«As imagens televisivas do dia do referendo são impressionantes: arrepia a emoção de gente que, vinda a pé de longe, muitos descendo a montanha, enfrentavam as ameaças e o perigo anunciado para vir dizer, votando, que era a independência o futuro. Mas as memórias que tenho são também de incredulidade e revolta com o que se seguiu ao referendo. Os timorenses de novo em fuga para as montanhas em busca de refúgio ou levados para Timor Ocidental pelas milícias. (...) Timor foi para nós uma lição gigante de coragem. Tanto quanto sei, durante muitos anos, não faltou quem dissesse, em embaixadas e salões, que Timor era uma "causa perdida". (...) Com Timor, contudo e contra todas as probabilidades, o impossível aconteceu. E aconteceu nessa combinação entre a persistência dos timorenses, a insistência diplomática e a solidariedade internacional, para a qual foram decisivas as imagens recolhidas por quem não abandonou o território para garantir que o mundo sabia o que estava a acontecer. (...) Com Timor, aprendemos que o longe é aqui, que nada é impossível, que não estamos condenados ao terror. Hoje, passados 20 anos, penso em Timor. Mas não só. Penso na Palestina e nos presos políticos das nações sem Estado do nosso continente. Penso nos refugiados da Europa e nos indígenas da Amazónia. O longe é aqui. Oxalá se possa, contra a violência dos fortes e o cinismo dos desistentes, voltar a dar razão àquele verso ["a hora mais sombria é a que precede a aurora"] e, em tempos sombrios, precipitar alvoradas.»
José Soeiro, A hora mais sombria
Que pensem em todos os que antes de Timor nada puderam dizer...
ResponderEliminarCom as devidas distâncias mais uma vez, isto é conversa de pitonisa generalista, como todas as pitonisas, aliás.
EliminarEstá-se a falar concretamente de Timor e de todos os casos, como a Palestina, em situação semelhante
Vir para aqui com generalidades um pouco balofas, como esta espécie de credo, é objectivamente diminuir o que se denuncia e desprezar a dignidade de quem soube lutar
Como se a meio de uma homenagem a quem foi torturado, alguém se levantasse e dissesse:
- O irmão da sogra da minha mãe também faleceu há exactamente quatro anos, sentado no sofá a ver a telenovela. Pensem também nele
O que é pena é isto poder corresponder a uma estratégia delineada, para desviar do significado do que se denuncia e para arvorar ares de crente em oração
E pensar que este massacre foi orquestrado pelos americanos com a CIA a dirigir. Como sempre. A ganancia sempre à frente.
ResponderEliminarPois
ResponderEliminarForam calados pelo fascismo. De forma violenta e abjecta
Belo texto.
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