe ou não o quer fazer. E que foi adoptando as medidas à medida do que, tanto a OMS como a EU, foi definindo.
O que fez Marcelo? 

Cadeias de transmissão
Marcelo aproveitou a tarde para inaugurar o novo edifício da Escola Superior de Biotecnologia no Campus Foz do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa e presidiu à sessão solene comemorativa do Dia Nacional da Universidade Católica Portuguesa 2020 “A Universidade como protagonista do futuro”. E porque era urgente, promulgou o diploma fixando para 2020 os efetivos das Forças Armadas, em todas as situações.

8/2/2020 

Cinco britânicos são infectados numa estância de esqui francesa. O caso original foi um britânico que esteve em Singapura. França regista agora 11 casos confirmados do novo coronavírus. O vírus está na Europa. Um norte-americano é o primeiro estrangeiro a morrer na China. Nesse dia, registaram-se 86 mortes e 3399 novos casos. China elevou o balanço do surto para 722 mortos e mais de 34 mil infectados. A OMS envia missão à China nos dias 10 e 11.

O que fez Marcelo? 

 Marcelo está tranquilo. É sexta-feira e não dá conta de ter feita alguma coisa oficial no fim-de-semana. Mas a doença progride mesmo que Marcelo nada faça.

 9/2/2020

O vírus já está em mais de 20 países. E em muitos países da Europa. Alemanha, Finlândia, Suécia, Bélgica, França, Reino Unido e Itália. Espanha confirma um segundo caso de infecção. A imprensa começa a fazer comparações. Com 813 mortos registados, quase todos na China, a nova epidemia já provoca mais mortes do que toda a SARS (síndrome respiratória aguda grave), que, entre Novembro de 2002 e Julho de 2003, matou 774 pessoas em todo o mundo, embora a sua taxa de mortalidade (9,6%) seja ainda superior à do coronavírus (cerca de 2%). Surgem informações sobre o desaparecimento na China do advogado Chen Qiushi que tem divulgado informação sobre a actuação das autoridades chinesas em Wuhan. Estimativas britânicas prevêem que uma em cada 20 pessoas na província de Wuhan fique infectada. O mundo ocidental vive despreocupado.

O que fez Marcelo? 

Marcelo também vive despreocupado. Nesse dia, nada fez de oficial.

10/2/2020

Mais de 900 mortes e 40.500 infectados. No Reino Unido, o número de infectados em solo britânico sobe para oito e o vírus é tido como “ameaça grave contra a saúde pública”. Cientistas da Alemanha - da Universidade Humboldt de Berlim e do Instituto Robert Koc - usaram um modelo computacional para estudar o risco de importação de casos do novo coronavírus para cada país. Analisaram a rede de transportes aéreos de 4000 aeroportos e mais de 50.000 rotas aéreas, incluindo o encerramento de aeroportos devido à epidemia. Concluiu-se que a Tailândia (além da China) é o país que mais provavelmente será visado. Segue-se o Japão, a Coreia do Sul, Hong Kong, Taiwan, Estados Unidos, Vietname, Malásia, Singapura e o Camboja. O primeiro país europeu desta lista é a Alemanha, que está na 18.ª posição. No caso de Portugal, dizem eles, o risco é “muito baixo”. “Está na 61.ª posição com um relativo risco de importação de 0,01%, que é cerca de 20 vezes menor do que o risco da Alemanha.” [a 24/3, era 15º país no mundo com mais infectados]. Em Portugal, a Direcção-Geral da Saúde anuncia mais dois casos suspeitos – eram seis até então.

O que fez Marcelo? 
Nada.

11/2/2020

É oficial. No primeiro dia de uma reunião que junta peritos de todo o mundo em Genebra, na Suíça, a OMS altera a designação oficial do coronavírus e batiza-o de Covid-19. Uma vacina, só para daqui a ano e meio. Uma equipa coordenada pelo epidemiologista chinês Zhong Nanshan, que identificou o coronavírus responsável pelo surto de SARS, também com origem na China, considera o período de incubação entre 3,5 e 24 dias. Vinte cidadãos portugueses, vindos de Wuhan a 2/2 e que voluntariamente ficaram de quarentena de 14 dias, terão alta a 15/2 porque não apresentaram qualquer sintoma. Portugal continuava protegido.

O que fez Marcelo?  

Marcelo recebeu mais uma leva do programa “Artistas no Palácio de Belém”, com o artista Jorge Martins. Depois, recebeu, em audiência no Palácio de Belém, o novo diretor nacional da PSP, superintendente-chefe Manuel Augusto Magina da Silva; o presidente do Rotary International, Mark Maloney, e senhora Gay Maloney, que vieram a Belém com os governadores dos distritos 1960 e 1970 do Rotary Portugal, Mara Duarte e José Luís Carvalhido da Ponte e pelos três governadores dos distritos do Rotary Espanha. Uma audiência importante. Depois, recebeu em audiência no Palácio de Belém, uma delegação da Plataforma de Cidadania “Nossa Europa”, liderada por o ex-deputado Carlos Coelho. E ainda promulgou o diploma que define o regime jurídico para a atribuição do título de especialista nas carreiras farmacêuticas e especial farmacêutica. Um dia atarefado.


12/2/2020

São já 44 mil infectados e 1100 mortos. Os números da província chinesa de Hubei já descem. No paquete Diamond Princess, aportado no Japão, duplicam os casos de infecção. Já são 39 e os tripulantes pedem protecção. O cozinheiro acha que o contágio é inevitável. [A 21/3, seriam já 712!]. Outro navio, com 2 mil passageiros, consegue finalmente aportar no Cambodja, depois de ter sido recusado em cinco países (Japão, Taiwan, Filipinas, Guam, Tailândia). Ocupação dos hotéis em Macau cai 16% onde o Governo ordenou o fecho de espaços de diversão nocturna, espaços públicos, cinemas e teatros.

O que fez Marcelo? 

 De oficial, nada. Mas a imprensa coloca-o no centro da decisão sobre a eutanásia que perpassa pelo debate político em Portugal.

13/2/2020

Mais 15 mil infectados e 245 mortos. Bruxelas afirma estar a avaliar o impacto do surto na saúde pública e na actividade económica, para poder agir em conformidade. Mas muito lentamente. As autoridades europeias não excluem a possibilidade de recomendar a adopção de medidas adicionais àquelas que os Estados membros já puseram em marcha para responder à crise, mas para já afastam a hipótese de avançar para expedientes mais “gravosos” como quarentenas superiores a 14 dias ou o controlo de cidadãos nas fronteiras. É convocada de emergência pela presidência do Conselho uma reunião dos 27 ministros de Saúde da UE para acertar a coordenação europeia. Mas da reunião, sai uma mensagem de calma e ponderação, destinada a contrariar o alarmismo que voltou depois de a China rever em alta o número de novos casos de infecção. “O risco aqui é muito baixo”, desdramatizou o comissário europeu para a Gestão de Crises, Janez Lenarcic. “Mas o risco existe, e por isso estamos a preparar-nos para todos os cenários”, garantiu. O comissário referiu que a Comissão Europeia vai incentivar a adopção de “medidas proporcionais” na UE. Não se pondera o controlo das fronteiras, afirmou à saída a ministra da Saúde, Marta Temido, reflectindo o pensamento em Bruxelas. “O controlo de cidadãos nas fronteiras neste momento não está em cima da mesa, poderá noutra fase ser equacionada, mas neste momento não”, disse. “Todos os países que estiveram na reunião” reforçaram “a preocupação em adoptar medidas proporcionais e de acordo com aquilo que é a evidência científica e as recomendações da OMS e do European Centre for Disease Prevention and Control”. Em Portugal, distribui-se folhetos a bordo dos três voos semanais que continuam a vir da China. Equaciona-se a possibilidade de identificar os contactos dos passageiros vindos de áreas afectadas pelo surto, medida que poderá ser adoptada “nas próximas horas ou nos próximos dias”.

O que fez Marcelo?

