quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Houston, we really have a problem

Com a maior dispersão de votos nas eleições do passado domingo (a par das alterações na distribuição do número de deputados nos círculos do continente) e continuando a não existir um círculo nacional de compensação, o número de boletins depositados nas urnas, mas que não contam rigorosamente nada para eleger deputados, aumentou de forma significativa face a 2015. De facto, passou-se de cerca de 470 mil votos «inúteis» (9,4% dos votos válidos, a rondar os 5 milhões), para 626 mil (que representam 13,4% dos cerca de 4,7 milhões de votos válidos).

Estando o sistema eleitoral desenhado para favorecer os maiores partidos, este défice de representação atinge hoje patamares inaceitáveis em vários círculos, onde ir votar e não votar PS ou PSD significa, na prática e de antemão, um voto deitado ao lixo. Com efeito, o peso da votação em partidos que não elegem à escala do círculo (e que não é recuperada através de um círculo de compensação), chega a superar os 30% em casos como o de Beja, Évora e Portalegre (onde a maioria dos votos não contam para eleger), registando-se ao mesmo tempo um aumento da proporção de votos «desperdiçados» em praticamente todos os círculos (com a exceção de Lisboa, cujo valor desce para 4%, e do Porto, que se mantém nos 7%).


Dada a distribuição de votos por partidos de menor dimensão nos círculos mais pequenos (onde se elegem apenas entre 2 a 3 deputados), é de admitir que uma parte significativa do eleitorado ainda não se tenha apercebido que o seu voto (quando não «entregue» aos maiores partidos) é um voto inútil para a distribuição de assentos no Parlamento. Constatar esse facto será contudo apenas uma questão de tempo, pelo que importa dar prioridade máxima à criação de um círculo de compensação nacional, que reconheça o efetivo valor democrático de cada voto e que ajude a travar, também por esta via, o aumento da abstenção.

12 comentários:

  1. Não seria interessante expressar este mapa em valor absoluto de votos? A percentagem é muito enganadora...

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    1. Sim e não. Nim. 🙂
      O número de votos é obviamente importante mas a percentagem é mais.
      A questão é que os 4% dos votos perdidos em Lisboa muito provavelmente são mais votos em quantidade do que os 30% perdidos em Beja, mas perderem-se 30% dos votos num círculo eleitoral é mais grave que 4%

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  2. É inaceitável que haja votos que não contam para eleger deputados,um que fosse era muito, o que está a descrever é um atropelo ao regime democrático, e espanta esta realidade ser entendida como razoável e normal. Há demasiada gente que convive muito bem com o défice de representação, talvez sintam que há algo a ganhar com isso.

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  3. Anónimo das 15:01, Provavelmente porque interessa aos partidos do arco da governação.

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    1. Não so a esses. Aos outros tb nao interessa taticamente abrir essa caixa de Pandora (revisao da lei eleitoral) porque esse processo pode conduzir a um golpe politico do PS e PSD para acabar com a representacao multipartidaria no Parlamento, designadamente pela introducao dos circulos uninominais. Salvo erro,o CDS conseguiu impedir uma das ultimas tentativas... portanto,m aisvale nao mexer no assunto.

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  4. Um deputado do PS representa 17.608 eleitores.
    O deputado da Iniciativa Liberal representa de 66.435 eleitores.
    Quado votam uma moção na Assembleia da República o voto de um vale o mesmo que o voto do outro.
    Vota-se Democracia ou Estabilidade ?.

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    1. Um voto na iniciativa liberal é um voto fraudulento. Uma espécie de voto numa casa que ê dada como nova mas não passa de uma casa já com muito uso usada por pessoas pouco recomendáveis que dela tentam sacar mais proventos
      Publicidade enganosa

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  5. Uma pergunta para o Nuno Serra: nao percebo como calcula os votos desperdicados em Lisboa.
    Em Lisboa, todos os partidos que elegeram deputados elegeram tambem a nivel nacional.
    Se as pessoas votaram em partidos que elegeram deputados, onde estao os votos desperdicados?
    Em Vila Real, sim, ha pessoas que votam no candidato do CDS que nao elege ninguem, e ai pode dizer-se que ha votos desperdicados no CDS, por nao haver um circulo nacional para os aproveitar, se houvesse ja valiam.
    Nao percebo o caso de Lisboa.
    A nao ser que esteja a dizer que os votos nos partidos, que nao elegeram deputados, sao desperdicados porque se houvesse um circulo nacional seriam aproveitados. Sera isso?

    Luis Alves

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  6. Caro Luís Alves,
    Os votos «desperdiçados» em Lisboa correspondem aos votos em partidos que, tendo concorrido no círculo de Lisboa, não elegeram qualquer deputado. Ou seja, estamos concretamente a falar de partidos como a Aliança, o PCTP/MRPP ou o PURP (são, no total, 11 os partidos que não elegem em Lisboa). A questão que se coloca é a de saber se, com um círculo de compensação, estes partidos (somando as votações em todos os círculos) poderiam ou não eleger.
    Cumprimentos,
    Nuno Serra

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  7. Nuno, obrigado. Era o que desconfiava.
    Por brincadeira, ha 2 dias fiz o calculo dos deputados que seriam eleitos se so houvesse um circulo nacional e se os deputados eleitos fosse proporcionais ao numero de votos. Nesse caso, haveria 15 partidos com deputados eleitos. A Alianca elegeria 2 e o MRPP outros 2! O PS elegeria apenas 88 e o PSD 67. Facil fazer as contas.
    Mesmo sem se alterar o sistema para um unico circulo, deveriam pelo menos juntar-se alguns distritos e aumentar-se o numero de deputados a eleger. Parece uma aberracao haver distritos que so elegem 2 ou 3 deputados quando sabemos que ha pelo menos 4 grandes partidos que contam, ja nem falo em defender o MRPP ou o Alianca. Temos um sistema muito pouco democratico, devido talvez a alguma ignorancia e falta de numeracia dos nossos politicos.

    Luis Alves

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    1. Quais serão os quatro grandes partidos que contam?
      As contas feitas para percebermos para o que nos querem impingir

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  8. Deixaram de parte os círculos das regiões autónomas.

    Nos Açores são desperdiçados 33,3% dos votos.

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