«Há uns anos, um aluno perguntou à antropóloga Margaret Mead o que poderia ser considerado como o primeiro sinal de civilização numa dada cultura. O aluno esperava que ela respondesse fazendo referência a anzóis, recipientes de barro ou pedras de moagem. Mas não. Mead disse que o primeiro sinal de civilização numa cultura antiga era um fémur (osso da coxa) que tivesse sinais de ter partido e estar curado. E explicou que no reino animal se morre quando se parte uma perna. Não se pode fugir do perigo, chegar ao rio para beber água ou caçar para comer. Passa-se a ser carne para os animais selvagens em redor. Isto é, nenhum animal sobrevive o tempo suficiente para que uma perna partida possa ficar curada. Um fémur partido com sinais de que está curado demonstra que alguém dedicou o seu tempo a ligar a ferida de quem caiu, a transportar essa pessoa para um sítio seguro e a acompanhá-la durante o tempo de recuperação. A civilização começa quando se ajuda alguém que está em dificuldades, disse Mead.» (Ira Byock, via Francisco Curate).
Talvez o Estado Social corresponda hoje, nas nossas sociedades, ao melhor sinal de civilização. O equivalente ao tal fémur, partido e tratado, de que fala Mead a propósito das culturas antigas. Aos sinais de cuidado que esse osso revela junta-se, no caso do Estado Social, o sentido de comunidade. Isto é, a ideia de que um conjunto de pessoas, uma sociedade, estabelece entre si, e através do Estado, o compromisso de assegurar a todos o acesso universal e gratuito a direitos essenciais e serviços públicos de saúde, educação, habitação e proteção social. De todos para todos, para que ninguém fique para trás.
Talvez não.
ResponderEliminarExactamente Nuno Serra!
ResponderEliminarContraponha-se este conceito de civilização à escolha de deixar progredir a pandemia para não "perturbar o funcionamento da economia" que de forma explícita ou encapotada presidiu à diletância das elites europeístas.
A solidariedade, quando não advoga a igualdade, é civilização e não utopia.
ResponderEliminarJá o «o acesso universal e gratuito a direitos essenciais e serviços públicos de saúde, educação, habitação e proteção social» tresanda à doutrina dos coitadinhos e seus queridos líderes.
Boa,Nuno!
ResponderEliminarÉ isso mesmo!
Um abraço
José gosta de solidariedade desde que esteja acima da plebe e não o obriguem a participar nas suas formas organizadas («o acesso universal e gratuito a direitos essenciais e serviços públicos de saúde, educação, habitação e proteção social»).
ResponderEliminarSolidariedade sim, mas só em abstrato... E gosta de olhar para os outros de cima.
Ora, precisamente a lição central desta pandemia é que só com uma forte interdependência social e uma grande organização é possível enfrentá-la.
«acesso universal e gratuito a direitos essenciais e serviços públicos de saúde, educação, habitação e proteção social»
ResponderEliminar«saúde, educação, habitação » como direito de mobilizar os meios legítimos de os obter
«o acesso universal a serviços públicos» por isso se dizem públicos, «gratuitos» se possível.
«protecção social» a que a lei e o orçamento comportar.
O enuncisado esquerdalho é um programa político ao qual, na sua arrogante prosápia, dizem ter direito para si e para o impor aos outros.
Chamam-no de solidário e dizem-no civilizacional mas, mais que tudo, o que mobiliza é a primeva ambição de saque e território.
"a ideia de que um conjunto de pessoas, uma sociedade, estabelece entre si, e através do Estado" - concordo
ResponderEliminar"a ideia de que um conjunto de pessoas, uma sociedade, estabelece entre si, através do Estado" - discordo
José não percebe que a sua separação dos outros seres humanos é um artfício, porque a saúde dos outros é a nossa saúde.
ResponderEliminarEsta pandemia pelo menos vai demonstrar em termos muito práticos que a saúde de cada um depende de todos os que estão à sua volta. Basta um membro da comunidade estar mal para toda a sua esfera de contactos estar mal. Vai daí a solidariedade na saúde não é só uma questão de generosidade mas uma questão de interesse e segurança pessoais.
Lá se vai o hiper-individualismo tão querido do José para as malvas.
O troll não é pelo hiper-individualismo próprio, o troll adora o socialismo, adora a mama do Estado para ele e para os amigos...
ResponderEliminarO troll detesta o "helicóptero do dinheiro" quando este é para ajudar a maioria da população.
Quando o "helicóptero do dinheiro" é utilizado para salvar o "mercado" ou para financiar invasões de países no Médio Oriente o troll atinge o nirvana!