1. Circula por aí um gráfico que sugere que a «devastação da Amazónia» foi «bem mais severa durante os governos "progressistas" de Lula e Dilma», surgindo o governo de Bolsonaro com o menor valor de área ardida desde 2003. Sucede, porém, como se demonstrou aqui, que o autor do referido gráfico compara valores anuais totais entre 2003 e 2018 com os valores parciais de 2019 (janeiro a julho), induzindo os leitores em erro.
2. De facto, quando se analisa - como é suposto - a evolução em termos homólogos (neste caso de janeiro a julho), obtém-se para 2019 o valor mais elevado de área ardida na série temporal anual disponibilizada pelo INPE (ainda sem os dados de agosto, o mês claramente mais severo até agora). Isto é, cerca de 33 mil Km2 de área ardida em 2019, que representam quase o triplo do ano anterior (12 mil Km2) e mais do dobro da média registada no período 2003-2019 (15 mil Km2/ano), com o valor mais próximo (cerca de 31 mil Km2) a verificar-se em 2004.
3. Aliás, o aumento vertiginoso da área ardida em 2019 está em linha com o acréscimo do número de focos de incêndio registado até 26 de agosto (cerca de 43 mil, que traduzem um aumento de 129% face ao valor homólogo de 2018), atingindo-se assim o registo mais elevado desde 2010. E também em linha com o aumento da área de desmatamento, que se estima possa vir a atingir cerca de 14 mil Km2 no final do ano, que representam - nesse caso - um aumento de 81% face a 2018 e o valor mais elevado desde 2006.
4. Como é óbvio, o problema da desflorestação da Amazónia não surge apenas agora, com Bolsonaro. A questão é que tudo aponta para uma clara inversão da tendência de menor pressão sobre a floresta, registada desde 2005. De facto, quando se comparam os valores médios mensais de área ardida nos últimos 17 anos com os de 2019, verifica-se um brutal aumento em julho, que triplica o valor médio do período. Da mesma forma, se o nível de desmatamento nos últimos três anos e em 2019 é semelhante até abril, ocorre desde então uma divergência de valores, atingindo-se os 2,3 mil Km2 em julho passado (mais do dobro da média registada entre 2017 e 2019).
5. Sem surpresa, estes dados traduzem a concretização da política de Bolsonaro para a Amazónia, centrada numa exploração sem escrúpulos nem limites e em ganhos de curto-prazo, criando as condições para o ecocídio a que se refere Jonathan Watts no The Guardian. É em nome dessa política que Bolsonaro nomeou para o Ambiente um ministro condenado por fraude ambiental, minou o Ibama e demitiu o diretor-geral do INPE (responsável pelos dados de satélite sobre a destruição da floresta), alienou os apoios financeiros da Noruega e da Alemanha, atacou verbalmente as comunidades indígenas (incentivando os ataques de fazendeiros e mineiros), ou ignorou os alertas sobre a «operação dia do fogo», engendrada por agricultores e «grileiros» e marcada para 10 de agosto. Números e factos que retiram qualquer credibilidade à ideia de que a maior ameaça da Amazónia não se chama Bolsonaro.
Quanto ao Bolsonaro não há muito a esperar.
ResponderEliminarMas quem tiver um efectivo interesse em proteger a Amazónia tem que cutucar o bicho no modo certo e não puxar dos discursinho esquerdopata como por aí há sinais.
Lei e Ordem é o lema do bicho? O 'dia do fogo' é desordem e já o ouvi referir o facto.
Mas ou a ideologia ou a sanha contra o homem, carregando outras cores, podem bem ser ameaça à Amazónia.
Uma coisa é sabida de ciência certa.
ResponderEliminarNem será necessário enumerar os países de muitos continentes onde desde sempre se tem verificado incêndios devastadores de grande dimensão.
Se a memória não falha nunca se viu um presidente ser vergastado até ao delírio como responsável dessas tragédias como agora se faz com o presidente brasileiro em exercício.
