segunda-feira, 14 de outubro de 2019
O 'Nobel' de 2019
Todos os anos há uma pequena comoção em torno do ‘Nobel’ da Economia atribuído pelo Banco Central da Suécia, comummente confundido com os Nobel concedidos pela Academia Sueca.
Este ano, os laureados são Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer. Sublinha-se, e bem, que é apenas a segunda vez em 51 anos que o galardão é atribuído a uma mulher. Mas importa também notar que, como frequentemente acontece, todos os premiados são provenientes de universidades norte-americanas.
Mas atentemos à economia política do prémio de 2019.
Este ano distingue-se trabalho no campo da economia do desenvolvimento. Parece politicamente progressista. Desta vez não temos o elogio à abstracção formal e matemática da ciência económica. Pelo contrário, enaltece-se “uma nova abordagem ... ao combate à pobreza global”, que consiste, por um lado, na “divisão” deste tremendo problema em pequenas questões, como a melhoria do desempenho escolar das crianças e a saúde infantil, e, por outro lado, no teste experimental de medidas de política.
O que discuto aqui não é o mérito destas medidas, consideradas isoladamente e nos seus próprios termos. Mais educação e melhor saúde infantil são objectivos meritórios, mesmo que sejam prosseguidos através de medidas de natureza micro e não tanto de alterações ao nível dos sistemas de provisão. E nem sequer vou agora questionar a utilização do método experimental junto de populações pobres, mesmo que tal seja discutível do ponto de vista ético. Ou sequer a eficácia destas medidas no médio e longo prazos, quando os incentivos são descontinuados.
Como já tivemos oportunidade de argumentar, aqui e aqui, o principal problema destas iniciativas é que se apresentam como alternativas a outras de carácter mais macro-estrutural e que visam, como era prática na boa tradição da economia do desenvolvimento, as causas dos círculos viciosos de pobreza. A nova abordagem que agora se enaltece lida, pelo contrário, com os efeitos da pobreza, através de paliativos dirigidos e demasiado centrados na lógica dos incentivos, deixando o quadro institucional intacto. Por outras palavras, esta abordagem não faz mais do que ajudar os pobres a viver na sua mais ou menos irremediável condição.
É por isso que o ‘Nobel’ não é progressista e que as abordagens e as políticas capazes de lidar com a pobreza noutros termos não chegarão, pelos menos nos próximos tempos, a ‘Nobel’.
Um prémio organizado pela banca para obter legitimidade que não tem não pode dar noutra coisa a não ser a continuidade do que já existe.
ResponderEliminarA culpa é de quem lhe dá credibilidade... E o mesmo se pode dizer do Nobel verdadeiro, muitas vezes outro belo exercício de branqueamento de bestas a fazer de humanos.
Nem mais
EliminarOs pontos nos is
ResponderEliminarSempre necessários
O próximo nóbel é para a Sra Jonet.
ResponderEliminarPosso lançar-lhe um desafio para um post futuro?
ResponderEliminarSugira outro nome que considere merecedor deste Nobel e justifique
Esta história de fulanização de um nome para o Nobel...
ResponderEliminarUma fraude
Chamem-lhes ultra Liberais que é o que eles são
"Sublinha-se, e bem, que é apenas a segunda vez em 51 anos que o galardão é atribuído a uma mulher."
ResponderEliminarNão percebo porque é que é bem ser atribuído a uma mulher. Contribui com mais eficácia para resolver os problemas que a seguir menciona? Ou desde que seja mulher os efeitos que refere já não têm importância? Interessa o sexo do recipiente ou as ideias que defende, ou o efeito que tem?
De certa forma interessa o género porque é verdadeiramente escandaloso este número
EliminarNão é de todo crível que em todos estes anos apenas uma mulher até agora tenha tido o “ mérito” para conseguir este “Nobel”
Há aqui alguma coisa que não bate certo e que confirma que este galardão é um instrumento para coisas mais sórdidas
São ultra liberais e há que lhes dizer na cara
Como sempre o progressismo é medido pela grandeza das proclamações a que corresponde zero de actividade útil
ResponderEliminarO primado da treta é o verdadeiro 'progressismo'.
Economia do desenvolvimento! Nos bastidores a economia é outra...a da acumulação primitiva! Falta crescimento politico e não desenvolvimento econômico.
ResponderEliminar"o progressismo é medido pela grandeza das proclamações a que corresponde zero de actividade útil"? Como sempre?
ResponderEliminarMas que treteiro é este?
Eis uma frase que se quer assumir grande,assim uma grandeza de proclamação. Como se vê, de actividade útil, zero
E de progressismo nada
Eis o triste primado da treta.
Infelizmente é a "isto" que está reduzido o debate político-ideológico do "nosso" paupérrimo,inculto e iliterato patronato