Esse foi um dia intenso. Primeiro, sobre a eutanásia. Recebeu pedidos de audiência de líderes religiosos de várias confissões e do bastonário da Ordem dos Médicos. As audiências ficaram marcadas para depois da visita de três dias à Índia, que passará pelas cidades de Nova Deli, Mumbai e Goa. Nada mais urgente. Marcelo aterrou às 19h55 em Nova Deli.

14/2/2020

Mais 121 pessoas mortas na China. Zeng Yixin, vice-director da Comissão Nacional de Saúde informa que "até ao dia 11 de Fevereiro, havia 1716 casos confirmados de coronavírus entre pessoal médico". É a primeira vez que uma fonte oficial chinesa presta esse tipo de informação. A OMS pede informação. O vírus chega a África. Há 100 pessoas – angolanos, chineses, brasileiros, costa-marfinenes - em quarentena em Angola. O governo egípcio confirma o primeiro caso. Em Portugal, autarquias alertam, para a falta de sabão nas escolas, para a lavagem das mãos. Ainda não existem directrizes para as escolas quanto à prevenção de infecções. Resposta da DGS: Não se perspectiva que tal venha a acontecer, pelo menos para já. “Quando foi da gripe das aves, no princípio do século, colocámos em todas escolas dispositivos com desinfectante, mas o grau de alarme agora é bem menor”, afirma o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima. O director do jornal Público defende que as “medidas restritivas” pedidas pelo instinto da “pessoa média” face ao que se passa na China são uma ratoeira. “Estaríamos a cair na ratoeira do medo que, como sabemos, implica sempre o avanço do ódio ou do racismo ou ataques às liberdades públicas. Ao recusarem esta quinta-feira aplicar medidas de controlo de fronteiras ou soluções de vigilância extremas, quer a Comissão Europeia, quer o Ministério da Saúde de Portugal tiveram em mente esse balanço entre o que se perde e o que se ganha com medidas extremas de contenção à imagem e semelhança das que foram aplicadas na China. E, com toda a razão, concluíram que qualquer medida excepcional tomada no actual contexto estaria ferida de desproporcionalidade. Susana Peralta, economista, escreve nesse jornal contra as “odes à eficácia do regime chinês”. “Os autocratas não respondem perante o eleitorado e por isso são péssimos gestores de catástrofes”. Cita diversos artigos académicos para mostrar que “as catástrofes naturais como terramotos, ondas de calor, inundações ou aluimentos de terras causam menos vítimas em democracias. As democracias não evitam as catástrofes, mas limitam o seu potencial mortífero.” Fora o regime chinês que desempenhara “um papel fundamental” na propagação do vírus. “O sinal de alarme foi considerado um perigo para a ordem pública”. “Não nos vamos deixar enganar por mais esta manobra de propaganda. O maior culpado por esta catástrofe é Xi Jinping”.

Sobre a polémica se é verdadeira ou não a queixa de que a China abafou ou não o caso, é importante ler isto

O que fez Marcelo? 

Más práticas
Prosseguiu a visita de três à Índia. Cerimónia oficial de boas-vindas no Palácio Presidencial Rashtrapati Bhavan. Cerimónia oficial de homenagem no memorial de Mahatma Gandhi Rajghat. Encontro de trabalho, seguido de almoço oficial, com o primeiro-ministro, Narendra Modi, na Hyderabad House. Até hoiuve a inauguração no Museu Nacional de uma instalação de Joana Vasconcelos - Cha-Chai (O Bule). Audiência ao vice-presidente da República da Índia e presidente do senado indiano, Venkaiah Naidu, no Hotel The Imperial. Encontro com o presidente da República da Índia, Ram Nath Kovind, no palácio presidencial. Banquete de Estado em honra do presidente da República, oferecido pelo seu homólogo da Índiano Rashtrapati Bhavan. E parte, não para Lisboa, mas ainda para Mumbai. Uma canseira esta vida.

15/2/2020 

O número de mortos sobe para 1665 e estão infectadas 69 mil pessoas em todo o mundo. Dá-se a primeira morte na Europa. Um turista chinês morre em França.

O que fez Marcelo? 

Demasiado próximo
Foi a Munbai. Tomou o pequeno-almoço com empresários indianos no Hotel The Oberoi. Homenageou as vítimas do atentado terrorista de 26/11/2008 no Hotel onde ocorrera o atentado. Saiu do Taj Mahal Palace e percorreu alguns metros até ao Gateway of India. Como qualquer turista. E foi aí que falou com os jornalistas, a quem se manifestou “muito impressionado com a personalidade” do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e com o seu empenho no reforço das relações luso-indianas. Qual filho de governador que visitas a províncias ultramarinas, sobranceiro, disse: “Superou a expectativa porque o vejo ainda mais empenhado do que eu, muito empenhado que eu já entendia que ele estava antes de o conhecer pessoalmente”. Aí, Marcelo RS deixou-se posar e disse sob aquela porta em frente ao Índico: “Era então a fronteira entre Ocidente e Oriente”. Cruzou-se com Maria João Pires. “Esta mulher está em toda a parte, é como Deus”, o que faz suspeitar que, afinal, não tenha sido por coincidência. E foi para Goa. Nem uma palavra sobre os mortos. Mas apeteceu-lhe falar do tempo. “Não podemos ter uma visão nostálgica de nada em lugar nenhum. É assim que sinto a minha chegada a Goa, não nostálgica. Porque o passado é o passado, e o tempo não volta para trás. Mas o passado pode tornar-se futuro, se aproveitar o passado e o presente”. Nem mais, muito bem dito. O Oriente apela a estes raciocínios.

16/2/2020

O FMI ainda está optimista ou cego. Se a China conseguir conter a epidemia, “poderá haver uma pequena queda e uma recuperação muito rápida” da economia, diz a directora-geral do FMI, Kristalina Georgieva. A previsão de 3,3% para o crescimento da economia mundial iria descer... 0,1 ou 0,2 pontos percentuais, devido à propagação do coronavírus. Num discurso divulgado este sábado, Xi Jinping revela ter dado instruções a 7/1/2020, duas semanas antes de se dirigir à população.

O que fez Marcelo? 

Continuou em viagem. Participou numa missa celebrada em português na Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição em Pangim, Goa, visitou a igreja de Santa Mónica, o túmulo de S. Francisco Xavier e o Museu de Arte Sacra e ofereceu uma receção à Comunidade Portuguesa. E voltou à pátria – como dizia a minha avó – de papinho cheio.

17/2/2020

Em Hong Kong e Singapura, vagas de consumidores enchem carrinhos de supermercado. Rumores de ruptura de stocks esvaziam as prateleiras das lojas. Os apelos à calma são ineficazes junto da população desconfiada. Pessoas lutam para roubar papel higiénico. Portugal continua sem casos confirmados, apesar dos dez casos suspeitos. O economista Ricardo Cabral espera que a China consiga conter o vírus nas suas fronteiras. Se assim for, é possível, “por paradoxal que pareça, que o vírus tenha um efeito positivo na actividade económica no resto do mundo”. Mas a revista Economist considera que quarentenas como as vividas em algumas regiões da China eram “impensáveis” fora deste país.

O que fez Marcelo? 

De Belém, faz uma declaração aos jornalistas sobre racismo, xenofobia e discriminação. E no âmbito do debate sobre a eutanásia, recebeu às 20h, em audiência no Palácio de Belém, representantes do Grupo de Trabalho Inter-Religioso | Religiões-Saúde, signatários da Declaração conjunta “Cuidar até ao fim com compaixão”. E, às 21h, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, que apareceu acompanhado dos antigos bastonários Gentil Martins, Carlos Ribeiro, Germano de Sousa, José Manuel Silva e Pedro Nunes.

18/2/2020 

O governo russo proíbe a entrada de chineses no território para impedir a propagação. A justificação dada foi “a deterioração da situação epidemiológica na China e da continuada presença de cidadãos chineses em território russo”. Os russos são o primeiro país a fazê-lo, quando já se registam infectados em pelo menos 25 países. O director de hospital em Wuhan morre infectado. Os 11 milhões de habitantes de Wuhan vão ser testados de forma obrigatória, para despistar a doença e colocar sob quarentena todos os que a tiverem. De acordo com a OMS, apenas uma pessoa em cinco infectadas tem sintomas graves da doença.

