sexta-feira, 2 de agosto de 2019

O m€rito segundo Cristas

«Aquilo em que o CDS acredita é numa versão para a universidade da política que esse mesmo partido inventou para a imigração: o visto dourado. O visto dourado, ou “golden visa”, separava o imigrante comum dos mortais, a quem todos os obstáculos se poderiam levantar, do imigrante rico que se poderia acolher de braços abertos se gastasse meio milhão de euros, muitas vezes a branquear capitais, no mercado imobiliário. Agora o que o CDS defende para a universidade é a mesma coisa: para os comuns dos mortais, o esforço de ter as notas mais altas; para quem pode, então que entre pagando um “golden visa” na universidade.» (Rui Tavares)

1. Os problemas e contradições da proposta do CDS-PP foram já sinalizadas aqui pelo João Rodrigues e no Público por Rui Tavares, ou ainda aqui, pelo José Gusmão. Da ideia de que tudo se compra e tudo se vende à noção de que mérito e dinheiro são uma e a mesma coisa, passando pelo propósito de introduzir lógicas privadas no ensino público e pela subordinação de princípios a interesses de classe. Nada que surpreenda, num partido que já nos habituou a defender uma coisa e o seu contrário, consoante a conveniência do momento.

2. Para lá destas questões, subsistem outras perplexidades e equívocos. A ideia de permitir que um aluno possa pagar, a «preços de mercado», a frequência de um curso para o qual não obteve média de ingresso, sugere que a oferta pública de ensino superior é ainda insuficiente, justificando uma medida deste tipo. Sucede, porém, que o volume de oferta formativa se encontra desde 2000 alinhado com o da procura (ver gráfico), registando-se apenas, desde então, oscilações entre o número de vagas e candidatos (e em que o número de candidatos tende aliás a ser inferior às vagas existentes). Ou seja, o que o CDS pretende não é permitir ingressos adicionais pagos para responder a eventuais insuficiências do sistema, mas tão só permitir o acesso a alunos com notas (de euro) mas que não têm notas (escolares) para entrar.

3. Por outro lado, o argumento de que existe já o precedente de alunos estrangeiros a frequentar o ensino superior público português, pagando os cursos a preço de mercado, também não colhe, uma vez que estes alunos estão igualmente sujeitos - ao contrário do que o CDS de Cristas sugere - a numerus clausus. De facto, dos cerca de 800 candidatos em 2018 apenas 600 ingressaram no ensino superior público português. Ou seja, tal como no caso dos alunos nacionais - e ao arrepio do que pretende Cristas - não bastou «pagar para frequentar»: foi mesmo preciso ter média para garantir o ingresso. Aliás, a taxa de colocação de alunos estrangeiros (75% em 2018) é inferior à registada no universo de nacionais (81%), dado o maior peso relativo de estudantes não colocados por média insuficiente.


4. Por último, se o que inquieta Cristas e o CDS são as médias elevadas em alguns cursos (como medicina e arquitetura, por exemplo) e se o que o partido pretende é um aumento do acesso ao ensino superior público (e não do acesso ao privado, curiosamente) proponham o aumento de vagas e a expansão da oferta formativa, assumindo um compromisso com o respetivo investimento e fundamentação das necessidades. Isto é, comprometam-se com o reforço das dotações orçamentais do ensino superior público, respeitando as médias como critério de entrada e deixando de lado o vício dos cheques-ensino.

22 comentários:

  1. A oferta de cursos da treta é a única excedentária.
    O que a Cristas diz é se o que é válido para estrangeiros não o pode ser para portugueses.
    E tudo se agita entre os novel defensores da meritocracia!
    O ponto crucial é o horror a que ter dinheiro traga vantagens; para haver vantagens tem que ser reconhecido como coitadinho.

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  2. aumentar o nº clausus em medicina e ofender a ordem dos médicos? heresia

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  3. Tudo se agita?

    Aqui principalmente o jose

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  4. O ponto crucial é a hipocrisia e o ranço

    Não,não se trata de "novel defensores de meritocracia". Trata-se sim do escangalhar, vertido e impotente, pífio e patético, do discurso mantido durante tanto tempo sobre o mérito individual e a dita meritocracia.

    Basta acenar com um punhado de euros e é vê-los a agitarem-se, num frenesim que faz jus ao verdadeiro alfa e omega para estes tipos.

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  5. Mas há mais alguns pormenores importante

    Veja-se como jose acaba por defender o porno-riquismo desta forma tão patética, reivindicando, crispado, irado e descabelado, as vantagens que o dinheiro possa trazer.

    Eis a defesa das quotas em função dos euros.

    Veja-se como jose, na conversa da treta sobre os"coitadinhos", acaba por defender afinal os seus coitadinhos, que não vêem o poder do dinheiro ser reconhecido comme il faut

    O espectáculo é francamente deprimente.

