segunda-feira, 22 de julho de 2019

Há perguntas que não se fazem


Ao longo de todo o século XIX, as estatísticas raciais alimentam a obsessão racial dos Estados Unidos (…) As diversas investigações, designadamente as conduzidas pelo Instituto Nacional dos Estudos Demográficos [francês], sobre discriminações face à habitação, à polícia, à justiça, ao emprego ou à escola mostram, contudo, que é possível produzir medidas precisas sobre as discriminações mesmo sem institucionalizar categoria raciais. Uma institucionalização que, nos Estados Unidos, transformou o recenseamento numa catadupa de reivindicações identitárias e de concorrências entre comunidades. Uma fonte de debates sem fim para resultados medíocres. 

Excertos do (in)formativo artigo – “Qual é a sua raça?” – de Benoit Bréville no Le Monde diplomatique – edição portuguesa deste mês. O chefe de redacção do jornal francês expõe as origens e as dinâmicas históricas racistas por detrás de uma pergunta manifestamente arbitrária e que, felizmente, não será feita no nosso Censos.

A vontade de importar perversas opções norte-americanas é absolutamente espantosa. A brutalidade da persistente desigualdade nos EUA não parece demover quem assim procede. É a isto que se chama hegemonia. A morte da hegemonia dos EUA é manifestamente exagerada.

Entretanto, Miguel Vale de Almeida, no Público de hoje, alinha com Francisco Bethencourt, referindo-se a uma “constituição colonial” que “ainda nos rege”. Miguel Vale de Almeida devia ter relido a nossa anti-colonial, anti-imperialista e anti-racista Constituição, a que realmente existe para lá das metáforas, antes de também fazer propostas de política paupérrimas. Lute-se antes pelo cabal cumprimento da nossa Constituição, no espírito da igualdade cidadã que é o seu.

Realmente, há hábitos intelectuais e políticos que parecem feitos para importar problemas, como já aqui denunciado, incluindo contribuir, na lógica do efeito perverso, para a formação de uma potente extrema-direita. Maria de Fátima Bonifácio teria então triunfado.

5 comentários:

  1. Os engenheiros sociais adoram o tema das raças!

    À parte as ideologias racistas de séculos passados que são o último refúgio de cretinos que se contam entre os racistas e os anti-racistas, tudo se resume ao que sempre é essencial: o que condiciona as relações individuais e o que condiciona as relações socialmente organizadas.

    Excluídos destas últimas condicionalismos atinentes à raça inscritos em leis e regulamentos, tudo se resume a saber o que na relação individual têm na raça uma condição discriminatória.

    Aí as notícias são más e defraudam as nobres intenções da engenharia social. A raça é menos reparável que o estado dos dentes, e se tiver por acréscimo uma cultura alienígena a coisa agrava-se.

    Mas há algo que horroriza o engenheiro social digno desse nome: propor ao discriminado qualquer iniciativa individual que favoreça a sua integração no grupo maioritário e dominante. Engenharia mesmo é actuar sobre esse imenso grupo, decompô-lo, fazê-lo às postas e acrescentar-lhe todos os retalhos de culturas e gostos que lhe possam surgir pela frente.

    E mais exaltante ainda, trabalhar para que conheça o que ainda não se apercebeu constar desse inventário universal de multiculturalismo, e se julga que não é racista, convém antes de mais que saiba que o é, para que a seguir possa ser instruído a não o ser.

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  2. Este palavreado todo aí em cima pespegado pelo jose é exactamente o quê?

    Um exercício onanista a justificar o seu projecto de engenharia social?

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  3. O resto é uma história polvilhada dos lugares-comuns deste tipo de gente:

    Como por exemplo este malcriado "último refúgio de cretinos" . Eis atestada a crispação e a irritação que assolou as Bonifácios destas e doutras regiões

    Ou como este outro exemplo sobre "o estado dos dentes" . Uma reflexão argumentativa perene. Rácica e idiota

    Poder-se-ia dizer que estamos na presença de mais um que se julga que não é racista, pelo que convém antes de mais que saiba que o é, para que a seguir possa ser instruído a não o ser.

    Mas francamente acho mesmo que se julga que o é, pelo que convém antes de mais que se saiba que o é, para que a seguir possa ser instruído a não o ser


    Estamos nisto. Em exercícios ornamentados para esconder o que é tão óbvio


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  4. Cuco, com as minhas palavras sempre consegues compor um texto aparentemente decente.

    Mas a substância é sempre a mesma...ruído.

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  5. Pobre jose.

    A pedantice idiota de quem acha que as palavras são pertença de alguém. Domadas à vontade dos donos, como tentaram fazer os censores de outras épocas, tão idolatrados por jose.

    Mas porque é a substância que interessa mesmo, temos uma má notícia para jose.
    Há quem esteja atento às lógicas perversas que tentam encher a maré da extrema-direita.

    E isso é algo que este jose não perdoa. Por isso aqui passa tanto tempo.

    A fazer ruído, pois então

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