O que fez Marcelo? 

Antes de começar a sua pesada agenda, preocupou-se com um assunto internacional. Não, não foi a propagação do vírus. Foi a Venezuela! Marcelo RS reage mal à suspensão dos voos de Lisboa para Caracas. “Inaceitável, incompreensível e inadmissível”. E mostra-se solidário com o Governo. A seguir, concentrou-se em mais um programa artístico. Às 11h fez uma intervenção após a qual, a artista Graça Morais fez a sua. Às 12h, o mesmo com Emília Nadal. Às 15h, voltou a estar preocupado com a eutanásia e recebeu a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP). Depois, às 17h recebeu, em audiência no Palácio de Belém, uma delegação da nova direção política do Partido Social Democrata (PPD/PSD), liderada por Rui Rio. E às 18h30 promoveu, no Palácio de Belém, um encontro com alunos e atletas das equipas federadas de futsal da Associação Academia do Johnson. Muito que fazer.

19/2/2020

Afinal, ao contrário das expectativas da ministra da Agricultura, a propagação do vírus afecta as exportações nacionais para a China. Os vinhos são os mais afectados. “Está a ter impacto económico nas PME portuguesas, sobretudo nas do sector agro-alimentar ligadas à exportação”, dizem os dirigentes.

O que fez Marcelo? 

Nada, que se saiba.

21/2/2020

A Itália confirma primeira morte. Dez cidades italianas estão em alerta máximo. Há 16 pessoas infectadas na Lombardia, Norte de Itália, e outras 250 pessoas em observação, A maioria são enfermeiros, médicos e outras pessoas que estiveram em contacto com pacientes. Uma experiência a reter. Confirma-se a primeira morte. Um homem de 77 anos referenciado com infecção em Pádua.

O que fez Marcelo? 

  Nada, que se saiba.

22/2/2020

Primeiro português infectado. Natural da Nazaré, 41 anos, trabalha há cinco anos a bordo do navio de cruzeiro Diamond Princess, agora atracado no Japão. Não apresenta sintomas. DGS e Governo ainda não têm confirmação do resultado. Morre mais uma pessoa no Irão, populações desconfiam que as autoridades estejam a minimizar a propagação. Países vizinhos cortam ligações aéreas com o Irão. Morrem duas pessoas em Itália e 59 infectados no Norte de Itália, nas regiões da Lombardia e Veneto e Piemonte.

O que fez Marcelo? 

É sábado, por amor de Deus. Há pouco que fazer. Foi à tarde inaugurar um pólo da Associação Cultural Ephemera, no Barreiro. Lá, recusa-se a comentar a polémica pública sobre... o sorteio de juízes. A Ásia é, pois, um continente distante. À noite, vai, com o presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, à noite da Gala de celebração do cinquentenário da Associação Cabo-verdiana, na Casa do Alentejo em Lisboa.

23/2/2020 

Itália é já o quarto país com mais casos infectados. O seu número já chega aos 132 e com três casos mortais. O governo aprova fortes medidas de contenção para dez localidades. A empresa ferroviária estatal austríaca suspendeu ligações com Itália, depois de detectados casos suspeitos num comboio na fronteira do Tirol. Encerram-se escolas, cancelam-se jogos de futebol e o Carnaval de Veneza. A Coreia do Sul declara alerta máximo: já tem 600 infectados. O surto teve origem numa cerimónia de uma seita religiosa em Daegu, e espalha-se rapidamente. Israel quer pôr 200 turistas sul-coreanos de quarentena. A China já tem 76.936 casos, dos quais 2442 mortais. O segundo país mais afectado é o Japão, com 769 casos (quatro dos quais mortais), incluindo pelo menos 364 no cruzeiro Diamond Princess. Segue-se a Coreia do Sul, com 556 casos, cinco dos quais mortais. Depois, da Itália, a lista prossegue com Singapura (89 casos), Hong Kong (69, dois mortais), Irão (43 casos, 8 mortais), Estados Unidos e Tailândia, ambos com 35 casos, Taiwan (26 casos, uma morte), Austrália (23), Malásia (22), Alemanha e Vietname (16 cada um), França (12, um mortal), Emirados Árabes Unidos (11), Macau (10). Abaixo dos 10 casos registados, surgem o Reino Unido e o Canadá com 9, Filipinas e Índia com 3, Rússia e Espanha com 2 e Líbano, Israel, Bélgica, Nepal, Sri Lanka, Suécia, Camboja, Finlândia e Egipto com um caso cada. O presidente da China avisar que o Covid19 é “a mais grave emergência de sáude desde 1949”. A UE espera mais casos na Europa, mas – sempre à espera - “não vê necessidade de pânico”. O FMI já considera que a propagação do novo vírus põe em risco a recuperação económica. E “está pronto para ajudar”, para “aliviar a dívida de membros mais pobres e vulneráveis”. Em Portugal, Fernando Maltez, director do serviço de doenças infecciosas do Hospital de Curry Cabral, é de opinião que a propagação em Itália se pode dever a “algum doente que, apesar de ter sintomas – ou mesmo não tendo sintomas, porque não estamos seguros que a doença não se transmita em fase assintomática –, não recorreu aos serviços de saúde, não procurou o médico e portanto poderá ter transmitido a outras pessoas e, assim sucessivamente, ter-se desenvolvido uma cadeia de casos secundários”. Antes de isto ter acontecido, já havia cadeias de transmissão secundárias que tinham sido identificadas na Alemanha, França, Reino Unido, Vietname, Japão. “O segredo está em identificar rapidamente todos os casos que são suspeitos, todas as pessoas que têm uma ligação com o país onde teve origem a epidemia, ou com doentes que têm a doença e manifestam sintomas, e isolá-los rapidamente de modo a que não transmitam a outras pessoas. Há sempre uma possibilidade de isso não acontecer porque o doente teve sintomas e não procurou o médico, ou porque o médico considerou que um caso apresentado não tinha critérios de suspeição”.

O que fez Marcelo? 

Era domingo e Marcelo pronunciou-se sobre o mundo? Não, pronunciou-se contra trazer para Portugal o português infectado. “Primeiro, é preciso ter a noção exacta da situação e tem de ser no Japão. Trazê-lo para Portugal podia ser uma temeridade para ele. Não vale a pena correr esse risco”. E sobre o risco para Portugal? Nada disse. O presidente da República visita a aldeia de Podence, em Macedo de Cavaleiros, para participar nas festas do Entrudo Chocalheiro 2020. Era importante brincar no meio da multidão: “Hoje somos todos solidários com Podence”, disse Marcelo. E não com os mortos no mundo por causa do vírus.

 24/2/2020

A Itália tem já 7 mortos e o número de infectados dispara para os 229. A Itália passou a ser o terceiro país do mundo em nível de contágios. O Governo italiano estabelece um cordão sanitário em torno de 11 cidades. A UE recusa o fecho concertado de fronteiras: só com dados científicos. Pico da epidemia na China já passou, afirma a OMS, mas alerta que o mundo tem de se preparar para uma eventual pandemia. Em Portugal, passageiros portugueses vindos de Milão que desembarcam em Lisboa estranham não terem sido submetidos a controlos de temperatura em Itália. Um doente proveniente de Milão deu entrada no Hospital de São João. Hospitais do SNS têm 2 mil camas de isolamento. Portugal reforça medidas de prevenção, com mais hospitais e laboratórios disponíveis para testar e receber casos suspeitos de infecção. Distribuem-se panfletos informativos nos voos vindos de Itália, mas – seguindo a UE - não se fecha a fronteira. A DGS recomenda “algum distanciamento social” a quem chega de Itália. Um manifesto assinado por empresas e associações europeias ligadas ao turismo, comércio e transportes apela que os viajantes chineses devem ser bem-recebidos. A associação de médicos de saúde pública alerta a DGS para que active um plano de contingência mais vasto. “Esta subida muito rápida de casos [em Itália] e a transmissão generalizada deixa-nos muito preocupados”, diz presidente da associação, Ricardo Mexia. “É necessário repensar o raciocínio efectuado até agora”.