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  6. Em relação ao seu ponto 2 e ao gráfico estamos perante uma falácia porque uma coisa é o cômputo geral como nos apresenta, outra coisa é ver curso a curso. S

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    1. A resposta à sua observação está no ponto 4 do post, Aonio Eliphis

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    2. Aonio eliphis Pedro Pimentel Ferreira.

      Ele próprio uma falácia em andamento

      Também ele um defensor empenhado de madame Cristas e da meritocracia dos euros
      E sempre vigilante para protecção da coisa

      Pena estas entradas de leão corresponderem sempre a saídas de sendeiro

      E mais algumas outras coisas

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  7. Lá chegaremos com o anunciado fim dos exames do 12º ano.

    E os exames são um mal menor face ao que pode vir a acontecer se eles acabarem.

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  8. Esta proposta de vistos gold para o ensino superior está aquém da divisão esquerda direita, trata-se de uma questão de respeito ou não respeito pelos valores básicos de organização social. Ler o que dizem José (s) e Joselito (s), faz arrepiar qualquer democrata.

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  9. O arrepio não tem a ver com ser ou não democrata.
    O arrepio é a mera evidência de que é com dinheiro que se sustenta o ensino público, e que o dinheiro estrangeiro é bom para o comprar e o nacional é bom para ser sacado mas não para trazer vantagem a quem o tem.
    A esquerda e o dinheiro é uma história de amor/ ódio, uma novela de arrepiar.

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  10. José como de costume equivoca-se.

    O que está em causa é o que é passível de ser comprado pelo dinheiro e o que deve ser atribuído segundo o mérito. A direita com falta de medula como de costume é muito lesta a transformar em mercadoria aquilo que devia permanecer na esfera da moralidade social.

    José faz lembrar aquela senhora fina a quem foram feitas propostas cada vez mais altas para ter sexo com un desconhcido. Por 1000€, nem pensar! Por 100.000€, huummm, não. Por 1 milhão? Hee... Bem... Claro que sim!

    Quando o dinheiro se sobrepõe aos escrúpulos meritocráticos ou outros, ao José tal como à senhora da anedota podemos dizer: "Puta já nós temos, falta-nos é o dinheiro para lhe pagar!"

    S.T.

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  11. Conheço uma aldeia que vive uma situação paradoxal em matéria de abastecimento de água.

    Tem uma nascente pública de excelente qualidade e com capacidade para abastecer toda a aldeia, com infraestruturas (depósitos) construídos mas que é obrigada a comprar a sua água de abastecimento a uma empresa regional privatizada.

    A nascente pública está a correr para um ribeiro para que os privados possam facturar.

    Esta lógica de mercadorização das coisas, de tudo o que possa ter um preço, é quiçá a maior das perversidades da praxis neoliberal.

    S.T.

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  12. "A esquerda e o dinheiro é uma história de amor/ ódio, uma novela de arrepiar."

    Nem mais, a esquerda está para o dinheiro como o drogado para a droga: odeia-a porque sabe conscientemente que representa o mal do mundo, mas não passa sem ela; protesta contra a austeridade esquecendo-se que nenhuma sociedade socialista sobrevive sem austeridade, quanto mais dinheiro tem mais quer; todas as suas "lutas" são na prática lutas por e pelo capital; luta pela igualdade mas é pródiga a criar castas, mormente público vs privado sendo que os primeiros vivem à custa da extorsão aos segundos.

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  13. Oh ST e como é que a água da nascente vai para a casa das pessoas? Pelo ar!? Este ST lembra o pantomineiro Sòcrates que nos dizia que as renováveis eram maravilhosas porque "o vento e o sol são de borla"!

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  14. Curiosamente é até da talvez mais neoliberal das nações que nos vem um exemplo de que nem tudo pode ser comprado com dinheiro e que há limites legais que não devem ser ultrapassados:

    O caso já fez correr rios de tinta e palletes de bits. Eis alguns links de artigos sobre o escândalo:

    https://www.theatlantic.com/ideas/archive/2019/04/what-college-admissions-scandal-reveals/586468/

    https://www.forbes.com/sites/zackfriedman/2019/04/04/college-admissions-scandal-update/

    https://www.vox.com/2019/3/15/18264399/college-admissions-scandal-lori-loughlin-cheating-huffman

    Este último artigo salienta a psicologia da gente rica americana de todos os quadrantes partidários, saliente-se, que considera como José que tudo é susceptivel de compra ou venda.

    Aparentemente escândalos como este em vez de fazerem repensar os mecanismos de controle que ponham travão à compra de poder por parte das elites económicas, ainda impulsiona políticos como a Sra Cristas a tentar tornar legal aquilo que é injusto e censurável. Chama-se a isso ter um monumental descaramento.

