segunda-feira, 9 de dezembro de 2019
Super
Com a confiança de quem sabe qual é a natureza da economia política dominante e das redes sociais que lhe são indissociáveis, Paula Amorim e Miguel Guedes de Sousa abriram um clube para super-ricos em Lisboa.
Para lá do porno-riquismo, Paula Amorim encarna pelo menos três outras dimensões do capitalismo realmente existente: o capitalismo fóssil, o capitalismo de herdeiros e o capitalismo monopolista, de super-lucros, capaz de todas as arbitragens fiscais, graças à europeização, o nome da globalização mais intensa no continente. É o capitalismo depois do fim da história, sem freios e contrapesos e sem medo.
Numa sociedade cada vez mais intensamente capitalista, onde o nexo-dinheiro se imiscui em cada vez mais esferas da vida, cada vez mais coisas valiosas são sacrificadas, incluindo a verdade cada vez mais subversiva. É que o capitalismo, cada vez menos funcional, exige doses cada vez mais cavalares de intoxicação ideológica para a sua sustentação política.
Nem os jornais ditos de referência escapam a esta exigência. Por exemplo, o jornal que leio, o Público, faz fretes à Galp de Paula Amorim ou a outras empresas e o seu director é capaz de assinalar em editorial uma presente “era em que o discurso político dominante abomina o lucro e desconfia da iniciativa privada”.
O discurso político dominante não faz outra coisa que não seja incensar o capital. Um jornalista tem a obrigação de saber que ainda são minoritários e com escassa capacidade de influência os que podem ver as suas posições assim caricaturadas por um ideólogo, mas talvez os que estão na primeira linha da defesa deste status quo insustentável sintam primeiro o perigo da era que aí vem, já que os super-ricos parecem viver num eterno presente. Talvez tenham boas razões para isto. Talvez não.
Haja optimismo, esperança, fé, o que quiserem, no meio de tantas e tão fundadas razões para se ser pessimista, para se deixar o deprimente realismo capitalista levar a melhor.
Se os pelintras da política não forem convidados para sócios, com descontos, vou acreditar que seja um club exclusivo dos ricos. Se assim não for é que fico preocupado.
ResponderEliminarPor mim não tenho nada a opor, como nada tenho a opor a um clube de pelintras num outro bairro qualquer.
«A Teoria da Classe Ociosa. Publicado em 1899»
ResponderEliminar1899, aqui na paróquia Lusitânia, seria tempo de teorizar de forma semelhante a bancarrota de 1893 em Portugal, após a década de oiro dos anos 1880/90,
causas e efeitos, com comerciantes e industriais sempre a facturar.
Interessante descrição agora de Lisboa como província do Centro europeu,
após a 'retoma' pós ameaça 2009.
O regresso do Triunfo dos Porcos.
«Jose» o maior pelintra dos comentadores.
ResponderEliminarNão é o arrancar de roupas perante o comportamento ostentatório que lhe fará ganhar um voto, João Rodrigues. Não julgue as pessoas por estúpidas, porque elas não se deixam enganar por este luxo piroso (os ricos a sério sabem aliás que o segredo é a alma do negócio).
ResponderEliminarAquilo que as pode convencer é um programa político sério, realista, exatamente, capaz de quantificar os riscos e as oportunidades. Como dizia o João Ramos de Almeida na outra peça sobre corrupção, o que falta ao Estado e à Esquerda é, embora ele não use a palavra, tecnocracia. A Ideologia não chega, até porque nisso a Direita é muito melhor do que você...
Andar a prometer tudo a todos, a la Corbyn, não o leva a lado nenhum, veja-se o triste estado do Labour nas sondagens. A falta de inteligência tática do líder trabalhista e a sua sonsice durante a campanha do referendo vão fazer com que o Brexit permita a instalação no poder de uma Direita que faz Merkel parecer uma esquerdista. Como dizia o Telegraph aqui atrasado, Brexit was never about Brexit...
Ah, que grande dose de soberania a classe trabalhadora inglesa está prestes a recuperar!
Andar a indignar-se sem nexo contra uma UE que mantém apesar de tudo alguns instrumentos que permitem a defesa de direitos laborais e ambientais, também não.
Porque de uma coisa pode ter a certeza. O Centro-Esquerda sem o qual jamais alguém ganhará uma eleição que seja, nunca vai votar naquilo que você deseja, chame-lhe intoxicação ideológica ou o que quiser, percebeu?
Quer a Direita no poder por muitos e bons anos? Continue a martelar no que diz...
E, sobretudo, trabalhadores mantende a bola baixa, não é D. Jaime? Os Amorim não são ricos a sério?! Realmente, alguém nos anda a querer comer por estúpidos...
EliminarMais uma filial do Bilderberg? É para acolher o Pompas e o Netay quando vem reunir em Portugal com o Costa? É o quintal deles...assim se divertem todos enquanto rebentam com o planeta...quem nos salva destes vampiros?
ResponderEliminarhttps://www.dn.pt/poder/-paula-amorim-leonor-beleza-carlos-carreiras-no-bilderberg-a-portuguesa-de-balsemao-10153949.html
https://www.osentinela.org/andre-marques/bilberberg-2019-o-que-devemos-saber/