O que fez Marcelo? 
Neste dia, nada.

25/2/2020

O responsável pela equipa da OMS enviada à China alerta de que o mundo “simplesmente não está pronto” para enfrentar o novo coronavírus. Bruce Aylward, médico canadiano especialista em emergência, fala numa conferência de imprensa em Genebra. Bruce saudou o trabalho desenvolvido por Pequim para conter a doença. “Devemos estar prontos para gerir isto [uma epidemia] a uma grande escala, e isso deve ser feito rapidamente”, “Não estamos prontos como deveríamos”, tanto do ponto de vista “psicológico” quanto “material”. A Itália continua a registar uma evolução exponencial dos infectados. Espanha tem 7 casos e há já 11 mortos em Itália. A Áustria, Suíça, e Croácia confirmam casos positivos. Nas Canárias, mil turistas estão em isolamento num hotel. Há registo de mortes no Irão, Coreia do Sul, Itália, Japão, Hong Kong, Filipinas, França e Taiwan. Enquanto isso acontece, a porta-voz da Comissão Europeia, Dana Spinant, diz o óbvio: futuras medidas de contenção devem basear-se em conselhos científicos e ser coordenadas a nível europeu. Ou seja, não se sabe quando. Sempre a protelar, sempre a adiar. “A Comissão Europeia vai procurar iniciar uma cooperação entre os Estados-membros para evitar políticas divergentes no que toca ao controlo de fronteiras”. Divergências em relação a quê? Que era “muito cedo” para dizer se medidas relacionadas com encerramento de fronteiras iam ser discutidas. “A ideia deste primeiro encontro é trocar informação sobre a situação actual e para discutir os eventuais futuros passos que sejam necessários tomar”. Em Portugal, passou a estar disponíveis mais cinco hospitais para receber casos suspeitos, para além dos três que já o estavam a fazer, e foram activados mais quatro laboratórios para os testar. O ex-presidente da Associação Portuguesa de Epidemiologia, Jorge Torgal, preconiza que Portugal deve “continuar a fazer o que tem feito” e seguir as recomendações da OMS. “A situação continua a ser tranquila, sem lugar para alarmismos, apesar de o surto em Itália ser preocupante”.

O que fez Marcelo? 

Visitou, em Alfragide na Amadora, a Academia do Johnson, onde foi recebido pelo fundador da ONG, João Semedo, mais conhecido por Johnson. Ora, aí está. Isso sim!

27/2/2020

A vice-presidente iraniana está infectada. Masoumeh Ebtekar permanece em casa de quarentena. É a terceira figura política infectada. O vírus já provocou 2800 mortos em 47 países. Os Estados Unidos detectam o primeiro caso. A Arábia Saudita suspende entrada de peregrinos em Meca. Na Europa, há casos confirmados em vários países, com Itália a registar um aumento repentido do número de casos. Em Portugal, a Direcção-Geral da Saúde registou já 25 casos suspeitos e emitiu recomendações às empresas para que criem planos de contingência, com zonas de isolamento e regras específicas de higiene, evitando reuniões em sala e devendo estar preparadas para a possibilidade de parte (ou a totalidade) dos seus trabalhadores não irem trabalhar e para recorrer a formas alternativas de trabalho. António Costa – repetindo a mensagem europeia - garante que "a União Europeia (UE) está a monitorizar a situação e até agora não se verificam os pressupostos que justificam qualquer encerramento de fronteiras”, nem mesmo em relação a Itália. "Nos termos do tratado de Schengen, uma das situações é a contenção dos riscos de expansão de epidemias. Não se verifica essa situação. Se vier a ser necessário, garanto que não será segredo”. “No momento em que não temos nenhum caso, não se justifica, por exemplo, estar a encerrar escolas ou qualquer medida do género”. Disse ser essencial evitar alarmismos e seguir as orientações da DGS - “Lavar frequentemente as mãos, evitar mexer nos olhos, no nariz, na boca, termos agora uma distância social uns com os outros" - e aconselhou que, nas férias da Páscoa, devem evitar-se viagens para zonas onde já houve casos positivos. A DGS pede às pessoas que venham de áreas afectadas para não irem às urgências.
  
O que fez Marcelo? 

Mais apertos de mão e falta de distância
Enquanto preside, na Universidade Católica Portuguesa em Lisboa, à sessão de encerramento do ciclo de conferências “NATO aos 70, às 18h30: Passado e Futuro”, pondera afinal não ir onde foi há dias: ao estrangeiro. "Vamos ver a evolução dos acontecimentos para ver se é necessário mudar planos e cancelar uma ou outra deslocação ou compromisso e se é proporcional cancelar tudo ou se há que reajustar programas". É capaz de ser melhor pensar só em si, sim, senhor presidente. Mas quanto a mais orientações, sinceramente, isso não é para o PR: "Há este apelo geral [da DGS] aos portugueses - e eu correspondo civilizadamente e amigavelmente - aos cumprimentos. E, nesse sentido, esse apelo para que haja - não direi um distanciamento social, acho demais”, (...) - uma atenção à forma de, sobretudo, quando se trata de grandes massas, muitas pessoas em espaços fechados, agir com alguma atenção, todos somos sensíveis". [Marcelo RS foi alvo de gozo de Ricardo Araújo Pereira por andar aos beijinhos e abraços, enquanto toda a gente se impunha uma distância...]

28/2/2020 

A OMS eleva o risco de contágio e de impacto do novo coronavírus ao “muito alto a nível global”. Em conferência de imprensa, o director-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus informa que o surto afecta perto de 60 países e está a aumentar. Ghebreyesus disse que seria um “grande, grande erro” abandonar a estratégia de mitigação do novo coronavírus, e que cada país deve fazer “uma contenção agressiva”. Na Alemanha, 48 casos e 18 curas, sem mortes. Foi criado um orçamento especial: 23 milhões de euros para prevenção, comunicação e repatriamento de cidadãos. Medidas: pessoas que tenham estado em zonas de risco - China, Coreia do Sul, Irão e Itália - devem evitar contactos “desnecessários” com outras pessoas e devem “permanecer em casa sempre que possível”. Os passageiros da China, Hong Kong e Macau têm, ainda no avião, de preencher um documento com informação sobre onde vão ficar nos 30 dias seguintes e os locais exactos onde estiveram na China. A Alemanha vai “continuar a tentar isolar as pessoas, o máximo possível, tratá-las em clínicas e providenciar cuidados a possíveis pessoas de contacto”, disse o ministro da Saúde, Jens Spahn. Na cidade de Heinsberg (Renânia do Norte-Vestfália) fechou-se escolas por precaução. Em Espanha, o Governo recomenda vida normal para todas as pessoas, mesmo as regressadas de zonas de risco. Havia 34 casos positivos e dois tiveram alta. As recomendações são semelhantes às feitas em Portugal. Não há medidas de quarentena activas. O departamento de Saúde Pública espanhol mantém o "nível um” de contenção, de três níveis possíveis. E apenas pondera elevar este nível, caso se verifique “uma transmissão comunitária descontrolada”. Nesse caso, haverá “medidas de distanciamento social básicas como reduzir aglomerações de pessoas”. Mas é só um cenário hipotético. Deu no que deu. Em Itália, já há 888 infectados, 21 mortos e 50 pessoas recuperadas. Onze cidades com um total de 55 mil pessoas estão em quarentena. Escolas, universidades e cinemas foram fechados e vários eventos públicos cancelados. Para “evitar a suspensão” de empresas e centros de produção, o decreto de 21/2 permite a empresas e funcionários optar pelo “trabalho remoto”. Em França, medidas de precaução incluem cancelamento de eventos como o carnaval de Nice e uma feira comercial internacional em Paris. O Governo suspendeu as viagens escolares para onde o vírus circula: China continental, Hong Kong, Macau, Singapura, Coreia do Sul e as regiões italianas da Lombardia e de Véneto. Aconselha-se às pessoas regressadas de zonas de risco a usar uma máscara. Nos aeroportos Paris-Charles de Gaulle e Saint-Denis de la Réunion os passageiros vindos da China, Hong-Kong e Macau são recebidos por uma equipa da Protecção Civil. No Reino Unido, cerca de nove mil pessoas foram testadas, mas apenas 20 casos foram positivos. O Governo avisa para os perigos de reagir exageradamente em resposta a uma epidemia. Quem regresse das 11 cidades italianas, do Irão e de certas zonas da Coreia do Sul fica em quarentena, isolado em casa. É possível ordenar o isolamento de indivíduos se houver fundamentada razão para tal. Medidas como o encerramento de fronteiras estão por agora afastadas. Argumento usado: “Se virem o caso de Itália, eles pararam todos os voos vindos da China e são agora o país mais afectado da Europa”, declarou o secretário de Estado da Saúde, Matt Hancock. Monitoriza-se passageiros nos aeroportos (de quem vem da China), uma equipa especial está no aeroporto de Heathrow. Em Derbyshire, é fechada uma escola depois de confirmado um caso entre os encarregados de educação. Um centro médico foi igualmente fechado. Na Holanda, é identificado o primeiro caso: um homem que esteve na Lombardia. Uma reunião do Eurogrupo é marcada para 4/3 para “coordenar as respostas nacionais” de cada país da UE, na sequência dos “recentes desenvolvimentos” económicos e financeiros. Em Portugal, reduz-se a metade a ligação aérea com a China, para um voo semanal. Alerta-se que, pior do que o vírus, é o medo e que a seguir vem a ignorância. A única forma sã de lidar com o problema é assumir que o vírus chegou a Portugal e que temos de aprender a lidar com ele. Cancelamento dos voos EasyJet com Itália não afecta Portugal. Uma utente de um centro de saúde, suspeita de estar infectada, é mantida na casa de banho, mesmo existindo duas salas para receber casos suspeitos. A DGS, devido ao aumento repentino de casos na Europa, aperta medidas de segurança: um pedido de ponderação na realização de visitas de estudo ao estrangeiro (!). As crianças não devem faltar às aulas e os profissionais ao trabalho por causa do surto. Foram registados 7 novos casos suspeitos.