    S.T.

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  15. Vale a pena traduzir alguns excertos:

    "Bribing your kids’ way into school perpetuates the myth of meritocracy"

    "Subornar o caminho de seus filhos para entrar na universidade perpetua o mito da meritocracia"

    "Parents may have justified using Singer’s “side door” for admissions as “business as usual,” Kraus said — especially since there are plenty of legal ways that people with money can de facto buy their kids’ way into school."

    "Os pais podem ter justificado o uso da" porta lateral "de Singer para as admissões como" negócios como de costume ", disse Kraus - especialmente porque há muitas formas legais de pessoas com dinheiro poderem de fato comprar a entrada dos filhos na escola."

    "But in addition to taking up spots that could be filled by students who worked hard for them, the practice of gaming the system to get your kids into college may reinforce some of Americans’ most deeply held misconceptions about wealth and social standing, experts say."

    "Mas, além de ocupar lugares que poderiam ser preenchidos por estudantes que trabalharam duro para os obter, a prática de viciar o sistema para colocar seus filhos na faculdade pode reforçar alguns dos equívocos mais profundos dos americanos sobre riqueza e posição social", dizem especialistas."

    "The idea that wealthy people have all worked for and deserve their wealth is “a sacred value in this country,” Piff said."

    "A idéia de que pessoas ricas trabalharam e merecem a sua riqueza é" um valor sagrado neste país ", disse Piff."

    “That’s kind of baked into the American dream,” he explained — and if we believe that rich people earned all their money, we’re more likely to put up with a big gap between rich and poor."

    "Isso está como que embutido no sonho americano", explicou ele - e, se acreditarmos que os ricos ganharam todo o seu dinheiro, é mais provável que aceitemos uma grande fosso entre ricos e pobres."

    "By allegedly paying to get their kids into schools they wouldn’t have been admitted to on their own, parents accused in this scandal may have been perpetuating this myth of meritocracy."

    "Ao supostamente pagarem para fazerem os seus filhos entrar em escolas onde eles não teriam sido admitidos sozinhos, os pais acusados neste escândalo podem ter perpetuado esse mito da meritocracia."

    Continua

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  16. Continuação

    “You have, basically, a lot of unearned privilege for people at the top who don’t even know that they have unearned privilege,” he explained. “And then other people have to interact with them.”

    "Temos, basicamente, muitos privilégios imerecidos para pessoas no topo que nem sequer sabem que têm privilégios imerecidos", explicou ele. "E então outras pessoas têm que interagir com eles."

    "But now, Piff said, the admissions scandal could cause a lot of people to reevaluate their beliefs about wealth and success, as Americans realize how rich people can buy things — like college admission — that others have to work hard to get."

    "Mas agora, disse Piff, o escândalo das admissões pode fazer com que muitas pessoas reavaliem suas crenças sobre riqueza e sucesso, já que os americanos percebem como as pessoas ricas podem comprar coisas - como a admissão na universidade - que os outros precisam trabalhar duro para conseguir."

    “The moment we start kind of questioning the idea that this is a meritocracy,” he added, “our tolerance for economic inequality begins to kind of crumble.”

    “No momento em que começamos a questionar a idéia de que isso é uma meritocracia”, ele acrescentou, “a nossa tolerância à desigualdade econômica começa a desmoronar”.

    Percebem por que é importante não deixar passar as descaradas atoardas do José?

    S.T.

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  17. Tantos anos tantos que jose andou por aí a cantar as virtudes do mérito e da meritocracia...

    Não tinham ainda agitado o maço de notas adequado ao jose, que justificasse o mandar às malvas as suas virtudes meritocráticas e outras tretas do género.

    De arrepiar.

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  18. Em resposta ao "Tiago", na aldeia em questão todas as infraestruturas necessárias tinham sido criadas anteriormente à privatização. Por isso não havia nem há nenhuma razão para os habitantes terem que pagar por um recurso que está a ser pura e simplesmente desperdiçado.

    E lá vem a história da carochinha da "extorsão" de que os "coitadinhos" dos privados são vitimas.

    Acontece que para a direita o capital e a sua apropriação é que é, de facto, um vício poderoso. É uma droga tão poderosa que é levada ao extremo de quantidades crescentes de acumulação nos 1% do topo serem o maior travão ao crescimento económico nas sociedades neoliberais.

    Mais uma vez se revela a missão destes nicks: Pura propaganda de uma ideologia que apenas se sustenta na ignorância e na mentira.

    S.T.

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  19. Tiago Pedro aonio eliphis pimentel ferreira.

    O assalto à rex publica por parte dos interesses privados. Aqui tão canhestramente defendida por quem passa o tempo a papaguear e a papaguear-se

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