Por cá temos a soberana honra de nos ter calhado um presidente que nada sabe nem comenta antes de mandar apurar, a par de um chefe de governo que não é acusado de nada ou de coisa nenhuma por mais que gordos escândalos floresçam.
Nem com Portugal a arder ou a paz podre a pegar rastilho.
Caro Nuno Serra,
ResponderEliminarDispõe de numeros que permitam uma análise desagregada da incidência dos abates e queimadas por região bio-climática da bacia amazónica : rainforest, Cerrado, Caatinga, e respectivas transições?
Obg.
JRodrigues
Independentemente de tudo ainda a dizer
ResponderEliminarNão faz pena os estremeções de simpatia da tralha neoliberal por Bolsonaro?
Caro Nuno Serra,
ResponderEliminarQuando se refere á "floresta amazónica", qual é exactamente a area geográfica a que se está a referir ? Em concreto, está a considerar toda a bacia do Amazonas e a referir a savana do Cerrado como fazendo parte da floresta ?
Cump.
MRocha
Curiosamente não recordo de ter lido quem quer que fosse a dissertar sobre a incorporação obrigatória no gasoleo que usamos do biodiesel produzido com recuros à soja cultivada nas regiões que estão em causa, ou sobre os bifes que compramos nas promoções no Continente. Que bom que é ter um Bolsonaro para bode expiatório dos nossos pecadilhos.
ResponderEliminarRicardo
Esquerdopata?
ResponderEliminarEsse não era o termo em uso pelo torcionario torturador idolatrado por bolsonaro ? Também em uso pelo próprio bolsonaro?
E que jose tentou importar para cá? Sem sucesso como se vê. A menos que josé considere sucesso a sua utilização particular do léxico da canalha referida
Já agora repare-se que para este mesmo admirador confesso de torcionarios “a sanha” contra Bolsonaro é que “ pode ser ameaça à Amazónia”
ResponderEliminarComo também não é cómico ver o Rao Arques aonio eliphis etc etc saltar por cima do seu ídolo neoliberal, um canalha que faz jus a outros cangalhas históricos, absolvè-lo na passada, como já tentou fazer a outros canalhas, e tentar desviar o tema para Portugal, que por pior que esteja, está a anos luz da extrema-direita que governa o Brasil?
ResponderEliminarCuco, pensei em ti quando me lembrei do esquerdopata.
ResponderEliminarQue os hão, hão!
Mais uma vez se repete que o tema do post é a Amazonia. E bolsonaro e o governo fascista que lá impera
ResponderEliminarE não propriamente os pesadelos de josé ou os amores maternos
Vamos ser sérios e não fazer estas fitas de contorcionista dúbio, a tentar esconder os fogos que deflagram e se propagam
A sanha contra Bolsonaro é que pode ser ameaça à Amazónia????
ResponderEliminarAhahah. Temos um protótipo do Bolsonaro entre os comentadores do LdB
Haverá idiotas que pensam que levar Bolsonaro a recusar ajuda externa vai ajudar a Amazónia?
ResponderEliminarCumprirá a agenda dos 'lutadores' de bancada, mas nada em favor da Amazónia.
É evidente que os esquerdopatas não piam quanto a uma situação muito similar na Bolívia, onde as políticas de desflorestação foram aparentemente muito mais exxplícitas
ResponderEliminarÉ a sanha Senhor, ê a sanha. A culpa ê da sanha.
ResponderEliminarPorque será que o que parece ser pura indigência intelectual por vezes se traveste de desonestidade ideológica?
Ou será ao contrário?
Ou será tudo junto e mais alguma coisa?
Já agora apetece dizer a este jose, tão fanado defensor de bolsonaro, que idiota provavelmente é quem tenta vender a sanha como “”a ameaça da Amazónia”
ResponderEliminarNão é apenas idiota. É duma escabrosa cumplicidade com o dito
A sua posterior aflição comentarista confirma que este é mais outro registo memorável