O que fez Marcelo?

Pouca coisa. Presidiu, às 17h, no salão nobre da Academia das Ciências de Lisboa, à sessão de apresentação do livro “A Nossa Época - Salvar a Esperança” de Adriano Moreira. Um best-seller. Marcelo flana e plana sobre o Inferno.

29/2/2020 

Em Portugal e até esta data, a DGS portuguesa realizou só 70 testes, dos quais 67 negativos. Algo ridícul para um país 10 milhões de habitantes. A directora da DGS, Graça Freitas em declarações ao PÚBLICO e numa entrevista ao Expresso refere que a DGS espera 10% da população infectada, o que significa entre 23 e 24 mil mortos. O primeiro-ministro apela ao povo para se preparar, embora sendo necessário evitar “o alarmismo desnecessário”.

O que fez Marcelo? 
Nada.  

1/3/2020

Dispara o número de infectados em Itália. A OMS alerta para uma “epidemia de histeria” e empenha-se no combate à desinformação, já designada por infodemic. Informações falsas ou pouco rigorosas espalham-se a um ritmo vertiginoso nas redes sociais. Em Portugal, a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) alerta para insuficiências em unidades de saúde, nomeadamente de equipamentos de protecção e de salas de isolamento e exigiu “medidas sérias” para proteger profissionais de saúde e utentes.

O que fez Marcelo? 

 Não fez nada, que se saiba.

2/3/2020

Risco de contágio na UE sobe para elevado, “o que significa que o vírus continua a alastrar”, justificou a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen. Mas a Comissão Europeia rejeita medidas mais drásticas, como controlos nas fronteiras, a interdição de viagens ou cancelar eventos. “Essas medidas não são eficazes na contenção do surto”. “Neste momento não há quaisquer pedidos [dos Estados membros] nem nenhuns planos da [Comissão Europeia] nesse sentido”, frisou Ursula von der Leyen, que garantiu que a evolução da situação está a ser acompanhada em tempo real por todas as agências especializadas da União Europeia e também pelas autoridades de saúde dos 27 países. Tudo parece um círculo vicioso: a UE não actua sem pedidos dos Estados-membros, os Estados-membros não actuam sem coordenação europeia. Até parece que a UE quer a propagação do surto. A OCDE está ligeiramente menos optimista: prevê que crescimento económico nos países da Organização seja de 2,4%, menos cinco décimas que há quatro meses. Esta não é uma crise que deve ser combatida apenas pelos bancos centrais, mas pelos governos, defende a OCDE. No seu cenário mais pessimista, de efeito “dominó” (“este não é o pior cenário possível”), o economista chefe Laurence Boone evita todas as questões sobre uma recessão a curto prazo, global ou por países. O economista Ricardo Cabral escreve no público: na China, apesar de um primeiro momento de desdramatização, “desde meados de Janeiro que a reacção das autoridades chinesas, duríssima, apontou novos caminhos que o mundo desenvolvido faria bem em seguir. O mundo e o nosso país, em particular, deveriam estar agradecidos à China pelas medidas draconianas adoptadas, um cordão sanitário de mais de 500 milhões de pessoas, redução dos movimentos das pessoas e redução brutal da actividade económica com todas as consequências e custos que daí advêm para os chineses e para a economia chinesa. O Governo chinês poderá vir a ser acusado de reagir em pânico e é certo que muita gente terá sofrido (e até perdido a vida) em consequência dessas medidas. Contudo, na dúvida, o Governo da China colocou a saúde das pessoas à frente de preocupações com a actividade económica. Graças a essas medidas sem precedentes (...) o vírus não se espalhou tão rapidamente dando tempo a governos de outros países para se prepararem e às pessoas para alterarem os seus comportamentos. Contudo, como se vê pelos exemplos do Japão, Coreia do Sul, Itália, Irão e Estados Unidos (EUA), outros países não souberam aproveitar a oportunidade e o tempo que lhes foi oferecido pela experiência chinesa”. Mas autoridades nacionais parecem não agir como se fosse caso para alarmismo ou uma ameaça de muito elevada perigosidade. Em Portugal, os voos vindos de Itália vão passar a ser alvo de uma maior rastreabilidade de passageiros, como já estava a ser feito com os três voos semanais vindos da China [três? Não era um?]. A recomendação geral para quem venha de áreas afectadas é a de fazer “vigilância activa e contactar a Linha SNS24”, afirmou a ministra da Saúde.

O que fez Marcelo? 

Pareceu estar noutro mundo. Também era domingo. Às 11h, visitou, em Lisboa, o SISAB 2020 - 25.ª edição do Salão Internacional do setor alimentar e bebidas. Conviveu, comeu e bebeu. Às 16h, presidiu, no Palácio de Belém, à cerimónia oficial de partida da Peace Run 2020, tendo transportado a Tocha da Paz no início do percurso da Rota Europeia desta corrida de estafeta, que este ano se iniciou em Portugal e que terminará, dia 6/10 em Praga na República Checa. Onde estará o estafeta nesta altura? E além disso, promulgou o diploma que adota as medidas necessárias ao cumprimento da obrigação de manter o livro de reclamações eletrónico. Reclamações contra quem? E à noite foi inaugurar o programa de Ricardo Araújo Pereira na SIC. E a frase que lhe saiu nessa noite foi: “Quanto mais amplo for o leque melhor, se alguém pensa que tem condições de ser o melhor Presidente da República para Portugal deve lançar-se”. Pois claro! Um tema essencial.

