sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Um jornal que também expõe fracturas


“O que se passa com a universidade passa-se com os hospitais, a agricultura, os bombeiros, a escola, o estado das pontes. Em França, do mesmo modo que noutras paragens. Passados trinta e cinco anos de privatizações, de recuo da gratuitidade, de diminuição das prestações sociais, de controlos miudinhos em todas as áreas – obrigada, Internet –, chegámos a uma sociedade sob pressão, atordoada, no osso, que está a esgotar as suas últimas reservas. Uma sociedade com sectores inteiros que estão a sucumbir. A intervalos regulares, esta sociedade mostra o seu esgotamento, exprime a sua cólera. Pé ante pé, ela resiste à violência que os partidos de governo teimam em infligir-lhe, apesar de todas as alternâncias política.”
Serge Halimi, “Uma chacina”, Le Monde diplomatique – edição portuguesa, Dezembro de 2019.

“Se não desarmarmos as políticas neoliberais austeritárias com políticas públicas e um Estado social robusto, os neoliberais autoritários aí estarão, já dentro do Parlamento, prontos a explodir o que restar de políticas públicas e de Estado social. A fractura social é uma fractura exposta. Senta-se à mesa das famílias, arrasta-se pelas ruas, desespera nos locais de trabalho, quebranta nos hospitais. E tem de ser reduzida, estancada, já no próximo Orçamento do Estado.”
Sandra Monteiro, “Uma fractura social exposta”, Le Monde diplomatique – edição portuguesa, Dezembro de 2019.

Para lá de excertos dos dois editoriais, que podem ser lidos na íntegra no sítio do jornal, deixo por aqui o resumo do número de Dezembro:

“Na edição de Dezembro, a economista Ana Cordeiro Santos analisa o agravamento que a crise da habitação traz à crise da reprodução social, e o que é preciso fazer para inverter a situação. José Castro Caldas trata de uma outra crise, a do trabalho e dos salários, para compreender que políticas de recuperação de rendimentos podem reverter o lastro do «ajustamento interno». Gonçalo Leite Velho e Filipa Vala reflectem sobre o programa do governo para a Ciência e Ensino Superior, mostrando como a insistência no modelo liberal de financiamento e produção do conhecimento compromete a própria inovação. Manuel Pedro Ferreira traz-nos José Mário Branco, abrindo as portas do seu arquivo.

 No internacional, destaque para a dramática situação no Chile, com um artigo do escritor Luis Sepúlveda, para o golpe de Estado na Bolívia e para a sublevação na Argélia. A relação das mudanças de regime com os grupos que as preparam, nesta era da desestabilização pela «não-violência activa», dá-nos uma dimensão global destes processos. Na Europa, indagamos as «viragens» na política externa francesa e analisamos o processo norte-irlandês no contexto do Brexit. Questionamos ainda o que está por detrás de casos de «epidemia» de administração de Ritalina nas escolas. E muito mais.”

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