terça-feira, 17 de dezembro de 2019
Zero à esquerda
Num país sem instrumentos decentes de política económica, furtados ou anulados pela integração europeia, o que se pode esperar na área orçamental, e na melhor conjuntura económica possível neste contexto estrutural, são feitos nulos destes: OE de medidas pequenas para obter excedente histórico. Que eu saiba, o défice ainda é, em grande medida, uma variável endógena, mais dependente do ciclo do que das habilidades ortodoxas de Centeno.
Não surpreende que estejamos perante medidas pequenas, política com p pequeno, furando ainda mais o sistema fiscal com incentivos regressivos para fingir que se está a fazer alguma coisa de socialmente útil em áreas cruciais dos sistemas de provisão; política enviesada, política que no fundo vai servindo os credores, o sistema financeiro e alguns proprietários; política que nesta conjuntura dá pouco ou nada aos de baixo, ainda beneficiando talvez da adaptação regressiva das preferências políticas reveladas por aí.
Por isso, é difícil perceber o que terá levado Manuel Carvalho no Público a alardear hoje uma contradição nos termos: “recuperação da soberania financeira no quadro das regras do euro”. No quadro do euro, não há soberania democrática neste campo que possa realmente ter sido recuperada. Um só exemplo, duas palavras e alguns mil milhões de euros depois: Novo Banco. Susana Peralta, por sua vez, diz-nos aí que a TINA (There is No Alternative) acabou de vez, dada a recuperação de rendimentos. A TINA está viva. Os rendimentos têm recuperado, mas ninguém se esquece dos cortes anteriores; já o investimento público de Costa só deverá igualar o de Passos em 2020. E a dita alternativa converge para zero ao longo do tempo.
Entretanto, numa ala nova do Ministério das Finanças alemão está uma instalação artística que homenageia o zero e que faz lembrar um par de algemas.
De facto, a TINA está bem viva e por falta de alternativas, ou seja de comparência da Esquerda.
ResponderEliminarNão, João Rodrigues, como as eleições britânicas também mostraram, as pessoas não querem regressar à alta inflação dos anos 70 e desconfiam de promessas excessivas. Um País sobre-endividado pode ter toda a moeda soberana que quiser, que não é soberano financeiramente, a não ser talvez que abjure a sua dívida e, o que é muito importante, se prepare para ficar sem financiamento por alguns anos, com as consequências que se conhecem.
Pior, a Esquerda nem sequer é capaz de assumir que é exactamente isto que está no seu programa, na prossecução de um socialismo estatista a la Corbyn em que ninguém acredita e que ninguém quer.
Talvez as propostas de um Labour que deve voltar à sua matriz original de um Partido com base nas organizações da sociedade civil, cooperativas, sindicatos, etc, representem um caminho. A nostalgia do estatismo, essa, não levará a lado algum.
De facto, o zero é mesmo à Esquerda, não no Orçamento de Centeno...
Tudo poucochinho, na exacta medida da mediocridade que é o fundamento de quem 'virou a página da austeridade' para ganhar mais 4 anos de parasitismo fiscal, isto é, cobrar para subsistir.
ResponderEliminar«A nostalgia do estatismo, essa, não levará a lado algum»
ResponderEliminarComo se não houvesse uma overdose em processo continuado!!!
O Jaime ainda não percebeu que nem John Blunt levou o Reino Unido à falência, porque raio havia de Corbyn fazê-lo? O BoE ficava sem bits para aumentar as contas adequadas? O BoJ, deve ser da tecnologia, tem tantos que qualquer dia dá overflow e vai a zero...
ResponderEliminarIsso e não se pode ter votos foram por causa do Brexit na eira e foram por causa das privatizações no nabal. Até porque esteve tudo muito caladinho quando uma certa alemã afirmou que mandava o mercado único às malvas para apoiar a indústria nacional, mas lá está, não é socialista já não causa 40 coisas más.
Quanto ao Ronaldo, o homem é um génio que descobriu como aumentando os impostos ao consumo se mantém a procura... ou isso ou o superávit vai sair um pouco ao lado.
Ser homem de recados num clube de ricos (e ter que engolir uns sapos de vez em quando) ainda vai sendo melhor que estar na esquina de mão estendida, e ter toda a liberdade de mudar de esquina...
ResponderEliminarMuito bem!
ResponderEliminarManuel Carvalho óbviamente é um bacoco ignaro, e é com um misto de piedade e pesar que o dizemos.
ResponderEliminarQuanto a Jaime Santos insiste em conhecer os "planos da pólvora" da esquerda contra a TINA. LOL
E continua a agitar o espantalho da inflação dos anos 70, como se não fossem esses ans de grande crescimento e melhoria das condições de vida das democracias ocidentais.
Para repetir "o problema" são os chamados regimes (inflacionista ou deflacionista) de que fala Mark Blith implícitamente neste curto video:
https://www.youtube.com/watch?v=oXK0Z-9ntEQ
Se Jaime Santos se cultivasse um bocadinho escusava de vir para aqui fazer figuras tristes. Mark Blith é muito claro ao apontar que a questão não é de oposição esquerda-direita strictu senso, mas do regime de incentivos incorporado nas regras e relações de poder criadas por indivíduos e entidades fora da tutela das instituições democráticas, bancos centrais à cabeça.
E mais Mark Blith em ritmo acelerado e com aquele sotaque escocês:
https://www.youtube.com/watch?v=NQGCoiakycQ
Ou a mesma mensagem de Mark Blyth com melhor som, portanto mais fácil de perceber:
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=wNAz55sY7iY
O Jose nunca se queixa do estatismo quando o estado lhe garante o negócio.
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