3/3/2020

Oitenta mil infectados na China, quase 3 mil mortos. Sete cidadãos chineses que regressaram de Itália, na semana passada, estavam infectados, e despertam receios de um novo surto no país por importação de casos. A OMS declara que cerca de 3,4% dos casos confirmados morreram. Um valor muito acima da taxa de mortalidade da gripe sazonal (menos de 1%). Apesar disso, a OMS acredita que o novo vírus pode ser contido e alerta para a escassez global de equipamentos de protecção — entre os quais máscaras, luvas e óculos de protecção. O presidente da UEFA, o esloveno Aleksander Ceferin, diz que se mantém a perspectiva de o surto não afectar o Euro 2020, em Junho. Em Portugal, há 4 casos confirmados e 101 suspeitos de infecção. Os hospitais de Santo António e de São João, no Porto, “esgotaram a capacidade”, pelo que mais quatro hospitais na região norte foram activados. Roubam-se máscaras no serviço de Medicina do Hospital de Santa Luzia, em Elvas. É aberto um inquérito interno. É activada permanentemente a Comissão Nacional de Protecção Civil, com representantes de todos os ministérios, das regiões autónomas, dos municípios e das freguesias, dos bombeiros, das Forças Armadas e de segurança e outras Autoridades, incluindo a DGS. O ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita lembra que se está “numa fase de contenção” e que é “essencial a rápida actualização dos planos de contingência”, em função das orientações da DGS. António Costa garante que não faltará dinheiro para conter epidemia. “Esse será o último dos problemas”, disse para sossegar a Ordem dos Médicos que pede uma linha de financiamento específica para que os hospitais tenham autonomia para responder à doença. A ministra da Saúde considera ter base legal para activar o isolamento obrigatório dos suspeitos de Covid-19, apesar de reconhecer que o “quadro legal é difícil”, tendo conta a limitação prevista na Constituição. “Não fugirei às minhas responsabilidades no caso de ter de tomar medidas naquilo que a lei me confere”, disse. O Governo começa a definir regras para financiar quem tenha de dar assistência a familiares. Os trabalhadores do sector público e do privado vão beneficiar das mesmas regras: apoio por inteiro a quem dá assistência a doentes.

O que fez Marcelo? 

Foi um dia muito atarefado. Apesar dos cuidados a ter por causa do vírus. Marcelo começou o dia às 11h com o quinto encontro do programa “Artistas no Palácio de Belém” com o artista José Pedro Croft. Às 14h30, o programa continua com o sexto encontro com o artista Carlos Nogueira. E às 16h, presidiu, na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, à entrega do Prémio BIAL Biomedicina 2019, tendo Marcelo agraciado o presidente da Fundação BIAL, Luís Portela, com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública. E ainda promulgou o diploma que estabelece as especificações técnicas para a marcação de armas de fogo e dos seus componentes essenciais, bem como para as armas de alarme, starter, gás e sinalização, transpondo as Diretivas de Execução (UE) 2019/68 e 2019/69. Um tema fascinante. E, ao mesmo tempo que o primeiro-ministro se desloca ao Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, para ver cidadãos infectados, fez ainda saber à comunicação social que, por vontade sua, “já lá estava”, próximo dos portugueses infectados – dando a entender que o Governo é que o impedira de fazer o que ainda não fizera. Costa responde-lhe que “o sr. Presidente da República nunca precisou da autorização do Governo para estar onde entenda que deva estar”. Marcelo estava, pois, a perder a iniciativa e, diga-se, a sensatez.

4/3/2020 

Itália encerra escolas e universidades até 15/3. Já há 107 mortos. Há mais de 90 mil casos confirmados em todo o mundo e morreram cerca de 3 mil pessoas — uma taxa de mortalidade que ronda os 3,4%. Na China, regista-se já uma queda de 2% na produção da China, após semanas de estagnação, fábricas fechadas, movimento de pessoas restringidos. Na Austrália, o papel higiénico esgota-se em minutos. O presidente do Eurogrupo Mário Centeno, depois de se reunir por teleconferência com os seus homólogos, garante que existe a disponibilidade para, caso seja necessário, fazer os esforços necessários para conter o efeito do vírus na economia, nomeadamente através da aplicação de políticas orçamentais mais expansionistas. Mas no caso português, diz, seria feito “sem comprometer de maneira nenhuma a sustentabilidade” das finanças públicas. Na calha está uma linha de crédito de 100 milhões para apoiar empresas. Quase à mesma hora, no parlamento, António Costa, assume rever as previsões de crescimento. O Governo “não deixará de reflectir o risco na projecção a apresentar”. “Estamos conscientes do impacto negativo que a epidemia em curso poderá também vir a ter no comportamento da economia mundial, em particular no sector do turismo”. Só turismo? Em Portugal, já há seis casos confirmados. O bastonário da Ordem dos Médicos diz que “mais vale exagerar e fazer as coisas por excesso que por defeito”. Governo admite fecho de bares, cantinas, refeitórios e outros espaços de utilização comum das escolas e de todas as outras entidades da administração pública. O ministro de Estado e da Economia, Pedro Siza Vieira, relativiza a detecção de mais um caso em Portugal. O homem de 44 anos tinha estado em Itália e é internado no Hospital de São João, no Porto. “Esta não é uma doença grave. É, no entanto, uma doença muito contagiosa”, diz, - segundo o jornal - sem dar margem para que a situação seja empolada. “Este caso é como os outros. É o caso de uma pessoa que veio infectada de fora”. “Aquilo que continuamos a tentar assegurar é que consigamos conter a velocidade de propagação da doença”. Conseguindo atingir essa meta, “menos gente ficará doente”, o que diz significar também “menos gente a sobrecarregar” os serviços de saúde, resultando disso um “menor impacto económico”. E esse parece ser o problema: despesa pública e menor impacto económico. O director do Público escreve: “Novo vírus é muito contagioso e relativamente pouco mortífero. (...) não caiamos numa escalada defensiva que nos paralise”.

O que fez Marcelo?  

Andou entretido. Às 18h, esteve presente, no Auditório do Camões, na sessão especial do Ciclo de conversas “Camões dá que falar”. E além disso, promulgou o diploma do Governo que estabelece a orgânica do Ponto Único de Contacto para a Cooperação Policial Internacional (PUC-CPI). Outro documento essencial nos dias de hoje.

5/3/2020

Confirmada a primeira morte no Reino Unido. Uma mulher, com cerca de 70 anos, que estava a receber acompanhamento hospital em Reading. Foi uma das 3346 pessoas, entre as já 97.510 infectadas em 85 países. A China soma 80.409 casos e 3012 mortes, a Coreia do Sul 6088 casos e 35 mortes, Itália com 3858 casos e 148 mortes, o Irão com 3513 novos casos e 107 mortes. A OMS adverte – mais uma vez - que os países não estão a levar a sério a ameaça do Covid19. “Preocupa-nos que alguns países não estejam a levar suficientemente a sério o problema ou que tenham decidido que não podem fazer nada”, diz o seu director-geral em conferência de imprensa. O novo vírus não se trata de um exercício. É precisar “dar tudo”. Os ministérios da Saúde devem fazer tudo para conter o vírus, disse. Foi declarado estado de emergência na Califórnia. O comissário Europeu da Economia, Paolo Gentiloni, adianta que os países da UE precisam de garantir a liquidez das empresas, especialmente as pequenas e médias. “As medidas de política económica têm que ser implementadas no momento adequado, nem demasiado cedo nem demasiado tarde". Por que não acudir já às pessoas em vez de esperar pelo impacto nas empresas? O responsável europeu lembra que as normas comunitárias permitem que os países se desviem dos seus objectivos do défice caso sejam obrigados a responder a eventos extraordinários. Em Portugal, há nove casos confirmados e 147 suspeitos. A directora-geral da Saúde, Graça Freitas afirma: “Estamos a ver a ponta do iceberg”. A TAP cancela cerca de mil voos. A decisão afecta sobretudo o mercado europeu - Itália, França e Espanha. Também há voos intercontinentais. Para o ministro da Economia, Siza Vieira, essas medidas fazem sentido: "É isso que é gerir uma empresa. É, nestas alturas, fazer planos de contingência e saber exactamente como gerir". Gestão, não contenção do vírus. A linha Saúde24 não atende um quarto das chamadas. Linha de apoio ao médico deixa clínicos sem resposta horas a fio. Mulher da região de Lisboa é o sexto caso confirmado da doença em Portugal. Portugal ainda não tem um plano de contingência nacional. O ministro da Economia Siza Vieira continua a ser optimista: “Temos artilharia para mitigar danos do coronavírus”. Até ao momento, Portugal não sofreu danos significativos no turismo. O ministro pede cabeça fria e cooperação para se controlar a crise no plano da saúde pública e os riscos económicos. Por esta ordem. Siza Vieira parece estar a pemnsar apenas na economia: "Agora, a preocupação essencial é quanto tempo é que isto vai durar, que impacto é que isto pode ter? Quanto mais duradoura for esta crise, maior será o impacto e quanto mais rápida for a propagação da doença, também maior será o impacto. O que significa que, para gerir o impacto, precisamos de um grande esforço na contenção da taxa de propagação.” Temos essa artilharia preparada e disponível para colocar à disposição das empresas.

O que fez Marcelo?

Foi a primeira vez que Marcelo teve um relance de preocupação com o vírus. Ao início da tarde, visitou – com a ministra da Saúde, a diretora-geral da Saúde, a presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central e pelo diretor do serviço de Infeciologia, o Hospital Curry Cabral. E conseguiu falar - por intercomunicador - com três doentes internados por Covid-19. Mas depois, às 17h30, presidiu à sessão de encerramento da Conferência “Portugal... e agora?”, no Museu da Eletricidade em Lisboa, promovida pelo Jornal Público. Qual foi o assunto que a imprensa lhe apanhou a dizer? Vírus? Não: “As pessoas não podem começar uma legislatura com um estado de espírito de fim de legislatura, quando as pessoas já estão cansadas, gastas, nervosas, tensas, encontram soluções caso a caso, em cima da hora, no último segundo, arranjam soluções de improviso ou de remendo”. “Ninguém de bom senso” pense que pode haver eleições antecipadas. Para Marcelo, Costa é o vírus. Marcelo lá fala sobre o assunto, mas quando é questionado sobre a mudança o novo conselho de administração dos serviços responsável pela Saúde24. Diz: "É uma equipa que porventura vai sendo reforçada no tempo, mas que eu percebo que se tente ao máximo evitar que haja grandes modificações e grandes alterações quando se está a travar uma batalha ou um conjunto de batalhas continuas desta envergadura. É importante, o mais possível, haver a coesão da equipa e não propriamente modificações da equipa num momento que é um momento que ainda não sabemos quando terminará". "Até agora” – sublionhe-se o até agora - “para os desafios que tivemos, houve uma capacidade de resposta bastante, suficiente e positiva".

6/3/2020

Já há mais de cem mil infectados em todo o mundo. O Irão regista 4747 infectados, mais mil que na véspera. E 124 mortes. As autoridades iranianas soltam prisioneiros e admitem usar a força para impedir viagens, depois do estado de negação das autoridades do Irão. Vice-presidente Pence revela que, ao contrário do prometido, a Casa Branca não vai conseguir disponibilizar um milhão de kits para testes do vírus. “Ainda temos um caminho a percorrer para garantirmos que os testes estejam disponíveis”, reconhece Pence. O Congresso dos Estados Unidos aprova um pacote de emergência. Há mais de 200 casos em 20 estados. A França tem já 613 casos e duas mortes. Macron considera que a epidemia é “inevitável”. Os comissários da Saúde e Gestão de Crises e vários ministros dos 27 lamentam o comportamento de alguns parceiros — Alemanha, França e República Checa — que decidem introduzir limitações à exportação de dispositivos médicos e equipamentos de protecção individual. Na reunião, a ministra portuguesa apontou para o risco de uma “disfunção no mercado”. Uma equipa de cientistas dos Estados Unidos, da Itália e China conclui que as restrições nas viagens têm impacto “modesto” na propagação – apesar de grandes restrições de viagens na China e para fora do país, um grande número de indivíduos já expostos viajou pelo mundo sem ser detectado - e que a detecção precoce de casos e lavar as mãos são mais eficazes. A OIT revê em baixa as estimativas para o turismo internacional. Prevê recuos entre 1% e 3% este ano e perdas entre os 27 mil e 45 mil milhões de euros (30 mil milhões de dólares). Em Portugal, o ministro da Administração Interna afirma que o país está "preparado" para o surto do vírus. Porquê? Todas as estruturas do Estado têm planos de contingência actualizados.

O que fez Marcelo? 

Pouca coisa, segundo a página oficial. Promulgou o diploma que classifica como zonas especiais de conservação os sítios de importância comunitária do território nacional.

7/3/2020 

O Banco Central Europeu testa plano de emergência. Exportações chinesas caem 15,9% nos dois primeiros meses do ano. A Itália regista mais 1247 novos nas últimas 24 horas. Já há 5883 infectados. Dezasseis milhões de italianos estão isolados. O surto já se espalhou por 29 regiões. Há 21 casos confirmados em Portugal. A Universidade do Minho suspende as aulas no campus de Braga, depois de um estudante ter sido diagnosticado com o coronavírus. É prometido que o Hospital de São João monte um hospital de campanha. O primeiro-ministro, António Costa, garante que Portugal está preparado para o surto. O Governo tem os planos de contingência para ir adoptando "as medidas à medida do estritamente necessário". Algumas escolas são fechadas. "Não foram adoptadas [medidas] para outros estabelecimentos porque não se justificou. Se se vier a justificar claro que teremos que adoptar", declarou aos jornalistas, no Porto. "Nós temos de ir acompanhando a par e passo. Até agora tem sido possível fazer o rastreamento da origem destas situações — há um foco grande que teve origem em Milão e que depois se tem disseminado — há novos focos de infecção e, portanto, conforme eles forem verificando e se forem desenvolvendo nós temos de adoptar as medidas para conter o seu desenvolvimento". Sobre o encerramento de fronteiras, António Costa diz que o Governo nunca tomará medidas isoladas dos outros países da UE. "Até agora nenhum país considerou necessário haver essas medidas de encerramento das fronteiras e esperemos que não venham a ser necessárias". A directora-geral da Saúde garante que existe “capacidade laboratorial” para realizar os testes necessários. “Se a pressão for muito grande haverá dificuldades”. “Haverá em todos os países”. “Mas vamos sair bem, o melhor possível avaliando o risco e estudando o que a ciência nos ensina. Vamos agir com tranquilidade social. Já basta ter uma epidemia, para ainda ter uma epidemia do medo”, afirma.

O que fez Marcelo? 

Reduziu "uma parte da agenda" a nível nacional por causa do surto. Visitou o Hospital de São João. Foi recebido pelo presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Universitário de São João e pelo diretor do serviço de Doenças Infeciosas, onde se inteirou do estado de saúde dos doentes internados com Covid-19, “com os quais falou do exterior através do vidro do quarto de isolamento”. Deu uma palavra de optimismo para os portugueses: os profissionais de saúde “têm respondido de uma forma espectacular: o pessoal médico, o pessoal de enfermagem, o pessoal auxiliar, o pessoal técnico" e que "todo ele tem respondido com trabalho brutal, com uma sobrecarga constante, mas com uma qualidade e capacidade de doação sem limite". Depois, às 16h, agraciou o Teatro Nacional São João (TNSJ), do Porto, com o título de Membro Honorário da Ordem do Mérito e, já que lá estava, assistiu ao espetáculo “Turismo Infinito”. Um bom e irrealista tema.

8/3/2020 

O Presidente da República suspende a sua agenda por duas semanas, depois de, a 3/3, ter estado no Palácio de Belém, em Lisboa, com uma turma de uma escola de Felgueiras – no âmbito do programa “Artistas no Palácio de Belém” - que foi encerrada devido ao internamento de um aluno. Durante esse período, foi criticado pela extrema-direita por ter fugido.

 A 15/3/2020, dirige, a partir de sua casa em Cascais, uma mensagem aos portugueses sobre a atual situação epidemiológica do novo Coronavírus (Covid-19). A 17/3/2020, faz o segundo teste ao Covid-19, decorridos 15 dias sobre a sessão com alunos da escola de Idães, Felgueiras. O resultado do teste foi negativo. Pelo que Marcelo volta ao trabalho na tarde desse dia.

A 18/3/2020, presidiu, a partir do Palácio de Belém, à reunião por videoconferência do Conselho de Estado. E decretou o Estado de Emergência. Ao dirigir-se aos portugueses, como se estivesse a declarar guerra a algum país.
“Esta guerra, porque de uma verdadeira guerra se trata, dura há um mês”. Na verdade, como se viu, durava há mais. “E o que fizemos nestes últimos quinze dias?”
– Marcelo, como vimos, fez pouco.
“O Governo – que tem entre mãos uma tarefa hercúlea – adotou medidas, tentando equilibrar contenção no espaço público e nas fronteiras e não paragem da vida económica e social, medidas que todos, Presidente, Parlamento, partidos e parceiros sociais, apoiámos, conscientes de que só a unidade permite travar e depois vencer guerras.”
– Marcelo poucas vezes o disse.
“Sabia e sei que os Portugueses estão divididos. Há quem o reclame para anteontem. Há quem considere dispensável, prematuro ou perigoso.”
- Marcelo, ao cumprir a sua etérea agenda, nem parece ter reparado no que se passava. E as cinco razões invocadas para o Estado de Emergência são errôneas.
“Primeira – Antecipação e reforço da solidariedade entre poderes públicos e deles com o Povo. Outros países, que começaram, mais cedo do que nós, a sofrer a pandemia, ensaiaram os passos graduais e só agora chegaram a decisões mais drásticas, que exigem maior adesão dos povos e maior solidariedade dos órgãos do poder. Nós, que começámos mais tarde, devemos aprender com os outros e poupar etapas, mesmo se parecendo que pecamos por excesso e não por defeito.”


Marcelo quer “decisões mais drásticas”. Mas que medidas mais drásticas? Quer ir além do que a UE tem feito? Quer o quê? Ninguém sabe. E ninguém sabe porque, na verdade, Marcelo pouco tem ligado ao assunto. Nenhum alerta foi dado. Esteve mais preocupado com a potiquice doméstica e mal se apercebeu de tudo. E agora, a coberto do vírus, quer dar uma guinada política. 
“Segunda – Prevenção. Diz o povo: mais vale prevenir do que remediar. O que foi aprovado não impõe ao Governo decisões concretas, dá-lhe uma mais vasta base de Direito para as tomar. Assim, permite que possam ser tomadas, com rapidez e em patamares ajustados, todas as medidas que venham a ser necessárias no futuro. ”
O Governo e o Estado, na verdade, já possuíam plenos poderes, como um Executivo em funções, cumprindo as suas competências constitucionais à frente do Estado. 
 “Terceira – Certeza. Esta base de Direito dá um quadro geral de intervenção e garante que, mais tarde, acabada a crise, não venha a ser questionado o fundamento jurídico das medidas já tomadas e a tomar.”
Cheira mesmo a argumento tirado da manga de um jurista. Quem viria a questionar? As empresas? Será que Marcelo defende a sua requisição, nacionalização? 
Quarta – Contenção. Este é um estado de emergência confinado, que não atinge o essencial dos direitos fundamentais, porque obedece a um fim preciso de combate à crise da saúde pública e de criação de condições de normalidade na produção e distribuição de bens essenciais a esse combate.
Idem 
Quinta – Flexibilidade. O estado de emergência dura quinze dias, no fim dos quais pode ser renovado, com avaliação, no terreno, do estado da pandemia e sua previsível evolução.
Brincamos?

Tudo parece, pois, que as razões para se decretar o Estado de Emergência foram outras. O tempo as dirá.

11 comentários:

  1. Esse tal Marcelo, que cargo tem ele no governo?

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  2. Caro José,

    Que se saiba, Marcelo não pertence ao Governo, ainda que possa apontar-se críticas ao Governo. Mas ao contrário de Marcelo, não houve nenhum Costa que tenha decretado o Estado de Emergência ou declarado guerra.

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  3. Todos se mostraram mal preparados para gerir esta pandemia.O importante agora não é criticarmos o que já passou, é nos unirmos, e todos juntos fazermos o melhor que podemos para consiguirmos vencer esta guerra

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  4. Caro anónimo,

    Eu gostava que tivéssemos estado todos unidos quando foi necessário reforçar o SNS, e não o que aconteceu durante décadas que foi o subfinanciamento ou mesmo corte de verbas para o serviço que trata da nossa saúde. Hoje somos vítimas dessa política.

    Este VÍRUS é apenas uma das facetas da saúde pública. Se isto é uma guerra, os seus inimigos são aqueles que hoje levantam a voz, batem no peito, apelam à guerra, usam linguagem bélica. Mas ainda há bem pouco tempo, nem uns meses, defendiam a sua desvalorização e esvaziamento. Faz sentido? Faz sentido esquecê-lo? Esse é risco destes momentos: esquecer-se rapidamente do passado.

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  5. " é nos unirmos, e todos juntos fazermos o melhor que podemos para consiguirmos vencer esta guerra"

    Lamento, mas discordo. Para prevenir o contágio devem-se evitar os ajuntamentos de mais de 2 pessoas. E sobretudo devem-se evitar os mal-lavados que andaram a minimizar o problema durante semanas.

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  6. Caro João
    Quer dizer que o estado de emergência não passou pelo Conselho de Estado, não foi decidido no Parlamento, nem os seus termos são definidos pelo Governo?

    Simplificando: há problemas bastantes para que tratar de questiúnculas seja um erro.

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  7. Caro João

    Essa cena do reforço disto e aquilo estatal tem um senão - não há dinheiro no Estado.
    Ah! mas se o país fosse outro, se a UE fosse outra, se...se...um molho de irrelevâncias.

    Há emergência, há hospitais privados (até há pouco havia um equipado e fechado lá para Vila do Conde), há hospitais militares...tratem de usar os meios e acabem com o choradinho de que só o SNS é que vale e tudo o mais nem deveria existir.

    E quanto ao SNS: quando eu o ouvir reclamar da malha imensa de coutos estatais inúteis, sobrepovoados, ineficientes, despropositados...vou prestar atenção à sua indignação pela falta de meios do SNS!

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  8. Recuso ir atrás do discurso da união. Normalmente esta surge quando o sistema está em causa e é preciso salvar o way of living. Especialmente quando neste preciso momento há enfermeiros a serem "aconselhados" a descontar o seu valoroso esforço a bancos de horas. Ou o estado a pagar 100 euros por testes que custam 30.
    Se o dever de uma sociedade é zelar pelo bem comum, e o estado um meio de este se materializar, então o governo devia ter logo à partida tomado as devidas medidas, e não seria necessário criar um "estado de exceção". Que, sejamos realistas, tem sido o estado da saúde e dos serviços públicos, que tem tido sempre recursos delapidados e secundarizados para salvar o way of living.

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  9. Parabéns pela excelente peça jornalística, como já é raro acontecer, num sistema mediático dominado pelos interesses económicos dos oligarcas.
    Convém não esquecer que os privados querem "gerir" o SNS, com recurso a PPPs e MRS nunca escondeu o seu amor às PPPs e tudo tem feito para as defender.
    Diz-se que esta crise demonstrou a inevitabilidade de um SNS público, mas não se iludam: depois de isto passar, voltam as notícias diárias sobre mortes nas urgências dos hospitais, como se não fosse as urgências os locais onde ocorrem mais mortes.
    Se a estratégia da direita resultar (repetir 2011, em que os termos do pedido de resgate foram ditados ao então ministro das finanças por um funcionário dos maiores oligarcas da saúde privada), teremos a privatização do SNS daqui a pouco tempo.

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  10. Por breves minutos deixem-me vestir a pele de jornalista para colunar:

    Questiono-me se não será um dos que figura no adornado galheteiro, fora o teste, que anda a espalhar infecção.
    Só um miserável tem a distinta lata de vomitar "mais unidos do que nunca",
    Tomando essa barbaridade como um elogio à desgraça que já amontoou, ele chama-lhe união, uma preocupante parte da população.

    O outro, resistente e fatídico aldrabão, senhor de um histórico monstruoso com a sua capacidade de durar que se farta no arraial das artimanhas, não poderia ser amassado e destilado para o converter em vacinas testadas contra o fatídica corona?

    Tenho dito

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  11. Excelente trabalho.
    Os meus parabéns
    Duarte Campos

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